Cartas de Nietzsche/1886/I
Sils Maria, 14 de julho de 1886
Querido amigo,
Também teria gostado muito de revê-lo este ano, mas sei que não será possível. Meu plano de passar o verão na floresta de Thuringian e o outono em Munique está soçobrando pela força maior (ou menor) de minha doença. Presentemente, a vida na Alemanha me é inteiramente prejudicial; seu efeito é o envenamento e a debilitação. E em qualquer momento que eu lá esteja meu desprezo pela humanidade cresce em proporções perigosas.[..]
Até agora Fritzsch não foi capaz de entrar num acordo com Schmeitzner. Mas provavelmente ainda irá, já que ele parece ter grande apreço em ter o “Nietzsche inteiro” tanto quanto o “Wagner inteiro” em sua editora – um ajuntamento que profundamente me agrada . De modo geral, R. W. [Wagner] foi, de longe, o único – ou pelo menos o primeiro – que teve alguma simpatia pelo que sou. (O que para minha desgraça Rohde, por exemplo, parece não ter a mínima idéia, não importando o sentimento de obrigação que ele tenha em relação a mim). Nesta atmosfera universitárias as melhores pessoas se degeneram. Eu sempre sinto que o poder maior e mais oculto de tipos como R. é a extrema indiferença generalizada e a falta de fé suas próprias coisas. Que alguém como eu esteja vivendo com problemas diu noctuque incubando e tenha sua agonia e felicidade nisto somente – quem se importaria com isto? R. Wagner, como mencionei, teve, e é por isso que Tribschen [onde Wagner morava] me entreteve tanto, ao passo que agora eu não tenho mais nenhum lugar ou pessoa que me entretenha. – [...]