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Cantigas de Martim Codax, presumido jogral do século XIII/Introdução

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Entre os poetas cujos nomes e composições nos foram transmitidos pelos Cancioneiros da Vaticana e Colocci-Brancuti figura Martim Codax com sete cantigas, que ali teem respectivamente os números 884 a 890 e 1278 a 1284. Em 1914, numa fôlha de pergaminho que, dobrada ao meio, servia de fôrro interior às capas de um manuscrito do século XIV, o qual continha o De Officiis de Cícero e havia sido encadernado por algum monge, no século XVII ou XVIII, depois de descolada, descobriu o livreiro-antiquário de Madrid, Pedro Vindel, as mesmas cantigas e para mais, o que lhes dava valor inestimável, acompanhadas da respectiva notaçaõ musical, com excepção apenas da 6.ª em que só se escrevera a pauta. Essa fôlha, que no ano imediato o mesmo deu a lume em facsimil e com oito fotogravuras, foi por D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos, que dela e do seu conteúdo se ocupou na Revista de Filologia Castellana do mesmo ano, em artigo intitulado A propósito de Martim Codax e das suas Cantigas de amor, atribuída ao século XIII; Eládio Oviedo y Arce, que, no Boletin de la Real Academia Gallega dos anos 1916 e 1917, publicou um substancioso e erudito estudo sôbre El genuino Martim Codax, trovador gallego del siglo XIII, classifica-a igualmente de trecentista e tem-a na conta de apógrafo.

Pertencem essas cantigas ao número das que a Poética fragmentária, que precede o Cancioneiro de Colocci-Brancuti, chama de amigo, isto é, as que os trovadores costumavam pôr em bôcas femininas, como se por mulheres tivessem sido compostas, consideradas, porém, mais especialmente e em harmonia com o assunto de que tratam, poderão as 1.ª, 3.ª, 5.ª e 7.ª ser classificadas de barcarolas ou marinhas. Tôdas elas apresentam cunho popular, assim no ritmo, fácil e harmonioso, como no paralelismo de expressões que as caracteriza, similhante ao que se observa noutras do mesmo tempo e posteriores, embora o seu autor por vezes não o tenha seguido com todo o rigor[1]. As estrofes e versos são os empregados nas composições do mesmo género e feitio: dísticos aquelas e estes de cinco (a IIª), seis(Iª), sete (VIª), oito (VIIª) e nove (IVª e Vª) sílabas; apenas os da IIIª julgo pertenecerem à espécie chamada pelos antigos arte-maior, isto é, constantes de dois hemistíquios, ambos femininos ou terminados por palavras graves, compostos os primeiros de seis versos e os segundos de cinco; os estribilhos, com excepção da primeira e segunda, se, como penso, se fundir a conjunção e com a vogal seguinte, ou antes, se a considerarmos acrescento posterior[2], divergem, segundo o uso mais em prática, dos outros versos no número das sílabas, sendo trissílabo agudo o da sexta, pentassílabo, setessílabo e octossílabo, todos graves, respectivamente os da quarta, terceira e quinta, apenas o da sétima se compõe de dois versos, um grave, outro agudo, aquele setessílabo, êste bissílabo. A rima é em geral toante, mas estrofes há em que as últimas palavras dos dísticos são concordes nos finais dos versos.

Mas não é só a letra e contextura das cantigas que teem aspecto popular, possui-o também a música que as acompanha e o distinto músicografo, o cónego Tafall Abad, transplantou para anotação moderna e publicou no referido Boletin[3]. Como outros, entre os quais o próprio rei D. Denis, foi nos cantares do povo que o seu autor se inspirou, foi dêles que tomou a forma e o canto que lhes deu, mas, ao contrário de quási todos, a êles se cingiu exclusivamente, afastando-se assim da moda, então dominante entre os freqüentadores da côrte, de imitarem de preferência modelos estranhos, oriundos da Provença.

Não só do número, relativamente grande, que delas há nos Cancioneiros trovadorescos, mas ainda das que se encontram em Gil Vicente o das que actualmente existem na província de Trás-os-Montes, parece deduzir-se que oram as cantigas chamadas paralelísticas ou talvez antes retornadas, como o D.or Leite de Vasconcellos diz ter ouvido lá chamar-se-lhes, as que gozavam de especial predilecção entre o povo, de-certo por mais do que outras traduzirem o seu modo de pensar, tornando-se assim verdadeiramente populares. Não quer isto dizer que elas tivessem por autor o povo, no seu conjunto massa bruta e incapaz de inspiração poética, mas sim que alguns dos seus membros, mais cultos e dotados de maior engenho e aptidão poética, soubessem traduzir os seus sentimentos por forma tão perfeita que o povo perfilhou as suas composições. É o que ainda hoje sucede com os próprios poetas cultos. Pois não sabemos de poesias dêstes que, caindo nos ouvidos da gente inculta, de tal maneira lhe agradaram que as acolheu e por vezes mesmo as alterou, embora nem sempre com felicidade?[4] É o que se observa sobretudo nos romances. Portanto, se damos às peralelísticas e mesmo outras cantigas que se lhes assemelham na forma e estilo o nome de populares, não queremos com isto significar que elas hajam sido compostas «colectiva e contemporáneamente pela nação inteira»[5], mas antes que tenham tido por autores indivíduos que com arte e inteligência souberam exprimir a maneira de ser o pensar do povo. Não vemos ainda hoje em bailes populares um ou outro dos que neles tomam parte, quer homens, quer mulheres, improvisarem cantigas? E das que correm entre o povo e são constantemente cantadas por êle, em tal quantidade que dão para um bom volume, quem as compôs? De uma ou outra conhece-se o autor, ruas na sua quási totalidade são criações dêste ou daquela, que os outros abraçaram, propagando-as de geração ou geração. O mesmo a respeito das paralelísticas em especial. Sabe-se que o paralelismo não é exclusivo da antiga poesia portuguesa, encontra-se quási por tôda ã parte. Adoptado por antigos e desconhecidos poetas, foi continuado pelos que se lhes seguiram e cujos nomes os Cancioneiros nos transmitiram, os quais, caminhando na esteira dos seus antecessores, por essa forma cantaram, como êles, os sentimentos mais vulgares do coração humano, sobretudo os dominantes na gente môça de ambos os sexos, isto é, o amor e as alegrias o tristezas que o acompanham.

Pode ser que essa maneira do construir os versos, repetindo-os apenas com a troca, no fim de cada um, de uma palavra por outra sinónima, e o leixa-pren, que são as características de tais cantigas, não tenham origem popular e sim literária (eclesiástica, como alguns pensam), mas no assunto não vejo nada mais popular do que esta, por exemplo, encontrada com outras pelo D.º Leite de Vasconcellos no concelho de Bragança:

E a minha saia de paninho fino
Num m'a deu cunhado nem primo...
Ora que m'a deu o meu lindo amigo!

E a minha saia de pano delgado
Num m'a deu primo nem cunhado...
Ora que ma deu o meu lindo amado![6]

a qual ficaria semelhante às paralelísticas dos Cancioneiros trovadorescos e de Gil Vicente, se disposéssemos os seus versos pela maneira seguinte, isto é, não separando as duas vozes:

E a minha saia de paninho fino
num m'a deu cunhado nem primo.

E a minha saia de pano delgado
num m'a deu primo nem cunhado.

Num m'a deu cunhado nem primo,
ora que m'a deu o meu lindo amigo.

Num m'a deu primo nem cunhado
ora que m'a deu o meu lindo amado.

Quem fósse Martim Codax nada sabemos, apenas o seu nome, constituído pelo de baptismo e outro mais, que bem pode ter sido alcunha[7], e a singeleza das suas cantigas o denunciam como pertencente à classe dos jograis e delas parece deduzir-se que era natural de Vigo ou dali perto; a inserção das mesmas no Livro das Trovas, mandado coleccionar pelo Conde de Barcelos e por êste legado em 1356 a Afonso XI, rei de Castela e Leão, leva-me a crer que êle tivesse freqüentado a côrte de Afonso III.

Vejamos agora o seu conteúdo.

Na Iª e na VIIª o seu autor apresenta-nos uma mulher, certamente nova e namorada, a qual, pungida de saüdades do ausente amigo, vem até às praias de Vigo, em cujas cercanias, parece, morava, na esperança de ver talvez surgir o navio que o há-de trazer e, dirigindo-se às ondas[8], pede-lhes que lhe doem notícias dêle. Na IIª ela exulta de prazer, por ter sido informada de que êle em breve estará de volta o declara à mãe que irá esperá-lo a Vigo. Na IIIª e na IVª convida a irmã e todas as namoradas a irem contemplar as ondas ou a banharem-se nelas, mas no intuito e desejo de lá encontrar o dilecto do seu coração. Na IV, a sós consigo, lamenta a sua ausência e a lembrança do amado inunda-lhe as faces de lágrimas. Finalmente na VIª conta-nos o jogral como, andando a bailar com outras no adro da igreja de Vigo[9], ela pela primeira vez sentiu no coração os rebates do amor e, cheia de satisfação por tal descoberta, exclama para as que a acompanhavam amor ei, expressão que pelo sentido equivale a estoutra: já tenho namorado

D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos, não obstante ver nas cantigas codacianas «scenas isoladas e não de evolução progressiva, episódios da vida de uma menina que vivia perto de Vigo o simultâneamente da do jogral», estribada nas palavras amigo d'el-rei, que na IIª a donzela aplica ao seu predilecto, supõe tratar-se de algum nobre namorado que, não sabendo fazer versos, encarregara disso o nosso jogral: eu, porém, levado pelas referências que algumas cantigas trovadorescas teem com a vida dos seus autores, penso que estas também descrevem scenas passadas com o próprio Martim Codax e explico aquelas palavras pela sua habilidade poética e musical, que o tornaria muito apreciado na côrte de Afonso III, se é que por ventura alguma vez lá esteve, ou talvez antes nas hostes de S. Fernando, que levaram nobres e plebeus galegos à conquista de Sevilha, a ponto tal que um ou outro dêstes monarcas lhe dispensasse especial protecção e amizade, sobretudo o segundo, que, no dizer da Cron. General, não só apreciava os fidalgos que sabiam trovar o cantar e até os jograis bons tocadores de instrumentos, mas êle próprio cultivava a poesia, não vou contudo tão longe que creia que elas constituem um poemeto com sua unidade, como quer o referido Oviedo y Arce, que nessa suposição as divide em cinco quadros, a que dá estes títulos: 1.º Conquista do namorado; 2.º Uma entrevista; 3.º Horas tristes; 4.º A boa nova e 5.º Dia feliz, incluindo no 1.º a cantiga VIª, entendendo que uma donzelinha dos arredores de Vigo, andando a dançar e a cantar com outras raparigas no adro da igreja, encontra o seu primeiro amor; pertencendo ao 2.º a IIIª, que se referiria ao encontro dela com êle no mesmo lugar onde pela primeira vez se haviam visto, encontro que ela própria teria aprazado, mas dando como pretexto à irmã, para que a acompanhasse, o desejo de gozar o formoso espectáculo das águas da baía e confessando à mãe, só depois de lá chegar, o verdadeiro motivo que ali a levava; no 3.º metendo a IVª, Iª e VIIª, persuadido de que elas se referem às saüdades que a devoram durante a ausência dêle, fazendo entrar no 4.º a IIª, que exprimiria a imensa satisfação que lhe trouxera a notícia, acabada de receber, que o seu amigo estará de volta muito em breve, e o seu intento de ir esperá-lo ao pôrto de Vigo, pondo finalmente no 5.º a Vª, por ver nela um convite às amigas a que a acompanhassem à chegada do amigo e ao banho de amor[10] nas águas da ria, faltando só, para remate do pequenino poema, que êle baptiza de A Enamorada de Vigo, uma cantiga referente às bodas dos dois amantes.

As expressões tão sentidas que em tôdas estas cantigas se encontram revelam, a meu ver, que elas só poderiam sair de um coração verdadeiramente apaixonado; só quem, por experiência própria, soubesse quanto custa a separação a dois entes que se estremecem saberia compôr a 1.ª, 4.ª e 7.ª, que são verdadeiros gritos de uma alma, despedaçada pela saüdade. Ao contrário, na 2.ª sente-se palpitar o júbilo da protagonista, ante a ideia de que em breve tornará a ver aquele que era, por assim dizer, o sol da sua existência e cuja vista só lhe enxugaria as lágrimas que de contínuo lho marejavam os olhos. Por estas razões penso que o seu autor, ao compô-las, extravasou nessas cantigas os próprios sentimentos e que portanto Martim Codax deixou-nos aí parte da sua biografia, apenas um episódio da sua vida amorosa.

Que elas não datam tôdas do mesmo tempo vê-se claramente do seu conteúdo. E evidente que a 1.ª, 4.ª e 7.ª foram compostas, quando o seu autor se achava longe da terra natal, separado portanto da namorada, ou nalguma das duas côrtes de Espanha ou Portugal, ou talvez antes na Andaluzia, fazendo parte das hostes que cercavam Sevilha; a 2.ª vê-se bem que foi feita em vésperas de regresso à pátria, onde ansiosa o aguardava aquela de quem êle era o constante pensar, a mais antiga parecendo ser a 6.ª, seguindo-se-lhe a 3.ª o 5.ª, isto é, o comêço dos amores de ambos e seus encontros nas margens da tão poética e formosa ria de Vigo.

É pouco o que até nós chegou do jogral de Vigo, mas nesse pouco êle mostra-se verdadeiro poeta. A maneira como pinta as saüdades da namorada (I-IV o VII) e inversamente a alegria intensa que lhe causa a notícia recebida da próxima chegada do ausente amigo (II) revela bem o seu profundo conhecimento do coração humano. Na sua extrema simplicidade as cantigas de Martim Codax retratam tanto ou melhor do que qualquer poema em frases estudadas, a dor que tortura a mulher que se encontra longe do ente que adora e a satisfação imensa que sente ao tornar a vê-lo san' e vivo, após tanto tempo do separação. E que grande ingenuïdade se não contem na expressão amor ei, que o trovador põe na bôca da cantora, quando esta, ao dançar com as companheiras, sente, pela primeira vez, o coração palpitar-lhe de amor (VII) «Destácanse sus cantigas —diz Oviedo y Arce—[11] por la nobleza y serenidad del sentimiento amoroso, sano y puro, que las inspira, sentimiento íntimo e intenso, pero sin tempestades de celos ni desconfianzas, que en cierto modo, dramatizan las Cantigas en otros trovadores; destácanse también por la espontaneidad con que la pasion se desborda, ingénua y mansa, de los rotundos disticos y selectos estribillos y expresada en ideas simplistas y llanas, sin sombra de aquella sutileza y transcendencia —por ventura conceptismo— que caracteriza las épocas adultas, vecinas de la decadencia del arte, y en forma extraiga a la pompa —talvez artificiada—... destácanse finalmente por el realismo con que en ellas se produce el sentimiento de la natureza exterior y psíquica e n los dialogos de la Enamorada con las olas del mar (Cantigas I y VII), en la canción de su triste soledad (Cantiga IV) y en la interrogacion que hace en el estribillo de la cantiga VII:

porqué tarda meu amigo
sen mi?»

Ei-las, essas cantigas, tais quais chegaram até nós, nos três diferentes manuscritos que no-las transmitiram:

Notas

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  1. No citado artigo diz D. Carolina Michaëlis: «que Martim Codax, muito poético, mas pouco correcto, se afasta das regras consagradas em mais de um ponto... que, quanto ao scenário, substituíu..., como confidentes naturais das namoradinhas, as flores e as árvores floridas (pinheiro, aveleira e milgranada) pelas ondas do mar e pela linda ria de Vigo... quanto às formas... nem de longe emprega sempre rimas sinónimas, nem mesmo palavras objectivas, lexicográficas. Bastas vezes se encontram nos seus versos rimas incolores, cómo migo, comigo, e a êsse migo, comigo opõe ora mandado, ora grado, ora trago, ora ambos. Peca portanto contra as leis do paralelismo. Em vista disso não admira que também repetidamente oposesse ao nome próprio Vigo... que menciona em tôdas as suas composições, menos uma, ora manho, ora sagrado, ora levado». Efectivamente na 1.ª cantiga, em lugar de Vigo, esperar-se-ia salido, que é o paralelo costumado a levado, como se pode ver na 760.ª do C. V. e na 3.ª do próprio Codax. Também na 2.ª se acha amigo, correspondendo a privado, em vez de válido, «o verdadeiro sinónimo de privado, usado nos Livros de Linhagens e nos Cancioneiros» (D. Carolina Michaëlis).
  2. D. Carolina Michaëlis é pela manutenção da conjunção e, que __diz ela no referido artigo__ os trovadores gostavam de empregar antes e depois de exclamações (vid. C. A. v. 962).
  3. Aí diz êle: «Lo que puede afirmarse, sin duda alguna, es que las Melodias Codacianas son genuïnamente gallegas; tienen todo el sabor y el encanto de las que aún hoy dia podemos oír a nuestros campesinos y llevan en su entraña el quid musical de la raza, conservado hasta el presente, por lo visto, dada la comparacion que podemos hacer entre las actuales y las Codacianas del sylo XIII. La tonalidad es la misma, los giros melódicos iguales y las cadências del todo conformes con las de nuestros Alalás.» (Numa conversa que, na tarde de 31 de Agõsto de 1927, tive com o mesmo reverendo snr., há pouco falecido, confirmou-me êle o que escrevera em 1917. A sua qualidade de galego, pois era natural de Santiago, e o conhecimento especial que tinha da música e das cantigas populares davam-lhe autoridade mais que suficiente para falar do assunto). E Oviedo y Arce, no mesmo Boletin, a pág. 238 do n.º 117, exprime-se assim «Las Melodias Codacianas distinguense de las que hoy resuenam en las marinas o en los campos galaicos en la medida en que la lengua del antiguo juglar gallego se distingue de la que habla nuestro pueblo al presente. El arcaismo del habla de Codax es el mismo de su música. Las diferências morfológicas y sintáticas de la lengua antígua y nueva percibense igualmente en las viejas y nuevas melodias.» Numa conferência, que, sôbre Trovadores e jograis galego-portugueses, fiz, em Junho de 1925, no salão do Teatro de S. Carlos e repeti depois, em Agõsto, no curso de Férias da Universidade de Coimbra, foram as cantigas codacianas cantadas com acompanhamento ao piano.
  4. Dá exemplos do facto, na poesia espanhola, Menendez Pidal, a pág. 45 a 52 do seu El Romancero.
  5. O snr. Sílvio Pellegrini, na sua crítica à minha edição das Cantigas d'amigo dos trovadores galego-portugueses, publicada no n.º 2 do vol. XIV do Archivum Romanicum, dando, a pág. 283 e seguintes, interpretação errada a expressões minhas (estas, por exemplo: «que elas foram decalcadas sôbre outras cantadas pelo povo; são puras imitações doutras que o povo cantava; as lindas cantigas que os trovadores galécio-portugueses punham na bôca das solteirinhas do seu tempo, sem dúvida à imitação doutras que elas cantavam» e outras equivalentes), nas quais afirmo que sobretudo os autores das paralelísticas, ao compô-las, seguiram modelos anteriores, provenientes naturalmente de outros poetas e que êles encontraram no povo do seu tempo, atribuí-me opinião que nunca tive, de que tais cantigas eram produto da nação inteira, tomada no seu conjunto.
  6. Opusculos, vol. IV, pág. 1133.
  7. D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos, no artigo a que atrás me referi, alvitra que talvez o segundo nome do jogral fôsse não Codax, mas Codaz, como se lê numa glossa, incluída na cantiga, n.º 882 do Cancioneiro da Vaticana, que contudo não se acha no de Colocci-Brancuti, e explica êste nome como equivalente a «o que tem grandes cotos ou braços.» Note-se que o x e z finais, na antiga língua, tinham o mesmo valor; cf. a minha edição das Cantigas d'amigo, vol. I, pág. 364.
  8. Informa Oviedo y Arco que as rias galegas no Codex Calixtinus e História Compostellana são denominadas maria Sanai Jacobi.
  9. Segundo Oviedo y Arce, é esta a mesma que ainda lá existe, sob o nome de Santa Maria, e é conhecida vulgarmente pela Colegiada, a qual tendo sido românica a princípio, a quando da sua construção, que, parece, remonta ao século XII, foi depois substituída por outra gótica, que por sua vez cedeu o lugar à actual, em estilo neo-clássico. Do pequeno largo, sem dúvida mais ou menos correspondente ao sagrado do trovador, que lhe fica em frente e sobretudo do ou tro quási contíguo, mas em plano um pouco inferior, avista-se ainda hoje a baía, daí dizer a namorada do poeta que mirariam as ondas ela e as companheiras.
  10. Sôbre esta denominação veja-se D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Cancioneiro da Ajuda, II, pág. 893, n. 4.
  11. Pág. 130 do n.º 113 do citado Boletin.