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Casos do Romualdo/VII

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Mais vale jeito que força.

O meu cavalinho, o Gemada, era um ótimo animal, de cômodo e rédea: marrequeiro fino e até farejador de perdizes, pelo hábito aprendido com a minha cachorra Tetéia, que foi uma maravilha.

Mas o Gemada tinha uma balda; a não ser comigo, não havia quem o obrigasse a passar um rio, em balsa.

Para cavalo era até uma burrice, isso; pois os próprios cavalos confessam - confessam pelo comportamento - que é muito mais agradável atravessar o rio na balsa, do que nadando: cansa menos e não é tão frio...

O Gemada, porém, era refratário a tais comodidades.

Fosse um peão ou qualquer outra pessoa fazê-lo entrar na balsa: gastaria horas, zangar-se-ia, cairia n'água e nada arranjava: o cavalo firmava-se, recuava, pulava, empacava-se, mas não entrava; a cacete, então era pior: empinava-se, couceava, mordia, mas não ia...

Ora, certa vez que, da barranca, eu assistia a uma dessas cenas, e tendo muita pressa e pouca paciência para fazê-lo passar a nado e encilbar do outro lado; enquanto o balseiro, já cansado de firmar a embarcação, praguejava, e o peão, já de mau humor, dava sofrenaços e tirões, e um outro auxiliar já estava rouco de tanto gritar com o cavalo, e embarreado e encharcado; enquanto essa luta durava, a mim fervia-me o sangue, e batia o queixo, enraivado, como que sacudido por febre de sezões...

Não me contive.

Desci da barranca, tomei o cavalo, apertei muito bem os arreios montei e mandei que os peães se afastassem, e que o balseiro, encostando bem a balsa à beira do rio, apenas a segurasse com a mão, de terra.

Isto feito, afastei-me como umas sete braças, firmei as rédeas e cravei as esporas na barriga do cavalo teimoso: ele gemeu com a dor, mosqueou, e saltou pra frente, como unia mola!

Daquele arranco vim à praia, e sempre tocado de espora e rebenque, de pulo, o Gemada atirou-se dentro da balsa, comigo em cima, olé!

O impulso para diante foi tão forte, que a balsa, como uma flecha, deslizou sobre a água e foi, certinha, abicar na outra margem!...

E conforme lá cheguei, tomei a cravar as esporas no Gemada, e ele, desesperado, arrancou, e, de pulo, atirou-se da balsa para terra...

O impulso para trás foi tão forte, que a balsa desandou sobre a água, e foi certinha, como uma flecha, abicar na margem donde havia saído...

Fora esse, exatamente, o cálculo que eu havia feito.

Dai por diante nunca mais inquietei-me. Havia rio para passar, em balsa? Ora!

Espora... pulo.., balsa pra lá!

Espora... pulo.., balsa pra cá!