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Aventuras do Dr. Bogoloff/I

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Sai de Odessa com as mais honestas e puras intenções de trabalho. Não era eu natural dessa cidade, mas desde muito ali vivia uma vida medíocre de professor quase sem alunos, vendo alguns rublos com intervalos de longos meses. Nasci em Kazan, onde meu pai tinha uma pequena loja de livros usados, mantendo-se bem mal com os parcos lucros que ela lhe dava.

Aquele contato com os livros desde o meu nascimento, deu-me "fumaças" e a inaptidão do intelectual de origem obscura para o esforço seguido, quando se choca com o meio naturalmente hostil. Não foi assim logo; antes, fiz o meu curso na Faculdade de Línguas Orientais da Universidade da cidade em que nasci, com certo vigor e muito entusiasmo. Aquela sórdida loja de meu pai, porém, foi para mim uma redoma de encantos, que me tirou toda a visão nítida da vida, visão da sua injustiça natural, da sua baixeza imprescindível, do horror da sociedade e da vida.

Anos passei dentro dos meus "indecentes sonhos" de quimeras e justiça e fraternidade, e eles se fizeram tanto mais fortes quanto eu lia a mais não poder, com a fúria de vício, com febre e terríveis anseios. Inutilizei-me.

Acabado o curso, eu não sabia fazer nada e levei alguns anos encostado a meu pais que continuava a ter uma admiração amorosa pelo filho inepto e inapto.

Toda manhã sonhava ir falar com fulano e com beltrano para obter um emprego em que o meu tártaro e o meu persa rendessem dinheiro, mas logo me vinha uma invencível repugnância de pedir, repugnância em que havia delicadeza de incomodá-los e orgulho de fazer-lhes sentir as minhas necessidades.

Era eu filho único, minha mãe havia morrido; vivíamos eu e meu pai sós na loja. Continuei a ler, mas a convicção que me veio de toda a ilustração era inútil para prover a nossa existência, diminuiu-me o ardor pela leitura e levou-me a procurar no café distrações e atordoamentos.

Desde a Universidade que conheci muitos revolucionários, sinceros, falsos e simulados; e, se bem que eu conversasse com eles, nunca tomei compromisso definitivo, nunca aderi, não foi tanto por temor à polícia e às masmorras, mas a certeza da excelência dos ideais revolucionários não me veio imediatamente.

Procurei lê-los, especialmente no príncipe Kroporkine, que era o escritor revolucionário que mais me interessava. O seu rigor lógico e a sua farta documentação davam aos seus livros alguma coisa de sólido e eu os lia.

Aborrecido, como dizia. dei em freqüentar os cafés e lá travei conhecimento com vários rapazes já enfronhados nas teorias anarquistas, tirando-me eles, aos poucos, as dúvidas que ainda pairavam no meu espírito. Não o fizeram sem que eu resistisse muito, mas, afinal, convenceram-me.

Em má hora, fiz tais conhecimentos e mantive semelhantes relações. Houve, por esse tempo, um atentado contra o governador da cidade e fui com muitos outros metido na cadeia. Era completamente estranho ao caso; mas na Rússia como em toda a parte, quando há dessas coisas, a polícia prende todo o mundo, todos "va-nu-pieds", todos os "rotos", porque há de encontrar, entre esses, alguns que percam a cabeça para que a majestade do Estado seja mantida.

Desgostou-se muito meu pai com essa minha prisão. Ele tinha uma inteligência simples e limitada. O lastro das gerações se tinha depositado na sua mentalidade, de forma a encarar a autoridade do Czar como sagrada. Para ele, o autocrata era ainda o "paizinho" e sofreu muito em ter notícia de que seu filho querido não participava dessa opinião e fosse ao extremo de tentar contra a vida de um representante da autoridade transcendente do déspota de S. Petersburgo.

Verificaram com grane desgosto que eu era absolutamente inocente no caso e soltaram-me. Meu pai nada me disse, mas viveu dois anos taciturno, macambúzio, olhando-me de quando de quando, de soslaio, com piedade e censura.

Veio a morrer; vendi-lhe a livraria e sai de Kazan. Saí, porque desde o tal atentado que a polícia não me deixava em paz. A Rússia não é governada pelo Czar, nem pelo Senado, nem, como em outros países, pelos Parlamentos, Ministérios, favoritas ou favoritos; a Rússia é governada pela polícia. O seu poder se estende sobre tudo e sobre todos, não perdendo ela de vista quem uma vez passou-lhe pelas mãos.

Vim para Odessa, onde me fiz professor particular. Não me foi fácil e nunca fiz franca carreira na profissão que adotei. Logo ao chegar, nada obtive e vivi graças aos remanescentes da venda da livraria de meu pai.

Um dia em que, aborrecido da pocilga da minha moradia, sai a esmo pelas ruas de Odessa, encontrei o meu antigo colega Karatoff. Era ele filho de um rico negociante de trigo e sempre se mostrou cético, indiferente, gostando de pândegas, onde empregava o seu ócio e as fazia ser o destino de sua vida.

Alexis Karatoff veio-me e falou-me:

— Querido Bogoloff, que fazes por aqui?

Disse-lhe a que vinha, contei-lhe as minhas desditas e ele tratou mesmo do caso do atentado.

— Não me importo muito com isso, meu caro Bogoloff. Embora burguês, como vocês me chamam, não tenho nenhum ódio de você, nem me proponho a combater as suas idéias. Se a coisa dependesse de mim, já estava feita e logo que vocês consigam destruir a ordem existente, estou pronto em aderir à nova. A verdadeira sabedoria, meu velho, é não agir. Não faço nada; vivo e viverei de qualquer forma. Como você anda necessitado, eu ofereço a minha bolsa, enquanto não me for possível arranjar qualquer coisa para você.

Não aceitei nesse dia o oferecimento, mas vim a precisar dos seus préstimos mais tarde e Alexis serviu-me generosamente.

Um belo dia, ele me disse que um amigo de seu pai, o príncipe Pakine, precisava de um professor para o seu filho e que fosse falar com o titular. O príncipe recebeu-me polidamente e dirigiu-me a palavra em francês. Respondi-lhe na mesma língua e me pareceu que a minha pronúncia não tinha o gosto aristocrático do príncipe. Ele me disse então:

— Bem, o senhor me parece um rapaz preparado e digno de ser professor de meu filho; mas não posso lhe dar resposta já, porquanto tenho que tomar outras informações a seu respeito. Depois de amanhã, procure-me que lhe darei resposta.

Não deixei de procurar o príncipe no dia marcado e não fui recebido polidamente como da outra vez. O homem tinha o sobrecenho carregado e me disse abruptamente:

— Não o posso admitir. O senhor já esteve metido num "complot" revolucionário e não quero que meu filho tenha outras idéias que não aquelas que naturalmente o seu nascimento lhe impõe.

Expliquei-lhe da melhor forma possível, apelei para a minha inocência, mas o príncipe em nada me quis atender.

Tratei de verificar de quem ele obtivera semelhante informação. Do meu amigo Karatoff não era, pois senão desde a primeira visita teria me recusado. Quem fora, pois? Depois de mil conjeturas, acertei logo em julgar que a coisa partira da própria polícia. Era ela, ela por toda a parte, a seguir-me como uma sombra, a tirar-me o pão da boca, a perseguir-me eternamente. Eu estava como aquelas mulheres públicas que, inscritas nos seus registros, não podem mais ser eliminadas. Era uma pena do inferno a que a moderna inquisição do Estado, a que os dominicanos do governo me condenavam. Toda a minha mocidade, todos os meus desejos e as minha aspirações se haviam de quebrar naquela informação que vinha dos prontuários policiais.

Não sabia bem o que fazer e entreguei-me à minha sorte. Vivi uma miserável vida de quatro anos, comendo muito irregularmente e fazendo esforços desesperados para pagar a pocilga em que morava.

O próprio Karatoff esfriou um pouco comigo; não me pareceu ser o "blasé" de antigamente. Havia neles novas ambições e como que senti que a minha companhia o comprometia. Evitei-o e, sem o seu auxílio, muito sofri.

Pouco antes de romper a guerra russo-japonesa, um operário com quem me dava, perguntou-me se eu poderia vir para o Brasil. Não sabia bem onde ficava tal país; sabia-o vagamente na América, mas, na minha imaginação geográfica, o colocava no lugar do México e este no lugar dele.

Não lhe disse logo que sim e ele, para que ,me resolvesse, deu-me a ler umas brochuras escandalosamente apologéticas da desconhecida república da América do Sul. Nelas se dizia que era um país onde não havia frio nem calor; onde tudo nascia com a máxima rapidez; que tinha todos os produtos do globo; era, enfim, o próprio paraíso. Descontei cinqüenta por cento, descontei mais e resolvi-me a emigrar. Um agente que andava catando desgraçados para a sua mercancia, deu-me passagem e eu, com um saco, meio cheio de roupas miseráveis, e alguns francos, embarquei em Odessa e singrei o mar Negro em busca de Nápoles.

Atravessei este velho mar cheio de legendas e história, absorvido nos meus pensamentos. Esse mar que vira Jasão singrá-lo em busca do velo de ouro; esse mar, que era uma das etapas do caminho da seda, via-me agora em caminho inverso, buscar, não o velo, mas do que viver em longínquas paragens.

Que desgraçada viagem! Nada há mais infernal que a terceira classe de um navio! Não há comodidade, não há limpeza; vive-se misturado. Homens e mulheres, as vidas e os seus detritos. A nossa época que tanto se esforça para manter o pudor, que tem leis que punem os atentados a ele, permite essa terceira classe de navios em que as necessidades naturais, as mais baixas e as mais nobres são satisfeitas à vista de todos.

E o navio continuava a sua rota por aquele mar cheio de gente e de história...

Paramos em Constantinopla e eu não quis saltar para ver de relance aquela velha cidade, que já foi a primeira do mundo e cobiça de todos os bárbaros.

Até então não tinha feito conhecimento com nenhum dos meus companheiros de viagem; mas, ao fim de certo tempo, uma das mulheres que viajavam no meu galinheiro, me impressionou e eu travei relações com ela.

Chamava-se Irma e era judia. Nos seus profundos olhos negros havia o mistério de vida e morte do mar. Pareceu-me triste e resignada; e toda vez que lhe perguntava sobre os seus projetos de vida, nas novas terras para que nos destinávamos, ela se esquivava de dizer o que faria. Ia ao encontro de seu marido, respondia; e se fechava num rigoroso mutismo. Tinha ouvido falar muito naquele tráfico de mulheres de que Odessa é um dos mais importantes portos; mas não quis, à primeira vista, supor que aquela moça, tão fresca e rosada, tão inocente e reservada e modos, fosse também para aqueles açougues de carne viva que os campos da Polônia e da Rússia fornecem às duas Américas. Uma vez que aludi a isso, com um pouco de áspera censura na voz, ela medisse cheia de indiferença e fatalidade:

— Se tem de morrer de fome, é melhor experimentar.

Nós entramos no Egeu, no mar das primeiras civilizações, no mar grego, por excelência, cantado por tantas gerações de poetas e sulcado pelos barcos de tantas civilizações; e eu vi, por entre a treva da noite ou sob o dossel de um maravilhoso céu de cobalto, aquelas ilhas donde tem saído das suas sepulturas os espantosos mármores que estão morrendo novamente nos museus frios da Europa Ocidental.

Por um instante, sonhei aquele passado, naqueles dois milênios e pouco de história escrita e vi toda a humanidade, toda ela, por maiores que sejam as suas aquisições presa à mesma ferocidade, com mais ou menos violência.

Não viram aquelas ondas os barcos dos fenícios, dos gregos, dos romanos? Aquele mar não os vira remados por escravos presos e seguros às suas bancadas? Não viram os delfins e tritões daquelas mitológicas vagas ser os mesmos chicoteados. para que não abrandassem na faina? Não viram eles comboios de escravos passarem daqui e dali para a onipotente Roma, para a feroz Bizâncio e para a sensual Istambul? E que continuavam a ser? Os grandes "steamers" ingleses e franceses com foguistas que sofriam mais que os remeiros antigos e navios, como aquele em que eu vinha, trazendo do fundo do Mar Negro mulheres tristes e famintas, para serem escravas em distantes regiões do globo, transformando o seu corpo em fonte de renda, em mercancia, em objetos de comércio? E os homens? Quantos não eram como eu, a que a necessidade, a miséria, a fome mais que a sede de fortuna, levavam a sair da terra de nascimento para ir buscar em outra talvez ainda a fome e quem sabe se não a morte?

A civilização, a não ser que marchasse para o livre entendimento de todos nós, para o apoio mútuo de nossas necessidades, sem desejo de lucro, de riqueza e propriedade — a civilização me pareceu sem sentido.

Nós chegamos a Atenas e eu quis ter diante daquela famosa cidade uma emoção superior; mas não senti coisa alguma, não vi coisa que me impressionasse, a não ser um grande tumulto nas ruas, uma manifestação ou coisa que valha. Onde estava a Atenas de Péricles? de Sólon? de Aristófanes? Não havia nada disso, era uma pequena cidade moderna, comum, tendo em uma das de suas alturas uma ruína, o esqueleto do Partenon, descarnado pelos abutre do tempo e roído pela fome dos arqueólogos.

O tumulto não cessava e tive a curiosidade em saber de que se tratava. Vi num café alguém falando francês e perguntei:

— Trata-se da eleição de Teamapulos, responderam-se.

— Quem é este homem?

— É um orador, é um novo Demóstenes.

Por um instante pensei naquela velha Atenas discursiva e eleitoral, com a sua "Ágora" e o seu "Pnyx". Ela não tinha morrido, ainda era bem ela que queria no governo belos oradores e se agitava por causa deles. De novo indaguei, curioso:

— Mas, quais são as idéias políticas desse Teamapulos?

— Quer a grandeza da pátria.

Que vinha a ser isso? Nada, ou antes muito. Era a mesma Atenas de outros tempos; ainda eram os mesmos homens, ainda era o mesmo espírito que os guiava; e essa verificação como que me deu uma amarga certeza da imobilidade da humanidade. Por toda a parte o mesmo ideal de pátria, por toda a parte a mesma esperança no governo... E, quando naquela noite, atravessamos o canal de Corinto, eu procurei ouvir se da terra me chegava aquele velho brado: o Deus Pan não morreu!

Não me veio aos ouvidos. É que Pan tinha morrido e estava bem morto, debaixo de dois mil anos de macerações, de jejuns, de hipocrisias; e a alegria da natureza, a satisfação natural de viver, o sentimento de excelência da vida tinham sido enterrados com ele, tinham desaparecido da terra; mas a Pátria, esse monstro que tudo devora, continuava vitoriosa nas idéias dos homens, levando-os à morte, à degradação, à miséria, para que sobre a desgraça de milhões, um milhar vivesse regaladamente, fortemente ligados num sindicato macabro.

Quem me levava a terras tão distantes? Quem me tirava toda a minha satisfação de viver? Quem fazia que eu até então não encontrasse na vida nem com que me vestir bem, nem com o que comer, nem amor, nem nada? era a pátria, a famigerada pátria, com as suas idéias decorrentes. Que diabo, afinal, era ela? Um Deus, como outro qualquer. Uma criação subjetiva, já sem utilidade, já sem valor, Se eu nascesse no século XIV, russo, como eu era, Odessa seria minha pátria? Se a Sibéria deixasse de ser russa e passasse a ser mongólica ou tártara, a Rússia morreria? Que diabo de existência era essa que não se mutila, que cresce ou diminui conforme os conquistadores são mais ou menos felizes? Eu, ia ali, naquela miserável terceira classe, sofrendo frio, viajando num curral, por causa de uma deusa tão frágil?

Nós entramos no porto de Nápoles à noite. Havia luar, um grande luar que enchia tudo e dava à famosa baía um toque deliciosos de imaterialidade. Íamos sofrer transbordo e à espera dele passamos a noite toda.

Não lhes falarei de Nápoles, lugar clássico na terra, tão falado e tão descrito que é inútil tentar dizer qualquer coisa de novo sobre ele. Passamos, afinal, para o paquete que nos devia trazer diretamente ao Rio de Janeiro. Se a terceira classe daquele em que vim de Odessa era sórdida, agora aquela do navio em que estava era mais sórdida.

Éramos mais de quinhentos homens, mulheres e crianças, misturados nos beliches, amontoados como galinhas numa capoeira. A comida era uma infâmia; a sentina não se descreve; e nós tínhamos que passar aí bem quinze dias ou mais.

Na maioria eram italianos; mas havia alguns russos, uns poucos de armênios e meia dúzia de gregos.

Não nos entendíamos e vivíamos em grupos conforme as nossas nacionalidades. A judia Irma também viera e logo que deixamos os portos espanhóis e entramos em pleno Atlântico, ela pareceu ganhar um pouco de alegria, uma certa esperança, e, como que seus olhos, debaixo das suaves arcadas das suas sobrancelhas negras, viam na linha fugidia do horizonte a felicidade e a satisfação.

Perguntei-lhe se ia para o Rio de Janeiro ou para Buenos Aires, pois eu já começava a compreender a geografia da América do Sul. Fiz-lhe a pergunta e ela me respondeu muito naturalmente:

— Vou par Buenos Aires. Quando estiver um pouco estragada, irei para o Rio de Janeiro.

O mar tenebroso dos navegantes da Renascença foi atravessado por nós. Dir-se-ia que eles temeram em vão; estava espelhento que nem um lago, e doce e tranqüilo.

Eu que não conhecia quase a história daquelas águas nem das terras que elas banhavam, só me lembrava que aquele era o mar da escravidão moderna, o mar dos negreiros, e que assistira durante três séculos aquele drama de sangue, de opressão e de saque, que foi o aproveitamento das terras da América pelas gentes da Europa.

Pensei comigo que em presença daquelas altas manifestações da natureza só me vinham pensamentos tristes e, longe de ter a esperança natural do emigrante, de riqueza e abastança, ia-me n’alma o mesmo desespero que tinha em Odessa.

A viagem fez-se sem incidentes, a não ser um curioso e eloqüente para a vida da terceira classe dos vapores.

Dois emigrantes italianos casados que dormiam no mesmo beliche, certo dia deixaram-se ficar até bem tarde no convés, bebendo; e, quando desceram, semi embriagados, trocaram de beliches e dormiram com as mulheres trocadas.

Ao amanhecer, dando pelo engano, cada um atribuía alo outro o intuito de traição:

— Patife! Canalha! — dizia um.

O outro retrucava:

— Canalha! Patife!

E toda a população do paquete acudiu para ver tão estranha disputa. Embora os dois homens estivessem ferozes, toda a gente achava no acontecimento motivo de hilaridade e os comentários eram nesse sentido.

Dizia um gaiato:

— Não há motivo para briga. Quando nascerem os pequenos, troquem-nos que a cosa fica certa.

Os dois, porém, não abrandavam e houve a intervenção do pessoal de bordo para que se acalmassem. Fosse porque fosse, fosse porque a situação de ambos não comportasse uma tensa pendência de honra, o certo é que vieram a fazer as pazes e continuaram a viagem como bons amigos como dantes. Que importa à natureza que o pai seja este ou aquele? A questão é que nasça gente para ela preencher os seus obscuros destinos.

Tocamos no Recife, na Bahia, e, afinal, chegamos ao Rio de Janeiro. Aqui, positivamente é que começam as minhas aventuras, mas eu lhes quis fornecer algumas notas anteriores a elas, para que meus leitores me julguem melhor e sintam bem o motivo ou os motivos que me levaram a abandonar os propósitos do trabalho honesto e lançar-me com decisão na vida de expedientes e de planos.

Não era essa a minha tenção, mas o sentimento que se me apossou da injustiça da vida, da fraqueza das bases em que se alicerça a sociedade e o espetáculo da comédia que é a administração do Brasil, levaram-me a procurar viver de modo menos afanoso e com emprego de menos esforço.

Chegamos afinal ao Rio e, após as visitas regulamentares, já começavam a desembarcar os passageiros de todas as classes, quando um empregado de bordo veio chamar-me. Prontamente fui e achei-me em presença de um homem agaloado. Ele me perguntou:

— Como se chama?

O intérprete que estava a seu lado, traduziu para uma língua que ele julgava ser russo, mas que eu sem a entender bem, senti que era lituano. Respondi então em francês, que não entendia. O intérprete — um tipo alto, muito magro, com uma pequena barbicha alourada — zangou-se e gritou em português:

— Mas, você não é russo, como é que não compreende russo?

Respondi, ainda em francês, que não entendia e o intérprete quis ainda empregar o seu lituano. Eu continuava no meu francês e parecíamos querer não sair disso, quando um dos circunstantes que falava francês, prestou-se a auxiliar o policial marítimo que me interrogava. Respondi desse feita que me chamava:

— Gregory Petrovich Bogoloff

O homem da polícia marítima pediu-me que eu escrevesse o nome num papel que me apresentou. Esteve olhando um instante o papel com as letras e, por fim, indagou de repente:

— Qual é a sua profissão?

O intérprete traduziu em francês e eu o atendi:

— Sou professor.

O homem pareceu não se conformar, olhou-me muito e disse à queima-roupa:

— Você não é "cáften"?

Logo percebi o sentido da palavra, fiquei indignado, mas me contive e por minha vez indaguei:

— Por quê?

O homem da polícia explicou muito ingenuamente:

— Estes nomes em "itch", em "off", em "sky", quase todos são de "cáftens". Não falha!

Disse-lhe então que não era, nem nunca tinha sido, mas o homem não acreditou nas minhas palavras, e insistiu:

— Se não é "cáften", é anarquista.

Ainda protestei, ainda desfiz-me em explicações, mas o sujeito teimava na singular idéia:

— Esses nomes em "itch", em "off", em "sky", polacos e russos, quando não são de "cáftens", são de anarquistas.

Eu tive um grande espanto com tão curiosas generalizações da polícia do Brasil e, como me parecia que o homem não me queria deixar desembarcar, apelei para os meus documentos. Trouxe os meus papéis: o passaporte, a carta do agente de imigração, e a minha de bacharel em línguas orientais.

O homem do lituano esteve a olhá-las e o intérprete oficioso também. O policial tomou por sua conta a carta da Universidade de Kazan. Esteve a examiná-la com respeito que merecia um pergaminho, e perguntou:

— Que língua é esta em que está escrita?

Adivinhando-lhe a pergunta, acudi logo:

— Latim.

Foi preciso que o intérprete oficioso dissesse porque ele não entendeu bem o meu — latin — francês e fiquei admirado que um funcionário neolatino não conhecesse nem uma palavra da língua de que se originara a sua.

O policial continuava com as suas desconfianças e ainda objetou:

— É uma língua estrangeira. Devia estar traduzida para a nossa, por um tradutor público juramentado.

Quando soube da sua objeção, quase me desmanchei numa gargalhada.

Onde é que este homem ia encontrar um tradutor público juramentado para o latim? pensei eu.

O homem esteve a olhar-me durante alguns minutos; considerou-me bem a fisionomia, a roupa e ainda fez:

— Então o senhor não é "cáften" nem anarquista?

Tendo conhecimento de sua pergunta pelo intérprete, protestei que não, e creio que ele ficou certo da sinceridade das minhas palavras, pois me deixou desembarcar.

Fui para a Hospedaria dos Imigrantes, e dentro de uma semana estava colocado num núcleo colonial de um Estado do Sul.

Eu tinha os melhores propósitos de trabalho honesto e logo me pus a trabalhar com afinco. Deram-me ferramentas, sementes e um lote de terras duras e compactas.

Comecei a derrubar o mato, construí antes uma palhoça e, aos poucos, ergui uma casa de madeira, feita ao jeito das "isbas" russas.

A colônia era ocupada por famílias russas e polacas e, enquanto os meus trabalhos de instalação não se acabaram, não travei relações com ninguém.

Ao fim de dois meses, tinha já onde dormir sem temer os temporais; mas, as minhas mãos estavam em mísero estado, se bem que o meu corpo tivesse ganho mais saúde e mais força.

Aos administradores da colônia via pouco e evitava mesmo vê-los, porque eram arrogantes e intratáveis; mas travei relações com o intérprete que muito me orientou na vida brasileira.

Este, de fato, falava russo e tinha certa instrução. Nunca me disse os antecedentes da sua vida, mas havia nele certos tiques, certos gestos, que me pareceu ter o seu corpo sofrido trabalhos forçados.

Quando soube que tinha um grau universitário, disse-me logo:

— És tolo, Bogoloff, devias ter-te feito tratar de doutor.

— De que serve isso?

— Aqui, muito! No Brasil, é um título que dá todos os direitos, toda a consideração, mesmo quando se está na prisão. Se te fizesses chamar de doutor, terias um lote melhor, melhores ferramentas e sementes. Louro, doutor e estrangeiro, ias longe!

— Ora bolas! Para que distinções, se eu me quero anular? Se quero ser um simples cultivador?

— — Cultivador? Isto é bom em outras terras que se prestam a culturas remuneradoras. As daqui são horrorosas e só dão bem aipim ou mandioca e batata doce. Dentro em breve, estarás desanimado. Vais ver.

Desprezando as amargas profecias do intérprete da colônia, pus-me com decisão a trabalhar a terra. Plantei dois hectares de milho e fiz uma horta em que plantei couves, nabos, repolhos.

Esperei que nascesse e frutificasse o milho. De fato, veio rapidamente, mas as espigas, quando as colhi. estavam meio roídas pelas lagartas; a horta foi um pouco melhor, mas, assim mesmo, a "rosca" e o piolho estragaram-me grande parte da minha obra.

Tentei outras culturas, a do trigo, a da batata inglesa, mas não deram coisa que prestasse e voltei ao milho logo que o tempo se me apareceu propício.

A lagarta, porém, não deixa a sociedade que fizera comigo e tirava do meu trabalho uma porcentagem bem forte. Entretanto, eu tinha que pagar o meu lote e as ferramentas. Com tão magras e pouco remuneradoras culturas, fi-lo com sacrifícios sobre humanos. Quer dizer que eu, no "El-Dorado", continuava a viver da mesma forma atroz que no inferno de Odessa.

Deite-me com todo o afinco à cultura da batata doce, do aipim e da abóbora, e nisso imitei os naturais que não faziam senão pedir à terra esses produtos quase espontâneos e respeitados pelos insetos daninhos.

A colheita foi tal que, pela primeira vez, tive lucro e satisfação. Comecei a criar porcos que engordava com as batatas e os aipins e, embora não encontrasse mercados fáceis para os meus suínos, ganhei algum dinheiro, e, dentro em pouco, tive o meu lote em plena prosperidade.

Ao fim de alguns anos, reparei que a minha cultura e a minha vida de cultivador tinham aos poucos ganho o aspecto dos naturais do país. Não comia mais pão, mas broa de farinha de milho ou aipim cozido; o açúcar com que eu temperava o meu café, era feito de um melaço de cana que eu obtinha numa engenhoca tosca de mina construção. Desanimava de culturas mais importantes e a base da minha vida era a batata doce, o aipim e a carne de porco.

A terra, a sua estrutura e composição, o seu determinismo, enfim, me tinha levado a esse resultado e só obedecendo a ele é que pudera tirar dela alguma coisa.

Quem sabe se a vida no Brasil só será possível facilmente baseando-se no aipim e na batata doce? Não sei bem se isso tem visos de verdade, porque o conheço pouco; mas verifiquei que a minha vida só foi fácil quando se estribou nesses dois produtos quase selvagens.

Mais tarde, quando pude verificar de um golpe a vida política do Brasil, voltou-me essa pergunta, tanto mais que eu notava em toda a sua história econômica uma vida precária de expedientes.

Durante muito tempo, a fortuna do Brasil veio do pau de tinturaria que lhe deu o nome, depois do açúcar, depois do ouro e dos diamantes; aos poucos, por isso ou por aquilo, alguns desses produtos foram perdendo o valor ou, quando não, deixaram de ser encontrados em abundância.

Mais tarde vieram o café e a borracha, produtos ambos, que, por concorrência, quanto ao primeiro, e também, quanto ao segundo, pelo adiantamento nas indústrias químicas, estão à mercê de uma desvalorização repentina.

Nunca a sua vida se baseara num produto indispensável à vida ou às indústrias, no trigo, no boi, na lã ou no carvão. Não era mesmo uma Austrália, não era mesmo uma Argentina, num uma Índia com os seus arrozais. A sua vida fora sempre de expedientes e, sem carvão, e sem esses produtos primários para a existência, tinha que pagá-los caro, não só eles, mas os manufaturados, de forma a não ter reservas de riquezas.

Se nem todos ele ia buscar no estrangeiro, como a carne, tinha, entretanto, que obtê-los no seu solo mais caro que se os comprasse fora.

O boi, que se abate nas cidades do litoral do Brasil, chega-lhe mais caro do seu interior do que se viesse da República Argentina.

Não quero transformar a narração das minhas aventuras em ataque sistemático a essa boa terra do Brasil; e se falo nisso é para lhe mostrar quais os fatos que determinaram o mecanismo psíquico que me levou a abandonar a vida honesta de trabalho.

Ao fim de alguns anos de trabalhar e refletir, eu estava convencido de que, a não ser que a vida do Brasil se baseasse em certas tuberosas e solanáceas, há de ser por força de expedientes e resolvi-me por esse fato a viver também de expedientes.

Corri muitas aventuras, tive que dar muitos planos para viver, e se não conto umas e outras na ordem em que se verificaram, é porque resolvi contá-los à proporção que me fosse lembrando.

Uma das mais interessantes, porém, foi aquela pela qual me fiz Diretor da Pecuária Nacional.

Eu me dava com um mulato conhecido por Lucrécio, o "Barba-de-Bode", uma bela pessoa que exercia o rendoso ofício de "capanga" político.

Não era bem o "espadachim" de César Bórgia, mas os seus patrões não tinham nada de semelhante ao famoso filho do Papa Alexandre VI.

Travei relações com ele em ocasião muito interessante e hei de lhes contar a maneira por que fizemos amizade.

Certo dia vim a encontrar-me com ele e Lucrécio me disse com toda a jovialidade de sua raça:

— Doutor, você precisa sair disso. por que não arranja um emprego?

— Sou estrangeiro, e, demais, não sei fazer nada.

— Qual! Um doutor sabe fazer tudo? Você não sabe pintar?

Eu tinha algumas noções de desenho, muito vagas e elementares, mas como me havia disposto a viver de expedientes, disse-lhe evasivamente:

— Alguma coisa.

— Bem — disse-me Lucrécio. — Vai haver uma reforma nas Belas-Artes e eu vou apresentar você ao senador Sofônias.

Sofônias era nesse tempo o Diretor da política nacional e fiquei admirado que um humilde "capanga" tivesse préstimo para tanto. Ele ainda insistiu:

— Veja lá, hein? Não faça feio.

Dentro em breve, fui apresentado por Lucrécio ao senador. Ele falava com um longínquo sotaque espanhol, e tinha um olhar vidrado de agonizante. Recebeu-me prazenteiro, como todo brasileiro a quem se solicita qualquer coisa!

— Então, menino, você é pintor?

Ele dizia menino com o "e" muito aberto; e "pentor" como se o "i" fosse "e". Respondi-lhe que sim e, para provar-lhe, fiz ali mesmo um "croquis" de seu retrato. Achou-o muito parecido e guardou-o. Ao jeito de lisonja, disse-lhe eu:

— V. Exa. parece-me com Suivaroff.

— Quem? — indagou.

— Suvaroff... Um grande general russo, vencedor dos turcos.

— Ah! Gosto desses homens de energia.

Estivemos conversando sobre a Rússia que ele conhecia tanto como eu o México ou a Nova Zelândia. Aludiu à guerra russo-japonesa:

— Vocês perderam porque não são uma república. Lá há muitos revolucionários. O despotismo é grande lá.

Quis objetar-lhe que o Japão era também um Império e ganhara, e a França, por ser um país teoricamente liberal, tinha uma corrente revolucionária tão forte como a Rússia. Não lhe disse nada e concordei. Não se discute nunca com os protetores. Sobre a minha pretensão, ele me falou da seguinte maneira:

— Menino, você quer um lugar nas Belas-Artes, não é?

— É, senador.

— Lá não é possível. Já fiz muitos pedidos. Você não entende nada de agricultura?

Lembrei-me de meus dias de colono e respondi com toda a firmeza:

— Entendo alguma coisa. Até em pecuária tenho certas idéias e, caso o governo queira, posso experimentá-las.

— Quais são?

Acudiu-me então dizer:

— Posso criar porcos que cheguem ao tamanho de bois e bois da altura de elefantes.

— É maravilhoso! Como você procede?

— É uma questão de alimentação. processos bioquímicos, já experimentados em outras partes, que aperfeiçoei.

— Bem, menino. Vou mandar você ao Xandu e lá você expõe as suas idéias.

Esse Xandu era ministro da Agricultura, para quem o senador Sofônias me deu uma carta eloqüente e persuasiva.

Procurei o ministro que me recebeu com certa frieza, mas, desde que leu a carta do senador, fez-se prazenteiro e amável.

— Ora, Doutor! Desculpe-me! Desculpe-me! Não sabe como ando atarefado. Hoje já assinei 1597 decretos... Sobre tudo! Sobre tudo! Neste país tudo está por fazer! Tudo! Em três meses tenho feito mais que todos os governos deste país. Já assinei 2.725.832 decretos, 78.345 regulamentos... 1.725.384.671 avisos... Um trabalho insano! Fala inglês?

— Não, Excelência.

— Eu falo. Desde que o falei com desembaraço, as minhas faculdades mudaram. Penso em inglês, daí me veio uma salutar reação mental que me interessou todo inteiro. Gosto muito do inglês, com o sotaque americano. Experimente... Brederodes (gritou ele para o secretário) já temos aquele regulamento sobre a "postura" de galinhas?

Respondeu-lhe o secretário e voltou-se para mim, febril:

— O que nos falta é o frio. Ah! A sua Rússia! Eu, se quero ser sempre ativo, tomo todo o dia um banho de frio. Sabe como? Tenho em casa uma câmara frigorífica, 8 graus abaixo de zero, onde me meto todas as manhãs. Precisamos atividade e só o frio pode nos dar. Penso em instalar grandes câmaras frigoríficas nas escolas, para dar atividade aos nossos rapazes. O frio é o elemento essencial às civilizações... Mas, — emendou a alta sumidade — ainda não lhe falei sobre os seus planos. O Sofônias fala-me aqui das suas idéias sobre pecuária. Quais são?

— São simples. Por meio de uma alimentação adequada, consigo porcos do tamanho de bois e bois do tamanho de elefantes.

— Mas, como?

— O meu processo é baseado na bioquímica e já foi experimentado alhures. O grande químico H. G. Wells já escreveu algo a respeito. Não conhece?

— Não.

— H. G. Wells, um grande sábio inglês, de reputação universal.

— De forma que um boi seu, são?

— Quatro.

— Magnífico! E o tempo de crescimento?

— O comum.

— É uma maravilha.

— Ainda consigo a completa extinção dos ossos.

— Completa.

— É um modo de dizer. Reduzo-os ao mínimo, quando chegar à época da matança, eu os transformo em carne.

— Extraordinário! Estás ouvindo Brederodes? gritou, para o secretário.

Animei-me e aduzi com toda a convicção:

— Por meio de fecundação artificial, enxertando germes de um e outra espécie, consigo carneiros que são ao mesmo tempo cabritos e cabritos que são ao mesmo tempo carneiros.

— Singular. O Doutor vai fazer uma revolução nos métodos de criar.

— É a mesma revolução que a química fez na agricultura. Penso nisso há muitos anos, mas não me tem sido possível experimentar por falta de meios.

— Não seja essa a dúvida. Enquanto eu for ministro não lhe faltarão. O governo tem muito prazer em ajudar a todas as tentativas nobre e fecundas para o levantamento das indústrias agrícolas.

— Agradeço muito e creia-me o Doutor que não ficam por aí os meus planos. Tenho outras idéias.

— Outras?

— É verdade. Estudei um método de criar peixe em seco.

— É milagroso!

— A ciência não faz milagres. A coisa é simples. Toda a vida veio do mar e, devido ao resfriamento dos mares e a sua concentração salina, nas épocas geológicas, alguns dos seus habitantes foram obrigados a sair para a terra e nela criaram internamente meios salinos e térmicos iguais àqueles que viviam nos mares, de forma a continuar perfeitamente a vida de suas células. Procedo artificialmente da forma que a cega natureza procedeu, eliminado o mais possível o fator tempo; isto é, provoco o organismo do peixe a criar para sua célula um meio salino e térmico igual àquele em que se desenvolvia a sua vida no mar.

— É engenhoso!

— Perfeitamente científico.

O homem esteve a considerar um tempo perdido, olhou-me muito com o monóculo e depois me disse:

— Não sabe o Doutor, como me causa admiração o arrojo de suas idéias. São originais e engenhosa e o que tisna um pouco essa minha admiração, é que elas não partam de um nacional. Não sei, meu caro Doutor, como é que nós não temos esses arrojos! Vivemos terra à terra, sempre presos à rotina. Pode ir descansado que o governo da República vai aproveitar as suas idéias, que hão de enriquecer a pátria.

Ergueu-se do seu trono e me veio trazendo com o seu passo de reumático até a porta do seu gabinete.

No dia seguinte li nos jornais que tinha sido nomeado Diretor da Pecuária Nacional