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Descripçaõ topografica, e historica da Cidade do Porto

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DESCRIPÇAÕ
TOPOGRAFICA, E HISTORICA
DA
CIDADE DO PORTO.
Que contém

A ſua Origem, Situaçaõ, e Antiguidades : A magnificencia dos ſeus Templos, Moſteiros, Hoſpitaes, Ruas, Praças, Edifícios, e Fontes : O número dos ſeus Habitadores, o ſeu Caraćter, Genio, Coſtumes, e Religiaõ que profeſſaõ : Os Appellîdos das Famílias Illuſtres, que nella reſidem : O Catalogo Chronologico dos ſeus Biſpos : Os Governos Eccleſiaſtico, Civil, Militar, Politico : O naſcimento do grande Rio Douro, que a banha, e fórma a ſua Barra : As producçoens da Natureza, e Induſtria, que augmentaõ os Ramos do ſeu Commercio, e promovem as Fabricas, que tem eſtabelecidas : Os Privilegios, Iſençoens, e Regalîas, que a engrandecem : A noticia dos Homens, e das Mulheres Illuſtres em Virtudes, Letras, e Armas, que della ſaõ naturaes

&c. &c. &c.
Enriquecida com Eſtampas, e Mappas curioſos, que
a ornaõ.
FEITA POR
AGOSTINHO REBELLO DA COSTA
Presbytero Bracarenſe, Doutor em Theologia, e Ca-
valleiro profeſſo na Ordem de Chriſto.


PORTO:
Na Officina de ANTONIO ALVAREZ RIBEIRO.
Anno de MDCCLXXXIX.
Com licença da Real Meſa da Commiſſaõ Geral
ſobre o Exame, e Cenſura dos livros.
Foi taixado eſte livro em mil e duzentos reis em papel. Meza 27. de Outubro de 1788.
Com tres Rubricas.
ADVERTENCIA NECESSARIA.
 


MOvidos pelos rógos e inſtancias dos ſeus Amigos, e d’algumas Peſſoas ſábias, he, que muitos Eſcriptores proteſtaõ, que produzem em Público as ſuas obras : elles fazem por eſta cauſa longos, e fatigantes Prefacios : elles ſe esforçaõ em amontoar reíteradas, e impertinentes ſatisfaçoens, que em lugar de lhes adquirirem o glorioſo nome de Deſentereſſados, os moſtraõ ávidos de gloria, capeáda com o disfarce do proprio louvor.

Outra verêda totalmente oppoſta a eſte caminho taõ frequente, e trilhado, me levou a fazer pública eſta Deſcripçaõ Topografica, e Hiſtorica. Bem longe de ſer conſtrangido por homens intelligentes, e imparciaes a que a emprendeſſe, e imprimiſſe, foraõ elles meſmos, os que me propozeraõ as ſeguintes razoens para diſſuadir-me. I. Que ſe eu me applicaſſe a compôr huma Geografía de Portugal, ou a arranjar, e imprimir alguns dos muitos Sermoens, que tenho prégado neſte Reino, ſeria eſta huma occupaçaõ intereſſante, e digna da aceitaçaõ geral, o que certamente naõ aconteceria com o limitado objećto, de que trata eſte livro. II. Que com elle darei cauſa a que muitos dos Leitores ſe perſuádaõ, que eu fui algum homem de fortuna eſtabelecido neſta Cidade, aonde vendo-me tranſplantado do ſeio da indigencia, para o centro da fartura com as riquezas que nella adquirira, a quiz liſongear por eſte modo. III. Que a preziſtir o meu goſto neſte genero de compoſiçaõ deſcreveſſe a Cidade de Braga, que o merecia mais dignamente, aſſim por ſer minha Patria, como pelos admiraveis, e ſacrofanćtos prodigios, que realçaõ a ſua gloria. IV. Que era impoſſivel ſer eſta Obra bem aceita dos Portuenſes, porque ſe pintaſſe verdadeiramente o ſeu Caraćter, devia repreſentá-los como gente ambicioſa, que tudo ſacrifica ao ſeu intereſſe, inimiga da boa inſtrucçaõ, e bellas letras. V. Que ſe eu naõ fallar da grandeza de huma ou outra Caza, Jardim, ou ainda pequeno Vergel pertencente a Indivíduos infatuádos de que merecem huma bella deſcripçaõ, certamente eſtes ſeraõ outros tantos Ariſtarcos, e Zoilos inhumanos, que ſe voltaráõ contra mim VI. Que tratando, finalmente, eſte livro de huma Cidade, que cada hum figura na ſua fantazia confórme a contempla, era impoſſivel que agradaſſe o plano, que della fizeſſe.

Ingenuamente confeſſo , que eſtas multiplicadas, ainda que imprudentes reflexoens, me conſternáraõ à primeira viſta. Indeciſo no que faria, naõ me deliberava a continuar na execuçaõ do projećto, que tinha concebido.

Porém vendo eu I., que a Deſcripçaõ de huma Cidade, naõ he obra de taõ pouco momento, que naõ mereceſſe a applicaçaõ dos grandes engenhos da França em deſcrever Pariz, Orleans, Bourdeaux, Marſelha &c. dos de Inglaterra em deſcrever Londres, Cantorberi, Yorck &c. dos do noſſo Portugal em fazer públicas as grandezas de Lisboa, e de outras Cidades, e Villas naõ ſe eximindo alguns de deſcrever huma Igreja, e ainda hum ſó Altar, ([1]) que muito era, que eu me entretiveſſe em fazer a Deſcripçaõ de huma Cidade, que he a primeira de Portugal, depois da ſua Côrte! Naõ ignoro, que aſſim como há dous annos imprimi as Oraçoens Panegiricas, que recitei na feſtividade de Santa Thereſa de Jeſus, podia igualmente imprimir ſeis volumes de Sermoens eſcolhidos entre os muitos que tenho prégado; mas, e que intereſſe poderá tirar o Público deſſa Obra, quando todos os dias apparecem copioſos volumes de outras ſimilhantes, impreſſos nas lingoas mais cultas da Europa? II.: Sendo certo, e bem notorio, que eu naõ me eſtabeleci neſta Cidade a procurar fortuna, pois que nem o meu Eſtado, nem o ſufficiente Patrimonio que herdei dos meus Maiores he dependente de tal auxilio, ninguém ſe perſuadirá, que a obrigaçaõ, ou a dependencia, me conſtrangeo a ſer com ella liſongeiro; antes ſim, o que digo a ſeu reſpeito deve ſer mais acreditado, conhecendo-ſe, que nem a paixaõ de ſeu Natural, nem o eſtimulo do intereſſe me obrigou a fallar. III. Naõ me reſolvi a eſcrever as Excellencias, Grandezas, e Antiguidades de Braga, porque além de eſtarem já públicas por hum A. erudito, ([2]) ellas ſaõ de hum merecimento taõ excelſo, que pareceriaõ hiperbolicas na boca de hum ſeu Patriota. IV. Eſta pintura, que me faziaõ dos Portuenſes revoltáva-me o animo, porque vivendo com elles há vinte annos, e communicando-me com muitas Familias civilizadas, nunca lhes divizei tal Caraćter. V. Como naõ ſou obrigado a deſcrever ſingularmente todas as Cazas, e Jardins, de que ſe compoem eſta Cidade, bem pouco me importaõ as declamaçoens dos ignorantes. VI. As idéas dos homens, aſſim como diferem na quantidade, aſſim ſe oppoem na qualidade, razaõ, porque ſeria eu impertinente, ſe quizeſſe concordar com a minha idéa, as infinitas de tantos homens.

Iſto baſtaria a juſtificar-me, ſe naõ deveſſe inteirar o Leitor benevolo dos urgentes motivos, que me forçáraõ a publicar eſta Deſcripçaõ. Conſiſtem elles, em que ſendo a Cidade do Porto na riqueza, na dignidade, na grandeza a ſegunda de Portugal, merece taõ pouco a alguns Geógrafos eſtrangeiros, que abſolutamente fallaõ della com pouca, ou nenhuma exaćtidaõ. Copiaõ-ſe huns aos outros, e os erros ſe multiplicaõ infinitamente.

Dizem, que ella he a ſegunda Cidade de Entre Douro e Minho. Talves, que eſte erro naſceſſe de ſer o ſeu Biſpo ſuffraganeo do Arcebiſpo de Braga; porém, e que faz a Juriſdicçaõ Eccleſiasſtica, para que huma Povoaçaõ ſeja, ou deixe de ſer Capital? Madrid naõ he Cidade Archiepiſcopal, nem Epiſcopal, e com tudo he Capital de Heſpanha : Madrit eſt devenue la Ville Capitale du Royaume d'Eſpagne, dis Moreri.[3] Pariz, ainda nos principios do ſeculo paſſado, era Aſſento de hum Biſpo ſuffraganeo do Arcebiſpo de Sens, e por iſſo deixava de ſer a Capital da Monarchia Franceza?

Dizem mais, que ella naõ he muito populoſa em tempo de guerra; que naõ tem outro Commercio, que o dos Vinhos; que he huma Colonia dos Inglezes, e que ſaõ eſtes os unicos Commerciantes, que nella rezidem. Pódem achar-ſe erros mais craſſos, e palmares?

A meſma famoſa Encyclopedia,[4] que nos artigos dependentes do puro diſcurſo, ſe faz acredora dos applauſos, que tem adquirido no Orbe literario, naõ deixa de padecer ſeus erros, naquelles, em que os ſeus eruditiſſimos AA. ſe viraõ, na dura neceſſidade de ſervir-ſe de guias infieis, e de relaçoens alheias. Na parte Geográfica valeraõ-ſe da Geografía do Alemaõ Hubner, que fóra da Deſcripçaõ de Alemanha, cahio em muitos enganos. Voltaire, a pezar dos ſeus muitos deslumbramentos, que miſeravelmente manifeſtou no Diccionario, que ultimamente ſe imprimio com o titulo de Queſtions ſur l' Encyclopedie,[5] tem razaõ de zombar de algumas noticias pouco viridicas deſte Geógrafo.

No que reſpeita ao Porto, aſſevera-ſe na ſobredita Encyclopedia,[6] que eſta Cidade tem ſó quatro mil Bourgeois, iſto he Cidadaõs, ou Paizanos. Que eſtranha equivocaçaõ! Naõ há dúvida, que algumas Geografîas antigas Portuguezas, e Caſtelhanas, eſcriptas muito antes de ter o Porto chegado á grandeza em que hoje eſtá, lhe daõ quatro mil viſinhos mas na lingoagem deſtas Geografías, a palavra Viſinhos, quer dizer Fógos, ou Familias, e naõ Paizanos.

Tambem na mencionada Encyclopedia, e em quaſi todos os Geógrafos eſtrangeiros ſe nomeaõ Uriel da Coſta, e Vaſco de Lobeira, como os unicos Eſcriptores naturaes deſta Cidade; quando do Capítulo IX. deſta Deſcripçaõ Topografica ſe vê, que ſe contaõ ás duzias os que ſaõ muito ſuperiores em merecimento áquelles dous. E aſſim diſcorrendo por outros muitos pontos em que erráraõ os ditos Geógrafos a reſpeito deſta Cidade, claramente ſe moſtra, que para evitar tantos, e taõ repetidos enganos, devo fazer pública eſta Deſcripçaõ.

  1. O Altar de JESUS MARIA JOZÉ, collocado na Igreja da Congregaçaõ do Oratorio deſta Cidade do Porto. Por hum Padre da meſma Congregaçaõ.
  2. O P. Argote. Naõ merece menor attençaõ o Illuſtriſſimo Cunha no Cat. dos Arcebiſpos de Braga, e Rezende no pequeno Poema que fez a eſta Cidade.
  3. Nota de Transcrição: Louis Moréri em Le grand dictionnaire historique.
  4. Nota de Transcrição: vide L'Encyclopédie, co-editada por d'Alembert e Diderot.
  5. Nota de Transcrição: vide Géographie por Voltaire em Dictionnaire philosophique.
  6. Nota de Transcrição: vide PORTO por Jaucourt em L'Encyclopédie.

Devo também advertir o Leitor, que a folhas 135: deſte livro em que ſe falla do Governo Eccleſiaſtico, deve-ſe accreſcentar, que além do Deſtribuidor, e Inquiridor, tem mais hum Contador; e a folhas 354 aonde ſe diz que Jozé Corrêa de Mello foi Tenente Capitaõ da Marinha, ſe deve ler que foi Capitaõ Tenente, Commandante, &c. e filho de Martim Affonſo de Mello Moço Fidalgo com exercicio accreſcentado a Fidalgo Eſcudeiro, e de ſua mulher D. Jeronyma Joaquina de Souza Soutomaior. As outras erratas, e emendas vaõ no fim deſte meſmo livro.

DESCRIPÇAÕ PRELIMINAR
DA
PROVINCIA
D'ENTRE DOURO, E MINHO.

PArece neceſſario, que havendo eu de deſcrever a ſituaçaõ, e antiguidades da Cidade do Porto, diga alguma couſa da Provincia d'entre Douro, e Minho; cujos intereſſes ſaõ entre ſi taõ reciprocos, que naõ ſómente a Cidade utiliza á Provincia pelo continuo, e notavel conſumo, que dá aos ſeus frućtos, pelo valor apreciavel com que os faz eſtimar das Naçoens eſtrangeiras, e pela facilidade com que os tranſporta deſde o Rio Douro, até os pórtos do Brazil, e outras conquiſtas de Portugal; mas também a Provincia beneficîa a Cidade com os multiplicados generos das ſuas producçoens, e excellentes obras das ſuas manufaćturas, que diariamente lhe envia. He juntamente eſta Provincia a mais agradavel, a mais amena, a mais induſtrioſa entre todas as do Reino; razoens eſtas, que me obrigaõ a fazer della huma breviſſima Deſcripçaõ, que preceda á da Cidade do Porto. Eſpero que o Leitor a conhecerá util, ſe tiver a paciencia de ler o Capitulo VI., em que fallarei do Commercio.

[1] Na parte mais ſeptentrional do Reino, he que eſtá ſituada eſta fertiliſſima Provincia. Tem por limites ao Norte, o Rio Minho, que a ſepára de Galliza; ao Meio dia, o Rio Douro, que a divide da Provincia da Beira; ao Occidente, o Oceano Atlantico; ao Naſcente, a grande Serra do Maraõ. Dilata-ſe deſde Norte a Sul com dezoito legoas de comprimento, e doze de largura em algumas partes, e em outras tem ſómente oito. A ſua grande fertilidade; o multiplicado número dos ſeus habitadores; tres Cidades, que a engrandecem, duas das quaes ſaõ depois de Lisboa, as maiores do Reino; as ſucceſſivas e formoſas Villas, Caſtellos, e Lugares, que nella ſe admiraõ; tudo concorre para que ſeja a mais povoada entre as outras Provincias de Portugal. As copioſas correntes de muitos, e caudaloſos rios, que a banhaõ; duzentas e vinte pontes de pedra, que os atraveſſaõ; o prodigioſo número de vinte e ſeis mil fontes públicas, álem de outras tantas particulares, ſem contar os póços d'agoa nativa e puriſſima, que ſaõ innumeraveis, faz com que agradecida a terra á cultura, e trabalho dos lavradores, produza todos os frućtos os mais goſtoſos, e neceſſarios á ſubſiſtencia, e regalo do homem. [2] Os rios mais famoſos que a banhaõ, e cingem quaſi por todos os lados, ſaõ o Douro, Minho, Lima, Cávado, Ave, Tamaga, Neiva, Souſa, Leſſa. He innumeravel a variedade de peixes, que nelles ſe peſcaõ. Os mais eſtimaveis, e goſtoſos ſaõ as Lampreias, Saveis, Salmoens, Trutas, Taînhas, Robálos, Solhos, Barbos, e Mugens. O número dos pequenos rios, he quaſi infinito; mas o ſeu perenne curſo, naõ he taõ limitado, que deixe algumas vezes de formar, ainda no interior dos veraõs, grandes enchentes. Hum delles chamado o Deſte, que banha da parte do Sul hum arrabalde da Cidade de Braga, formou no ultimo de Junho de mil ſettecentos e ſettenta e nove huma inundaçaõ taõ groſſa, e precipitada, que affogou na ſua corrente, trinta e duas peſſoas, arrancando muitas arvores, e demolindo juntamente com a furia das ſuas agoas algumas cazas, moinhos, azenhas, álem do deſperdicio que fez em o gado, e nos dilatados e viçoſos campos, que formaõ as ſuas margens.

[3] Os pórtos de mar ſaõ ſeis; o Caminha, Vianna, Eſpozende, Villa do Conde, Matozinhos, e Porto. No primeiro engolfa-ſe o rio Minho, no ſegundo o Lima, no terceiro o Cávado, no quarto o Ave, no quinto o Leſſa, no ſexto o Douro. De todos eſtes portos, os mais famoſos ſaõ os de Vianna, e Porto. Eſte ultimo o deſcreverei no Capitulo do Commercio. No porto de Vianna, aonde até o anno de mil ſettecentos e quarenta entravaõ muitas e grandes embarcaçoens, hoje apenas entraõ alguns hyates, e pequenos navios; porque a groſſa negociaçaõ da Cidade do Porto abſorveo a maior parte do ſeu Commercio. As Lanchas, que diariamente ſahem deſtes pórtos, e das prayas da Póvoa a peſcarem no alto mar, paſſaõ de trezentas. Eſta prodigioſa multidaõ de lanchas, faz com que jámais falte em toda a Provincia peixe freſco e em preço commodo, eſtando bom o tempo.

[4] Sobre as agradaveis campinas, e florídos valles, por onde paſſaõ os principaes rios, levantaõ-ſe alcantilados, e ſoberbos Montes, dos quaes abunda eſta Provincia; e por eſta ſa, he a mais montuóſa do Reino, depois da Beira, e Trás os Montes. Os mais elevados ſaõ; a Serra do Gerez, que atraveſſando huma grande parte de Caſtella, vem acabar em Portugal. Nella há muitas cabras braviſſimas,[5] e de taõ extraordinaria grandeza, que em nenhuma outra Serra, ou Monte apparecem ſimilhantes. Tem o pêllo muito curto, pardo, e fino: as pontas muito grandes, e agudas, Saõ furioſas no tempo do cio, e as mais acauteladas quando paſtaõ, revezando-ſe humas ás outras em ſentinellas avançadas, para com os ſeus altos bramidos darem aviſo no meſmo inſtante em que ſentem gente; entaõ retiraõ-ſe com velocidade incrivel ao alto dos eſcarpados rochedos inacceſſiveis aos tiros dos caçadores. Há tambem nos cumes deſta dilatada Serra muitas Aguias Reaes, Falcoens, Javalîs, Lobos, e algumas Serpentes. As arvores que a povoaõ ſaõ as mais raras, e formoſas de todo o Reino, tanto em folhas, como em flores. Dallî tem ido para o Jardim do Rei, para o Paſſeio Publico de Lisboa, e para os jardins curioſos de Particulares. As ſalutiferas Caldas, ás quaes eſta Serra deu o nome; porque eſtaõ ſitas nas ſuas fraldas, ſeis legoas ao Naſcente de Braga, ſaõ as que mais exaltaõ eſtas raridades. Depois deſta Serra, ſegue-ſe em grandeza a do Maraõ, a de Santa Catharina, a da Falperra, a da Labruja: os montes de Ayró, Aboboreira, Agrella, Carriſſa, S. Gens, Ermello &c. Saõ eſtes montes povoados de madeiras groſſas, altas, e fortes. He innumeravel a caça, que neles paſta, e que entretem o divertimento dos caçadores, o augmento e goſto das mezas. Os Veados, Corças, Lobos, e Javalîs naõ ſaõ taõ ferozes que devorem, ou ainda acomettaõ os homens. Apenas os Lobos aſſaltaõ os pingues rebanhos, que nelles ſe apaſcentaõ.

[6] A amenidade dos valles produz tudo quando he neceſſario para a ſubſiſtencia do homem. A quantidade de paõ e vinho, que he o ſeu frućto mais copioſo, naõ ſomente he baſtante para o ſuſtento dos ſeus habitadores; mas ainda ſobeja para ſoccorrer outras Provincias. Aquelles Eſcriptores, que dizem o contrario, ou nunca viraõ a ſua fecunda producçaõ, ou ignoraõ que ſómente para a Cidade de Lisboa, ella envia em alguns annos pelas barras de Vianna, e Porto, de cem até duzentos mil alqueires de milhaõ: eſte genero he o mais ordinario, que ſe colhe das ſementeiras; há canas delle, que produzem a cinco e ſeis eſpigas: eu vi muitas deſtas em differentes Quintas. Eſte veraõ paſſado, admirei huma na Quinta de Boyalvo viſinha ao Douro, que tinha nove eſpigas, quatro vermelhas, e cinco amarellas todas grandes, e bem ſazonadas: eſta abundancia he igual em tudo. Dizem haver Nogueira, que dá cincoenta alqueires de nozes: Caſtanheiro, que dá hum moyo de caſtanhas: Laranjeira, que dá ſeis carros de laranjas: Pé de vide enroſcada em carvalho, que dá pipa de vinho: Oliveira, que dá mais de trinta alqueires d'azeitonas: Carvalheira, que dá mais de quarenta alqueires de glandes. A colheita de linho, e canamo, he hum dos ramos o mais fecundo entre todas as ſuas producçoens: em nenhuma Provincia do Reino, ou ainda em todas juntas, ſe fabricaõ tantas, e taõ precioſas têas de panno o mais fino e duravel, que excede na qualidade as finas Hollandas: Chega a dous milhoes de cruzados o lucro, que ſe extrahe annualmente deſta louvavel fabrica. Fallo taõ ſómente do linho, e canamo, que naſce neſta Provincia; porque ſe ſe fizer conta ao lucro, que ſe extrahe do panno, eſtopa, toalhas de meza, cordagens, calabres, e outras obras, que ſe fabricaõ do linho, que o mar Baltico envia dos pórtos de Riga, Memel, Pernau ao da Cidade do Porto, chegará quaſi a hum milhaõ de cruzados o lucro, que fica na Provincia, ſobre o cuſto do referido linho, e canamo. Em poucos annos elle chegará a hum intereſſe duplicado, e aſſim tambem muitas das outras producçoens, ſe apparecerem Portuguezes, que queiraõ aggregar-ſe á Sociedade Economica dos bons Patriotas, amigos do BemPublico eſtabelecida na Villa de Ponte do Lima, a qual continua em proſperar o Reino com as laborioſas fadigas, e induſtrioſos inventos, que excogita, para que o exercicio, e trabalho dos Lavradores, Fabricantes &c. ſe augmente, e chegue a huma conſiſtencia ultima de uteis, e vantajoſos intereſſes. O gado, que paſta pelas Ribeiras, e Montes deſta Provincia, he copioſiſſimo. O numero de Bois, e Vacas, paſſa de quatro centos mil; de Carneiros, Ovelhas, Cabras, e Porcos, chega a dous milhoens. O prezunto he de hum goſto ſingular, e aſſim meſmo todos os outros viveres, principalmente os das Ribeiras Lima, Baſto, Melgaço, e Barca.

[7] A meſma riqueza ſe conhece nas Minas d'ouro, e prata, que ainda hoje conſerva nas ſuas entranhas. Eſta Provincia juntamente com Galliza, rendia cada anno em Direitos, que das ſuas Minas pagava aos Romanos, trinta mil marcos d'ouro. Álem das que ſe deſcobriraõ pelos annos de mil e duzentos e cincoenta no Termo de Barcellos, apparecêraõ muito depois neſte meſmo Termo alguns minaraes de pedras precioſas, e entre ellas, muitas Safiras, das quaes ſe vendeo huma na Cidade de Pariz no anno de mil e ſeiscentos e trinta e ſeis, por ſettenta mil cruzados. Nas vizinhanças da Cidade de Pennafiel, e na fregueſia de S. Vicente de Caldellas, Termo da Pica de Regallados, tem-ſe deſcuberto muitos minaraes de Cobre, Eſtanho, e Ferro. ElRei D. Joaõ o III. prohibio a extracçaõ do ouro, e prata deſta Provincia, para que ſe naõ esfriaſſem os animos dos Portuguezes na Conquiſta da India. As arêas do Rio Douro, he conſtante, que ſaõ o Potozî deſte precioſo metal, e que ellas meſmas lhe deraõ o nome, que ſempre conſervou de Rio Douro.[8] He certo, que ſe fizermos huma prudente reflexaõ ſobre as contínuas, e prolongadas guerras com que os povos Turdetanos, Celtas, Cantabros; e depois deſtes os Carthaginezes, e Romanos, ſe devoravaõ huns aos outros para ſenhorearem as Heſpanhas, conheceremos, que o unico attraćtivo, e reclamo, que os chamava de taõ longe, era o precioſo metal do ouro. Naõ menos, ſe advertirmos nas immenſas deſpezas que faziaõ os primeiros Reis deſte Reino, já com multiplicados Exercitos, e contínuas Guerras, já com auxilios, e grandes ſoccorros, que davaõ aos Reis ſeus Alliados, já com Palacios, Templos magnificos, que erigiaõ, ſem que para eſtas deſpezas recebeſſem hum ſó real das Conquiſtas d’Africa, Aſia, e America, pois que ainda entaõ naõ as poſſuiaõ, viremos a concluir, que as Minas do ſeu Reino, principalmente as d’entre Douro, e Minho ſuppriaõ as ſuas muitas deſpezas.

[9] Augmenta-ſe notavelmente a riqueza deſta Provincia com a multidaõ das ſuas Fabricas. Naõ ſó ella abunda das que acima diſſe, fallando das producçoens do canamo, e linho, mas tambem occupa milhares de homens, e mulheres na conſtrucçaó das melhores ſedas, fitas, e ligas, das quaes ſe contaõ multiplicados teares. A Cidade de Braga, póde-ſe dizer ſem hyperbole, que he quaſi toda huma fabrica de Chapeos, Ferragens, Caixas, Tinteiros, Cópos, e outras obras, que ſe fazem das pontas do gado vacum. A Villa de Guimaraens eſtá chêa de Cutelleiros, e Tecelaõs, que poderiaõ prover das fazendas, que fabricaõ, o Reino e ſuas Conquiſtas. As próprias Aldêas, e Lugares occupaõ-ſe em todo o genero de Artefaćtos, chegando a induſtria dos Minhotos a tecer baetas da meſma qualidade, que as de Inglaterra, e França, e pannos taõ finos, como os de Hollanda. Poderiaõ facilmente os naturaes deſta Provincia abaſtecer as outras deſtes generos, e ainda de todas as fazendas, que os Reinos eſtranhos nos introduzem, ſe huma poderoſa Maõ os animaſſe, e a noſſa preoccupaçaõ naõ nos fizeſſe reputar com vantagem, tudo o que vem de Paîzes eſtrangeiros.

[10] O clima, he entre os bons o mais ſaudavel, porque álem da ſua ſituaçaõ, que eſtá entre o parallelo de quarenta e hum, e quarenta e dous gráos de altura do polo Arćtico, tambem concorre viſivelmente a pureza, e bondade dos ſeus áres, para a conſervaçaõ da ſaude dos póvos. Rariſſimas, ou nenhumas enfermidades epidemicas os acomettem. Tem-ſe obſervado, que em quaſi todos os contagios, e ataques do mal da peſte, tem ſido illeza eſta Provincia. Pode-ſe dizer, que nella reſide huma Primavera perpetua. O veraõ por mais ardente que ſeja, em nada he moleſto aos ſeus naturaes, ou eſtrangeiros, que viájaõ pelas ſuas eſtradas; porque naõ ſómente todos os caminhos eſtaõ cercados de copadas arvores, que os raios do Sol eſcaſſamente penetraõ, mas tambem os perennes chorros d'agoa, que rebentaõ por differentes partes, rebatem com a ſua freſcura o ardor do meſmo Sol. Por eſta cauſa muitas Familias do Reino, viájaõ por eſta Provincia, para ſe aproveitarem deſta commodidade taõ deleitavel, que a prefere ás outras de Portugal, e ainda ás de toda a Heſpanha. Talvez que iſto meſmo concorra para a conſervaçaõ das vidas dos ſeus moradores, pois he certo que ellas ſaõ as mais ſadías, e prolongadas. Encontraõ-ſe nella muitos homens, e mulheres de noventa, e de cem annos de idade. Veja-ſe o que a eſte reſpeito diz o incanſavel Hiſtoriador Manoel de Faria e Souſa,[11] e o exaćto Antiquario Gaſpar Eſtaço;[12] e entaõ ſe conhecerá, que as idades de cento e cinco annos eraõ bem ordinarias no ſeu ſeculo, e que ainda alguns homens depois de terem cazado aos noventa e ſette annos de idade, chegavaõ até os cento e trinta e cinco. Couſa prodigioſa, e que vence o que Plinio diſſe dos moradores da Campania.

Naõ concorre menos eſta bondade de clima para a multiplicaçaõ dos individuos, e fecundidade exceſſiva das mulheres. Ellas saõ as mais fecundas entre todas as do Reino. Sem recorrer a antiguidade, ainda hoje vivem muitas, que tem parido vinte e cinco filhos, e algumas trinta. Naõ ſaõ rariſſimas as que parem dous e tres filhos juntamente. A pezar da incredulidade de impertinentes criticos, moſtra-ſe inconteſtavel o que ſe eſcreve da famoſa CALCIA LUCIA mulher de CAIO ATTILIO natural da Cidade de Braga, e nella Governador da Luzitania pelos Romanos. Em hum ſó parto deu á luz nove filhas, que foraõ QUITERIA, GENEBRA, VICTORIA, EUFEMIA, MARINHA, MARCIANA, GERMANA, BAZILIA, E LIBERATA; todas Martyres, e Santas.

Naõ poſſo eſquecer-me do que alguns Aućtores affirmaõ da célebre Maria Mantella. Eſta mulher pario de hum ſó parto ſette filhos. Todos foraõ Sacerdotes, e edificáraõ ſette Igrejas, que ainda hoje exiſtem , a ſaber Santa Maria de Moreiras, Santa Maria de Galvaõ, Villar de Perdizes, Santa Leocadia, Santa Maria de Mercs, o Moſteiro Dozo, e ametade da Igreja da Villa de Chaves. Neſta ultima tiveraõ ſepultura juntamente com ſua Mãi. Sobre a pedra, que lhe ſerve de tampa , lê-ſe eſte humilde, e ſimples Epitafio:

AQUI JAZ MARIA MANTELLA COM SEUS FILHOS ARREDOR DELLA.

[13] Saõ geralmente robuſtos e fortes os naturaes deſta Provincia. A lavoura, he o ordinario exercicio dos Camponezes e Lavradores. Deſde o crepuſculo da manhã até o principio da noute, elles naõ largaõ das maõs o arádo, ou o alviaõ, ou o machado, ou a enxada. Duas couſas ſe fazem notaveis e ſingulares neſta gente do campo: a primeira, que as mulheres cavaõ, áraõ, e fazem todo o trabalho da lavoura, como os homens: a ſegunda, que ſendo o ſeu ordinario ſuſtento, huma comída ruſtica e frugal, aturaõ as maiores fadigas, ſem que ſuccumbaõ ao trabalho, ou eſtraguem a ſaude ; porque eſta he a gente que vive oitenta, noventa e mais annos. As Aldêas e Cazas deſtes meſmos Lavradores, dilataõ-ſe com tal proporçaõ e figura, que em poucos ſitios haverá hum largo tiro de pedra, que naõ ſeja povoado. Daqui ſe originou dizerem muitos, que a terra d‘entre Douro e Minho, he huma Cidade continuada.

[14] O temperamento fleumatico dos Minhotos os conduz á paz e tranquilidade, ainda nas maiores affrontas que recebem. Na Guerra, naõ há Soldados, que ſe moſtrem mais impavidos, e ſe arrogem mais intrepidos aos maiores perigos; na paz, naõ há gente, nem mais quieta, nem mais benigna. A côr, he algum tanto morena animada de hum corado vivo: os cabellos ſaõ groſſos e pretos, os olhos da meſma côr: na Religiaõ ſaõ conſtantes, no traćto agazalhadores, graves nos coſtumes: os que ſeguem as letras fazem nellas admiraveis progreſſos de ſórte, que a Univerſidade de Coimbra, os deſtingue ſempre com louvor entre os ſeus Alumnos. Saõ claros teſtemunhos deſta verdade os excellentes, e eruditos livros, que elles daõ á luz publica, e illuſtraõ as melhores livrarias.

[15] A reſpeito dos trajes ordinarios, e uſuaes, há differença notavel entre os Cidadaõs, e Camponezes, bem como em todos os Reinos da Europa ſe obſerva. Os Cidadaõs trajaõ ſegundo a formalidade da Côrte. As mulheres ſahem ordinariamente a publico de ſayas pretas, e mantilhas da meſma côr, uſo eſte, que herdaraõ dos Arabes, ou dos antigos Portuguezes, que o inventáraõ para maior recato das ſuas familias. Os Camponezes veſtem-ſe nos dias de lavoura de panno groſſo, e cálçaõ tamancos, ou ſóccos. Mas nos dias feſtivos imitaõ os Cidadaõs no aceio, e riqueza dos veſtidos. Naõ temo dizer, que o ouro, que ſerve de ornato ás mulheres do campo, excede o valor de trinta milhoens de cruzados. Há muitas fregueſias, que em cordoens, cadeados, contas, laços, brincos e outras peças todas de ouro macîço, tem cada huma, duas ou ainda tres arrobas deſte metal. Naõ fallo em algumas da Cidade do Porto, aonde ſomente as da , S. Nicoláu, e Santo Ildefonſo paſſaráõ talvez de trinta arrobas. Nas Commarcas da Maya, e Pennafiel, há mais de cincoenta fregueſias notaveis neſta riqueza: eu meſmo vi nas fregueſias d'Agoas Santas e S. Coſme ſuburbanas deſta Cidade dous Andores em differentes dias feſtivos, ornados (ſegundo o goſto da aldêa) com tantas peças de ouro, que pezáraõ as de cada hum; duas arrobas, e oito arrateis. Aſſeguraraõ-me peſſoas dignas de credito, que ainda allî naõ eſtava todo o ouro daquellas fregueſias, e que em muitas das circumviſinhas, havia a meſma riqueza. He indubitavel, que até as proprias meninas, que apaſcentaõ os gados pelos montes, trazem diariamente ao peſcoço cordoens, ou contas delle, e aſſim também rariſſima ſerá a lavradeira, que naõ poſſûa huma, ou muitas peças ſimilliantes. Conſtando pois toda eſta Provincia de 1519 fregueſias, julgue o Leitor quanto importará o ouro, que ſerve de ornato ás Camponezas, ſem contar o que eſtá lavrado em diamantes, aljofares, ſafiras, eſmeraldas, rubins, e outras pedras precioſas, que ſervem de enfeite ás Senhoras das Cidades, e Villas como tambem o que eſtá fundido em Calices, Cuſtodias, Pixides, Relicarios, Cruzes &c., que tudo importa huma ſomma immenſa.

[16] A Nobreza das Familias illuſtres he taõ antiga como o Reino. Naõ ſómente tem dado para elle muitas cazas diſtinćtas, mas tambem para o de Caſtella. Ao valor dos Aſcendentes deſtas Familias he, que os primeiros Reis de Portugal devêraõ a conquiſta, e augmento deſta Monarchia. Logo no principio, que o Conde D. Henrique entrou por entre Douro, e Minho, daqui eſcolheo os principaes Capitaens, e Soldados, que fizeraõ aos Mouros viva guerra. Todos ſabem quaes foraõ os ſeus glorioſos Feitos. No ſeguinte catalogo declaro os Appellidos deſtas Familias, e nelle ſigo a ordem Alfabetica para melhor clareza.

Aboim, Abreu, Aguiar, Alcaforado, Alvim, Alvarenga, Alvergaria, Alvo, Alveiro, Alaõ, Amaral, Amorim, Aranha, Araujo, Atayde, Azevedo, Ayram, Ayres.

Bayaõ, Bacellar, Barboza, Barros, Barreto, Barbeita, Barbuda, Baſto, Berrado, Brandaõ, Briteiros, Britto.

Caſtro, Craſto, Caminha, Caleiro, Couto, Coutinho, Calvo, Carvalho, Cerveira, Chamiço, Carneiro, Coutos, Coſtas, Coelhos, Correa, Cunha, Cyrne. Danta, Darga.

Eſteves, Ermiges, Ervilhã, Eſcacha.

Falcaõ, Faria, Farinha, Fafes, Fafes Lus, Fagundes, Ferreira, Ferrás, Felgueira, Feijoos, Figueira, Figueiredo, Fonſeca, Fornellos, Freitas, Fromariz.

Gamas, Gajo, Gayo, Giella, Godinho, Guedes, Guimaraens, Guntim.

Homem. Lagos, Laudim, Leire, Leite Pereira, Leitaõ, Lobato, Longo, Lyra.

Maya, Magalhaens, Mattos, Machado, Meirelles, Mendanha, Mello, Miranda, Moniz, Motta, Monteiro, Moreira, Mouro, Mourinho.

Neiva, Nobrega, Novaes, Nunes.

Oliveira, Ortigueira , Ornellas, Oſſem, Ovequez.

Paes, Padim, Palmeiro, Pereira, Panagate, Peixoto, Peixoto Silva, Peſſoa, Pitta, Pires, Pimenta, Pimentel, Pinto, Pirina, Ponce, Porto, Porto Carreiro, Pombeiro.

Queiroz. Rebello, Rego, Rendufe, Ribeiro, Ribeira, Rocha, Roza. Sá, Sá de Menezes, Salgado, Sandim, Sequeiros, Sequeiras, Silvas, Silveſtres, Simoens, Souſas, Soares.

Tavares, Tangil, Teixeira, Tenreiro, Touriz, Tourinho, Topete, Traſtamir. Vasconcellos, Valladares, Valbom, Vaz, Vellozos, Veiga, Vellos, Villelas, Villarinho, Villa Boa, Vieira, Viegas, Vianna. Zapata.

[17] Toda a Provincia divide-ſe em ſeis Commarcas, que ſaõ as Guimaraens, Vianna, Valença, Barcellos, Porto, Pennafiel, e com a Eccleſiaſtica de Braga fazem ſette. Tem 1519 fregueſias. Moſteiros, e Conventos 150. Collegiadas cinco, a de Guimaraens, Barcellos, Vianna, Valença, e Cedofeita, eſta, e a de Guimaraens, ſaõ as mais notaveis em dignidade, renda, e antiguidade.

[18] As Ermidas, e Sanćtuarios paſſaõ de tres mil. Entre eſtes ſaõ mais frequentados o da Senhora do Porto, tres legoas ao Naſcente de Braga. O da Senhora do Pilar de Lanhozo, e o da Senhora da Abbadia, aquelle duas legoas ao Naſcente da meſma Cidade, eſte tres legoas tambem ao Naſcente: o da Senhora do Bom Deſpacho duas legoas ao Poente da referida Cidade: o da Senhora das Neceſſidades perto da Villa de Faõ: o do Senhor Jeſus na Villa de Barcellos, o do Senhor de Bouças, em Matozinhos, o de S. Gonçalo d'Amarante. Todos eſtes Sanćtuários eſtaõ ornados com peças riquiſſimas de prata, ouro, joyas precioſas, que os Fieis lhes tributaõ annualmente em agradecimento dos beneficios, que delles confeſſaõ receber.

Sobre todos apparece, como obra immortal da piedade dos Bracarenſes, o terniſſimo e devoto Sanćtuario do BOM JESUS DO MONTE, ſituado em hum frondifero, e copado monte diſtante meia legoa ao Naſcente da ſua Cidade. Neſte devotiſſimo Sanćtuario, vem-ſe figurados os Myſterios da Redempçaõ do Mundo deſde a Cêa do SENHOR, até a ſua glorioſa Aſcenſaõ, em multiplicadas Capellas, e hum Templo, no qual ſe repreſenta vivamente o Monte Calvario, com tudo do quanto nelle executou a execranda impiedade. Sobre a porta principal deſte Templo, que olha para o Occidente, e donde ſe vê o Mar coſteando mais de cinco legoas de terra, eſtá gravada em Lamina de pedra marmore eſta Inſcripçaõ:

CRUCIFIXO DOMINO

SACRATUM HOC TEMPLUM POSTERITATI COMMENDAT, ET ANIMAM SUAM ILLUSTRISSIMUS DOMINUS DOMNUS RODERICUS A’ MOURA TELLES ARCHIEPISCOP. BRACHARENSIS,

HISPANIARUM PRIMAS.

AN. DM . NOSTRI JESU CHRISTI 1725.

A pequenhez deſte Templo, que verdadeiramente naõ correſponde á grandeza de toda a outra obra, excitou a devoçaõ dos Bracarenſes a edificar outro, cuja Planta, o repreſenta igual ás maiores Cathedraes do Reino. Há cinco annos, que ſe lhe deu principio; mas tarde chegará a completar-ſe ſe a piedade dos Fiéis, naõ concorrer com as eſmolas neceſſarias. As quatro columnas aparelhadas para o ſeu Frontiſpicio, naõ tem outras ſimilhantes em toda a Provincia, tanto em altura, como em groſſura, e qualidade de pedra.

Parece, que a natureza, e arte competiraõ mutuamente, para formarem neſte ſitio a reſidencia do bom goſto. A mageſtoza fabrica de quatorze Capellas, que cingidas de outras tantas aceadas ruas campeſtres, ſe elevaõ em igual proporçaõ pela ſuave ladeira daquelle Monte: o viçoſo, e copado arvoredo de robuſtos carvalhos, e pompoſos caſtanheiros, que as rodeaõ : as copioſas, e perennes fontes de chryſtalinas agoas, as Eſtatuas lapidares, os Buſtos, os Obeliſcos, as Piramides, os Jardins, os differentes reziſtos d'agoa, que nelles rebentaõ por todos os lados: os paſſeios publicos ſemeados de flores em todas as eſtaçoens do anno, tudo iſto faz, com que ſuſpenſos os ſentidos do homem, e arrebatado elle meſmo docemente, contemple com intima, e curioſa attençaõ todas eſtas bellezas.

No anno de 1718., deu principio a eſta immortal obra, o Arcebiſpo Primaz D. RODRIGO DE MOURA TELLES, e a acabou no de 1725. Deſde o anno de 1748. até o de 1770., a augmentou, e poz na perfeiçaõ em que hoje eſtá o devoto zelo de MANOEL REBELLO DA COSTA, fallecido a 21. de Março de 1771. na meſma Cidade de Braga, aonde foi Illuſtre CIDADAÕ, e cazado com D. MARIA VIEIRA D' AZEVEDO, dos quaes eu ſou filho. Eſte Bemfeitor álem do que reformou em toda a obra antiga, ampliando a extençaõ dos Jardins, a das Cazas da hoſpedaria, a da grande Cerca, fez com deſpeza do ſeu proprio cabedal, toda a obra moderna, que ſe vê deſde o Templo Maior, até o Terreiro ultimo, que ſe remata com as três Capellas, que contém os Myſterios do Caſtello de Emmaûs, da Appariçaõ á Magdalena, e da Aſcenſaõ, paſſando a total deſpeza de 50. cruzados. Da meſma ſórte inſtituio tres Capellaens, hum delles com obrigaçaõ de Miſſa quotidiana por ſua tençaõ, e de ſua Mulher, e filhos. Tem eſte Sanćtuario Jubileo perpetuo, concedido por Clemente XIV., e promulgado em 12. de Septembro de 1779.

[19] Há neſta Provincia 3. Cidades, que ſaõ Braga, Porto, e Pennafiel: 26, Villas: 46. Concelhos: 12. Honras e Julgados, que ſe governaõ ſeparadamente: contém 217c000. fogos, e mais de 750c. Almas de Confiſſaõ. Se merece credito o Marquez de Monte Bello natural deſta Provincia, vêr-ſe-há, que há mais de hum ſeculo tinha 100c000. homens capazes de militar. Tem dous Capitaens Generaes, que reſidem, hum na Cidade do Porto, outro na gracioza Villa de Viana: duas Relaçoens, huma Eccleſiaſtica na Cidade de Braga, outra Secular na Cidade do Porto, da qual fallarei adiante. As maiores, e principaes Villas ſaõ Guimaraens, Vianna, Barcellos, Ponte do Lima, Villa do Conde, Caminha, Eſpozende, Arcos, Barca, Monçaõ, Melgaço, Valença, e Amarante, Na ſeguinte Anacephaleóſe verá o Leitor com melhor clareza as couſas mais notaveis, que ſe incluem neſta Provincia.

[20]

Cidades. 
 3
Villas. 
 26
Villas acaſtelladas. 
 16
Comarcas. 
 7
Concelhos. 
 46
Coutos. 
 48
Honras e Julgados. 
 12
Praças d’Armas e Preſidios. 
 10
Rios grandes. 
 9
Rios pequenos. 
 62
Pontes de cantarîa. 
 220
Portos de Mar. 
 6

Lanchas de peſcar. 
 300
Fontes public. 
 26c000
Bois e Vacas. 
 400c000
Ovelhas, Carneiros, Cab. &c. 
 2:000c000
Fregueſias. 
 1c519
Ermidas, e Sanćtuarios. 
 3c000
Moſteiros, Conventos, e Colleg. 
 c200
Collegiadas. 
 5
Fógos. 
 217c000
Almas. 
 750c000

FIM.
  1. I Extẽçaõ deſta Provincia.
  2. II Rios e peſcaria.
  3. III Pórtos de Mar.
  4. IV Serras e Mõtes
  5. Nota de transcrição: Refere-se possivelmente ao entretanto extinto íbex-português (Capra pyrenaica lusitanica).
  6. V Frućtos, e producçoens
  7. VI Minas de ouro, prata, e pedr. precioſas.
  8. Nota de Transcrição: Na realidade, Douro provém do Latim Durius, que por sua vez terá uma origem celta relativa referente a água.
  9. VII Fabricas.
  10. VIII Clima.
  11. Epitome part. 4. capt. 5.n.4
    Nota de Transcrição: vide Epitome de las historias portuguesas de Manuel de Faria e Sousa. No entanto, a passagem em questão, apesar de referenciar várias informações anteriores, não menciona a existência de homens e mulheres de avançada idade.
  12. Antiguid. de Portu. cap. 72
    Nota de Transcrição: vide Varias antiguidades de Portugal de Gaspar Estaço.
  13. IX Lavoura.
  14. X Costumes.
  15. XI Trages.
  16. V Nobreza.
  17. XIII Commarcas, Fregueſias, Conventos, e Collegiadas.
  18. XIV Sanćtuarios, e Ermidas.
  19. XV Cidades, Villas, Fogos e Habitadores.
  20. XVI Anacephaleóſe.
DESCRIPÇAÕ

TOPOGRAFICA E HISTORICA

DA

CIDADE DO PORTO.



CAPITULO I.

Da ſua Origem, e Antigüidade.


SE a multidaõ de Opinioens contrarias [1] em que os AA. ſe dividem ſobre a primordial origem de alguma Cidade, he huma grande prova de ter ſido a ſua fundaçaõ naquelles ſeculos remotiſſimos em que a ignorancia, ou o deſcuido dos póvos nada tranſmittia á Poſteridade, certamente, he a Cidade do Porto a mais antiga de Portugal; porque de nenhuma outra varíaõ com mais differença nas ſuas opinioens, tanto os Hiſtoriadores, como os Antiquarios.

Huns attribuem a ſua fundaçaõ, áquelles Gregos da Provincia de Thracia, que habitavaõ nas margens do rio Axio, homens guerreiros, e exercitados no valor militar chamados Mygdones. Dizem pois, que impellidos eſtes Gregos por huma furioſa tempeſtade, ſurgírão na foz do Rio Douro, e ſubindo por elle foraõ ao lugar chamado Gaya,[2] do qual paſſáraõ para a parte ſeptentrional, aonde edificáraõ huma Cidade com o nome de Lavra, que ao depois ſe chamou Portucale. Talvez, que os Chéfes deſta opiniaõ, vendo, que Ptolomeu nas ſuas Cartas Geographicas fixára a Cidade Lavra na meſma poſiçaõ da Cidade Porto, deſſem cauſa á errada idéia, que concebeo huma grande parte do Vulgo, de que a freguezia de S. Salvador de Lavra ſita na Commarca da Maya tres legoas ao Norte diſtante do Porto, fôra a primeira fundação deſta Cidade. ([3])

Outros AA. remontando-ſe a huma origem muito mais anterior, fazem o ſeu Fundador Gathello, filho de Neólo Rei de Athenas, dizendo, que eſte Principe depois que fugio á crueldade de ſeu Pai, [4] paſſára ao Egypto no tempo de Moyſés, aonde ſervíra a Faraó contra os Ethiopes: que em conſideraçaõ aos ſeus ſerviços, o Rei do Egypto o cazára com ſua filha Eſcota, e que immediatamente, elle ſe embarcára com a ſua nova Eſpoſa, e hum grande número de Egypcios a procurar aventuras. Accreſcentaõ mais, que depois de huma prolongada navegaçaõ por toda a cóſta d’Africa, e Mediterraneo, ſahíra pelo Eſtreito de Gibraltar ao Oceano, e viera aportar a eſta parte de Portugal, aonde hoje eſtá ſituada a Cidade do Porto, que elle fundára, e denominára Porto Gathello em memoria do ſeu nome; e aos habitadores, que nella deixou chamára Eſcoſſeſes em memoria do nome de ſua mulher Eſcota. ([5])

A terceira opiniaõ muito ſeguida, e abonada pelo A. da Monarchia Luzitana, conſiſte, em que Diomedes Rei de Etholia hum dos Principes, e Capitaens do cerco de Troya[6] imitando a Ulyſſes, navegára pelo Mediterraneo, até ſahir pelas Columnas de Hercules [7] ao Occeano Occidental, e tomando porto na foz do Rio Douro, deſembarcára da parte ſeptentrional, aonde ſe demorára largo tempo attrahido da amenidade, e freſcura do Paiz: que lançára allî os fundamentos de huma Povoaçaõ, que pelo decurſo do tempo ſe chamou Graya, e os ſeus habitadores Grayos, tanto porque elles eraõ deſcendentes dos Gregos, que fundáraõ eſta Cidade, como tambem, porque aos ſeus ritos, e coſtumes, chamavaõ por antonomaſia Grecanicos. ([8]) Deſtes fallou Sylio Italico nos ſeguintes verſos:

Et quos nunc Gravios, violato nomine Grajum.
Onneæ miſerere domus, Aetolaque Tyde.

[9] Funda-ſe a quarta opiniaõ em que Menelao irmaõ de Agamenon, e marido de Elena, que foi a deſgraçada origem da total deſtruiçaõ de Troya, deſterrando-ſe da ſua Patria, paſſára do Mediterraneo ao Occeano, até á altura em que eſtá a Cidade do Porto, que elle edificára, cercando-a de elevados Muros, e ornando-a com todos os edificios neceſſarios a formarem a ſua grandeza. Os coſtumes, e ritos de Lacedemonia praticados pelos Portuguezes da Provincia do Minho, ainda até o tempo de Strabo, ſaõ os maiores fundamentos em que que ſe firmaõ os AA. deſta opiniaõ. ([10])

Aos Gallos Celtas a atribuem aquelles, que aſſeveraõ paſſarem elles do Alemtejo para [11] a Eſtremadura em companhia dos Turdetanos, e que depois de conquiſtarem as Provincias da Beira, e Minho, erigíraõ para ſegurança, e preſidio das ſuas Tropas o Caſtello de Cale: daqui dizem, ſe mudáraõ para a parte ſeptentrional do Rio Douro; aonde deraõ principio á Cidade do Porto com o nome de Portucale. ([12])

Dous AA. ambos Portuguezes, ambos eruditos, e muito verſados nos Faſtos Luzitanos, movidos, [13] de que no Caſtello de Gaya ſe acháraõ algumas Inſcripçoens lapidares, que faziaõ mençaõ de Julio Cezar, e de que tambem na Cathedral deſta Cidade eſtavaõ humas letras gravadas em pedra, que diziaõ Julius, attribuem a fundaçaõ daquelle Caſtello, e da Cidade a eſte Imperador. ([14]) O Biſpo D. Rodrigo da Cunha, diz, que a palavra Cale fôra originaria dos Romanos.

Que fôra Calais filho de Boreas Rei de Thracia Argonauta celebradiſſimo na Hiſtoria antiga, [15] o conjećtura o Padre Novais Benedićtino em os ſeus Manuſcriptos. Diz elle, que eſte Principe fundára muitas Cidadaes em diverſos lugares do mundo; depois do decantado Vellocino d‘ouro da Ilha de Colchos: que pela ſimilhança do ſeu nome Calais, com o de Calle, era muito provavel, que deſſe principio a eſta Cidade. E aſſim como a Jaſſon, continúa eſte Padre, ſe attribue a fundaçaõ do Promontorio Eaſſo corrupto de Jaſſo: a Caſtor, e Pollux a de Caſtropol nas Aſturias &c.; aſſim tambem he crivel, que a Calais ſe deva a fundaçaõ de Porto de Cale. A aućtoridade de Rafael Volaterrano, que na volta de Calais á ſua Patria o nomea fundador de Cale, he para elle huma prova incontraſtavel, e na qual funda a ſua opiniaõ. ([16])

[17] Naõ ſatisfeito o infatigavel Antiquario Antonio de Cerqueira Pinto da muita antiguidade, que todos os AA. de que até aqui fallei, daõ a eſta Cidade, naõ duvída remontar-lhe a origem até hum dos deſcendentes de Noé, que contempla ſeu genuino, e primordial Fundador. Naõ repito as ſuas provas; porque me parece liſongeio melhor a attençaõ do Leitor, quando aſſim lhe poupo huma digreſſaõ immenſa. ([18])

[19] Porém, eu naõ poſſo adoptar uenhuma dêſtas opinioens, quando vejo, que ellas, ou ſe fundaõ em ſimplices conjećturas, ou ſe firmaõ em ſucceſſos fabuloſos, ou ſe involvem em contradicçoens menifeſtas. O plano, que me proponho neſta Deſcripçaõ, he muito diverſo daquelle, que me conſtrangeria a fazer huma longa Diſſertaçaõ para as refutar. Explorei ſómente as razoens, que me perſuadem a dizer, que a fundaçaõ da Cidade do Porto, foi muito poſterior á vinda de Chriſto, e eſtabelecerei os fundamentos, que a moſtraõ fundada pelos Suevos.

[20] He indubitavel, que pelos annos de 557. da fundaçaõ de Roma, os Romanos expulſáraõ os Carthaginezes da Heſpanha, dividindo-a em duas Provincias, Ulterior, que incluia a Andaluzia, e Portugal, e Citerior, que comprehendia o reſto. Pelos annos de Roma 727. Oćtaviano Cezar a repartio em Tarraconenſe, Betica, e Luzitania. No tempo do Imperador Adriano, ſe tornou a dividir e cinco provincias Tarraconenſe, Carthaginenſe, Luzitania, Galiza, e Betica. Finalmente, Conſtantino Magno lhe accreſcentou ſexta com o nome de Balearica.

Conſtituida pois como certa eſta ordem de divizoens, ſería possivel, que nenhum dos antigos Geografos, muitos dos quais medíraõ ponto por ponto os Reinos, e as Cidades ſituadas naquellas differentes Provincias, naõ fallaſſem huma ſó palavra da Cidade Portucalle, que devia pertencer á Provincia Tarraconenſe? O meſmo Ptolomeu deſcrevendo o Rio Tejo e, achando nas ſuas margens a famoſa Lisboa, que denomina Olioſippo, demorou-ſe em medir a ſua latitude, e a ſua longitude; e ſeria poſſivel, que fallando do Rio Douro diſſeſſe ſómente, que a ſua Barra eſtá em 5. gr., e 20. min. de long. 41., e 50. min. de latit., ſem fallar huma ſó palavra da Cidade Cale, ou Portucalle? Naõ lhe ſería mais intereſſante a ſua deſcripçaõ, que a das margens de hum Rio, que hoje banha os ſeus Muros? Se foi eſquecimento em Ptolomeu, como o teve tambem Strabo, Pomponio, Plinio, e outros Geografos daquelle tempo? Como o tiveraõ aquelles, que incluindo na Provincia Tarraconenſe os Reinos de Murcia, Valença, Aragaõ, Navarra, Catalunha, Caſtella a Velha, Galiza, as terras d’Entre Douro, e Minho, e fallando da ſituaçaõ de Tuy, Braga, Guimaraens, e outras Povoaçoens ſituadas neſtas meſmas terras, naõ diſſeraõ huma ſó palavra de Cidade alguma, ſita na margem ſeptentrional do Rio Douro?

[21] Confirma-ſe eſte fundamento com o que todos ſábem a reſpeito das preeminencias concedidas a muitas Cidades da Luzitania, e ainda á Cidade de Braga, que lhe era bem viſinha, e hoje incluida na meſma Luzitania. Huma teeve o epitheto de Liberalitas Julia, como foi Evora: outra o de Felicitas Julia como foi Lisboa: outra o de Præſidium Julium, como foi Santarem: outra o de Pax Julia, como foi Béja: outra o de Brachara Auguſta, como foi Braga &c., e ſómente a Cidade Portucale, que devia ter a primeira acceitaçaõ de Julio Cezar, ou ainda dos Senadores, e Conſules da antiga Républica, por ſer huma Cidade ſituada na foz de hum ſeguro Porto, que elles deviaõ eſtimar pelas vantagens, que delle rezultariaõ áſ ſuas expediçoens maritimas, he poſſivel, que ficaſſe ſem diſtinçaõ alguma, e que ainda ſem nome? He certo, que Leiria tede deſde o tempo dos antigos Turdulos o nome de Colipo: Condeixa a Velha o de Coninbrica: Aveiro o de Talabriga: Lamego o de Lanconimurgi: Vizeu o de Vacca &c., e naõ ſaberemos, qual foi o nome da Cidade do Porto naquelles remotiſſimos ſeculos? Mas como o poderemos ſaber, ſe ella ainda entaõ naõ exiſtia? O nome de Feſtabolle, que ſe lhe attribue, veio-lhe do tempo dos Suévos.

[22] Tambem naõ ſe faz crivel, que ſendo a fundaçaõ deſta Cidade anterior á Era vulgar, como dizem todos aquelles AA., naõ tiveſſe deſde o principio deſſa Era até o anno de 595. em que apparece o Biſpo Conſtancio, outro algum Biſpo, que a regeſſe eſpiritualmente. A Cidade de Braga, ſituada na breve diſtancia e oito legoas, teve, logo nos primeiros dias da Igreja a S. Pedro de Rates, S. Baſilio, S. Sylveſtre &c., e deixaria o Porto, ſe entaõ exiſtiſſe, de gozar da meſma dignidade? Será crivel, que a memoria de huns mereceſſe mais atençaõ aos Eſcriptores, que as vidas dos outros? Quando eu deſcrever no Capitulo III. a Parochial Igreja de S. Pedro de Miragaya, moſtrarei, que naõ foi S. Baſilio o primeiro Biſpo, mas Conſtancio. Com tudo nunca avaliarei por eſpecial o meu parecer, naõ ſó neſte ponto, mas em todos os outros, ſem que primeiro o ſubmetta á correcçaõ de huma critica prudente; e imparcial. O amor da verdade, dirige a minha penna. De nenhum modo a occuparei em disluſtrar a Cidade do Porto com falſos louvores: a ſua gloria naõ preciza deſtes fracos auxilios: ella apparece admiravel com os muitos; e verdadeiros Monumentos, que a exaltaõ.

[23] Para obviar outras innumeraveis razoens, que moſtraõ a fundaçaõ deſta Cidade muito poſterior á Era de Cezar, conclúo com o que nos declara o Itinerario, que vulgarmente ſe attribue a Antonino, deſcrevendo o caminho, ou Via Militar deſde Lisboa até Braga. A ſua ordem, he a ſeguinte.

Ab Oliſipone Bracharam Auguſtam.
M. P. CCXLIV.
Deſde Lisboa até
Alemquer Jerabricam 
 M. P. XXX.
Santarem Scalabin 
 M. P. XXXII.
Ceice Cellium 
 M. P. XXXII.
Condeixa a Velha Conimbricam 
 M. P. XXXIV.
A’gueda Eminium 
 M. P. XL.
Aveiro Talabricam 
 M. P. X.
Feira Lancobricam 
 M. P. XVIII.
Gaya Cale 
 M. P. XIII.
Braga Bracharam 
 M. P. XXXV.

Deſta ordem, que o mencionado Itinerario deſcreve, vé-ſe claramente, que moſtrando elle as maiores Povoaçoens, que entaõ exiſtiaõ deſde Lisboa até Braga, naõ falla em Portucale, mas ſómente em Cale. E ſería possivel , que elle preferiſſe hum pequeno lugar, qual era Cale á Cidade do Porto, que lhe eſtava, ou devia eſtar taõ fronteira, e viſinha? Similhante preferencia ſería intoleravel em hum Itinerario, que era o Roteiro, pelo qual ſe dirigiaõ as Legioens Romanas. Os maiores lugares, eraõ os ſitios em que ellas repouzavaõ, depois das ſuas trabalhoſas marchas. Logo he certo, que imperando Antonino pelos annos de Chriſto 160., tal Cidade ainda naõ exiſtia. O Academico Antonio de Cerqueiro Pinto, esforça-ſe no ſeu Proemio ao Catalogo dos Biſpos Portuenſes em anniquilar eſte grande fundamento; mas razoens, que elle expende, illucidaõ mais as provas, que o erudito Gaſpar Eſtaço eſtabeleceo ſobre eſte ponto.

Eſtas ſucceſſivas inveroſimilidades moſtraõ, que muitos daquelles AA. confudíraõ a fundaçaõ da Cidade do Porto, com a do lugar de Gaya, que he hoje hum grande Bairro junto com Villa nova, e fica da parte meridional do Rio Douro; ſendo certo, que entre huma, e outra fundaçaõ, naõ ſómente mediáraõ alguns ſeculos; mas tambem, que naõ foraõ os moradores do referido lugar os que paſſáraõ para a parte ſeptentrional a dilatarem a Cidade, como diſcorre Gaſpar Eſtaço. O Bairro de Gaya, em Villa nova, foi fundado pelo Pretor Romano Cayo Lelio para deſte ſitio rebater as forças de Viriato; e a Cidade do Porto, foi fundada pelo Suevos muitos ſeculos depois. [24]

[25] Eſtes póvos Suévos, juntamente com os Alanos, Godos, Vandalos, e Selingos, deſpenháraõ-ſe, como huma impetuoſa corrente, deſde o ſeptentriaõ da Alemanha, a inundar toda a Italia. Elles aſſaltáraõ a grande Roma, eſcalláraõ os ſeus muros, entráraõ no interior deſſa famoſa Cidade, e com hum ſaque univerſal abſorvêraõ todas as ſuas riquezas. Daqui paſſaraõ á França, e ás Heſpanhas, ſenhoráraõ Galiza, e nella termináraõ o impetuoſo curſo das ſuas Conquiſtas. Ficáraõ os Alanos com a Luzitania, os Vandalos, e Silingos com a Betica, os Suévos com a Galiza, na qual ſe incluia a Provincia do Minho. Porém eſta repartiçaõ feita em boa paz, naõ tardou muito, que naõ accendeſſe no coraçaõ de Attaces Rei dos Alanos, o fogo da guerra atiçado pela inveja com que via a Hermenerico Rei dos Suévos, em melhor ſituaçaõ, em melhor clima, em terras mais fecundas, em ares mais mimoſos, e puros. Enfurecido, tomou contra elle as armas, e marchou a expulſallo dos ſeus Eſtados. Depos de contínuas, e furioſas Campanhas, nas quais a vićtoria propendía ſempre para a parte dos Alanos, retiráraõ-ſe os Suévos ás margens do Rio Douro, e reforçáraõ-ſe em hum alcantilado monte, que lhe fica da parte do Norte. Allî erigindo hum forte Caſtello, cingido d’altos, e largos Muros; fortificaráõ-ſe de modo, que expulſáraõ de todas as ſuas terras os ſeus inimigos. Naõ paſſaraõ dous annos, que ſe naõ reconciliaſſem huns com os outros pela mediaçaõ da formoſa Cindazunda filha de Hermenerico, dada por eſpoſa a Attaces. Neſte meſmo tempo eſtendeo Hermenerico os Muros do novo Caſtello, que tinha fundado, edificando caſas, e Palacios para a ſua Tropa. Ainda hoje ſe deviſaõ alguns reſtos deſte Caſtello, e muralhas no ſitio em que eſtá fundada a Sé, e o Paço Epiſcopal, chamando-ſe por eſta cauſa o tal ſitio, Cidade Antiga. Mas depois da ſua fundaçaõ, principalmente no anno de 569. em que ſe celebrou o primeiro Concilio de Lugo, ſe chamava eſta Cidade dos Suévos Caſtrum Novum para ſe deſtinguir de Calem, ou Cale, Caſtrum Antiquum, que nunca teve Biſpos, e pertencia a Coimbra. Prova eſta bem terminante a corroborar, o que acabo de expôr ſobre a fundaçaõ deſta Cidade, pois he certo, que ſe tiveſſe exiſtido nos ſeculos anteriores, naõ ſeria denominada Castrum Novum, em comparaçaõ da Dioceſe de Coimbra, ſe eſta lhe foſſe coetanea, e naõ ſuperior em antiguidade, para merecer o nome de Caſtrum Antiquum. Omitto outras controverſias, que os AA. ſuſcitaõ ſobre eſta materia; porque naõ pertencem aos limites huma Deſcripçaõ Topografica. [26] Multiplicadas revoluçoens, ſuccedêraõ a eſte Eſtabelecimento. Ainda elle naõ contava cento e ſeſſenta annos de duraçaõ; quando Leovigildo Rei dos Godos entrou pela Galiza, e Provincia do Minho desbaratando a ferro, e fogo, tudo quanto ſe oppunha á ſua animoſidade. Eſte impio Rei, que mandou cortar a cabeça a ſeu proprio filho S. Hermenigildo, porque naõ quiz ſeguir a falſa doutrina de Ario, foi o que depois de conquiſtar a Cidade de BRaga Córte dos Suévos, paſſou á Cidade do Porto, donde deſterrou a Conſtancio Biſpo Orthodoxo, e nomeou em ſeu lugar a Argiovitro Biſpo Ariano. Porém eſte, logo depois abjurou os ſeus erros no Concilio Toledano celebrado a 8. de Mayo de 589. Ficou eſta Cidade ſujeita aos Godos, até que elles meſmos foraõ deſtruidos, e expulſos das Heſpanhas, quando nellas entráraõ os Mouros auxiliados pelo traidor, e infame Conde Juliaõ, que entregou aleivoſamente ao furor daqueles barbaros a ſua Patria, o ſeu Rei, a ſua Naçaõ. Aconteceo eſta invazaõ, e conquiſta geral das Heſpanhas pelo anno de Chriſto 716., ſendo Abdelazin o que entrou em Galiza até ás margens do Rio Douro, tomando as Cidades, e Villas ſituadas neſte continente.

Daqui ſe conclue, que ſendo a Cidade do Porto fundada no anno de 417., experimentou no eſpaço de tres ſeculos, tres differentes Senhores: Os Suévos, que a fundáraõ; os Godos, que a conquiſtáraõ; e os Mouros, que a ſenhoreáraõ até ao Reinado d’ElRei D. Affonſo I. chamado o Catholico, que auxiliado de ſeu Irmaõ D. Froyolano a reſtaurou em 820. Abderraman Rei de Cordova, querendo reconquiſtalla, veio ſobre ella com hum Exercito formidavel, que foi deſtroçado por Hermenigildo a qual ElRei D. Affonſo tinha feito Conde deſta Cidade. O campo de batalha, foi junto á freguezia de Campanham, aonde o pequeno Rio, que por ella paſſa, tomou o nome de Rio Tinto, em memoria do muito ſangue dos Mouros, que nelle ſe derramou; e tres Portas deſta Cidade, tomáraõ o da Batalha, porque do ſitio em que hoje eſtaõ, ſahíraõ os Christaõs ao combate. Porém Almançor Capitaõ Arabe, logo depois ſahío da Cidade de Cordova com outro Exercito muito mais poderoſo, eſpalhando por toda a parte o terror, a confuſaõ, e a mortandade: apenas elle aviſta os Muros do Porto, arraza-os, e naõ deixa em todo o ſeu ambito pedra ſobre pedra.

[27] Aſſim permaneceo deſpovoada; e erma, até que no anno de 999. huns nóbres, e valoróſos fidalgos Gaſcoens, entráraõ com huma grande Armada pela foz do Rio Douro, para expulſarem os Mouros das terras, que tirannamente poſſuiaõ. Eraõ os Chéfes deſa Armada D. Moninho Viega, D. Seſnando ſeu Irmaõ, que depois foi Biſpo deſta Cidade, e Nonego, que para acompanhar eſta empreza, tinha renunciado o ſeu Biſpado de Vandoma na França. Eſtes Fidalgos, que traziaõ na ſua companhia muitos, e diſtinćtos Officiaes, apenas deſembarcáraõ na parte ſeptentrional do Rio Douro, dirigíraõ a ſua marcha ao meſmo lugar em que exiſtia a Cidade arruinada. Elles a reedificáraõ muito mais ampla, e forte, cingindo-a de ſoberbos, e elevados Muros, que naquelle tempo eraõ inacceſſiveis ao Soldado mais intrépido. Deixáraõ nella huma eſcolhida Guarniçaõ, e logo partíraõ a expulſar do reſto da Provincia os Bárbaros, que a dominavaõ. O Patrocinio da Mãi de Deos, era os eſcudo mais fórte debaixo do qual combatiaõ contra os ſeus inimigos. Por eſta cauſa as Terras, que ſubmettiaõ ao ſeu dominio, as intitulavaõ Terras de Santa Maria.

Hoje meſmo ſe conſerva eſta precioſa Invocaçaõ nas terras das Villas da Feira, e Guimaraens, que foraõ as primeiras, que elles conquistáraõ. Tambem ſe conſervaõ ainda deſde aquelle tempo algumas Muralhas, Torres, e Portas, que rodêaõ a Cidade Antiga, ſituada no Bairro alto da Sé. Allî ſôbre hum Arco eſpaçoſo, que dá entrada, e ſahida ao interior da meſma Cidade, eſtá huma Capella conſagrada á Rainha dos Anjos, com o precioſo Titulo de Senhora da Vandoma; cuja Imagem, dizem, trouxeraõ de França os mencionados Gaſcoes.

[28] Era juſto, que agradecidos eſtes Heróes á ſua Celeſtial Bemfeitora, paſſaſſem tambem a gravar em eternos Padroens a memoria de todos os beneficios, que tinhaõ recebido do ſeu Patrocinio. Aſſim o fizeraõ, tomando por Armas a ſua Imagem com a do ſeu Unigenito reclinado no ſeu peito, e collocada entre duas Torres com huma letra, que diz: Civitas Virginis, Cidade da Virgem.

Eſtas Armas foraõ gravadas no anno de 1012., donde ſe vê, que tem mais de 700. annos de antiguidade. Naõ ſe limitou neſte ponto a ſua piedade, e devoçaõ, porque depois de conſagrarem á Mãi de Deos os ſeus vótos, elegêraõ Padroeiro deſta meſma Cidade, imitando Página:Descripção topografica, e historica da Cidade do Porto.djvu/68 Página:Descripção topografica, e historica da Cidade do Porto.djvu/69 Página:Descripção topografica, e historica da Cidade do Porto.djvu/70 Página:Descripção topografica, e historica da Cidade do Porto.djvu/71 Página:Descripção topografica, e historica da Cidade do Porto.djvu/72 Página:Descripção topografica, e historica da Cidade do Porto.djvu/73 Página:Descripção topografica, e historica da Cidade do Porto.djvu/74 Página:Descripção topografica, e historica da Cidade do Porto.djvu/75 Página:Descripção topografica, e historica da Cidade do Porto.djvu/76 Página:Descripção topografica, e historica da Cidade do Porto.djvu/77 Página:Descripção topografica, e historica da Cidade do Porto.djvu/78 Página:Descripção topografica, e historica da Cidade do Porto.djvu/79 Página:Descripção topografica, e historica da Cidade do Porto.djvu/80

INDEX
Das Materias que contém a Deſcripçaõ Preliminar da Provincia do Minho.

I.
EXtençaõ deſta Provincia.

II. Rios, e peſcaria.

III. Portos de Mar.

IV. Serras, e Montes.

V. Frućtos, e Producçoens.

VI. Minas de Ouro, Prata, e Pedras precioſas.

VII. Fabricas.

VIII. Clima.

IX. Lavoura.

X. Coſtumes.

XI. Trages.

XII. Nobreza.

XIII. Comarcas, Fregueſias, Conventos, e Collegiadas.

XIV. Sanćtuarios, e Ermidas.

XV. Cidades, Villas, Fogos, e Habitadores.

INDEX
Dos Capitulos, e Materias que contém a Deſcripçaõ Topografica, e Hiſtorica da Cidade do Porto.


CApitulo I. Da ſua Origem, e Antiguidade.

I. Variedade de Opinioens.

II. Primeira Opiniaõ.

III. Segunda Opiniaõ.

IV. Terceira Opiniaõ.

V. Quarta Opiniaõ.

VI. Quinta Opiniaõ.

VII. Sexta Opiniaõ.

VIII. Setima Opiniaõ.

IX. Oitava Opiniaõ.

X. Inveroſimilidade deſtas opinioens.

XI. Primeira Inveroſimilidade.

XII. Segunda Inveroſimilidade.

XIII. Terceira Inveroſimilidade.

XIV. Quarta Inveroſimilidade.

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  1. I. Variedade de Opinioens.
  2. II. Primeira Opiniaõ
  3. D. Joa. Marg. Biſp. de Ger. Ortel. in Synom. Verb. Lavra.
  4. III. Segunda Opiniaõ
  5. Boer. hiſt dos Eſcoſ. liv. I. Maldon. Chron: Univ. p. 3. Pined. Monar. Eccl. liv. 27. cap. 12.
    Nota de Transcrição: vide História dos Escoceses, livro 1, de Walter Bower.
    Nota de Transcrição: vide Chronica universal de todas las naciones y tiempos, parte 3, página 159, de Alonso de Maldonado.
    Nota de Transcrição: vide Monarchia Ecclesiastica, livro 27, capítulo 12, página 216, de Juan de Pineda.
  6. Nota de Transcrição: Em mitologia grega, Diomedes é descrito como rei de Argos, mas de origem etólia.
  7. IV. Terceira Opinaõ.
  8. Brit. Monarc. Luſit. p. 1. liv. 1. cap. 22.
    Nota de Transcrição: vide Monarquia Lusitana de Bernardo de Brito.
  9. V. Quarta Opin.
  10. Joaõ Salg. de Arauj. Mart. Port. certam. 1. Art. 8. Ant. de Souz. de Maced. Proem Luzit. §. 1.
  11. VI. Quinta Opin.
  12. Floria. do Camp. liv. 3. cap. 37. Garib. comp. hiſt. liv. 5. cap. 10.
  13. VI. Sexta Opin.
  14. Mariz Dial. 1. cap. 4. Barr. Geog. do Minh.
  15. VIII. Septima Opiniaõ.
  16. Novais Añaer. hiſt. cap. 9. exam. 1.
  17. IX. Oitava Opin.
  18. Cerq. Pint. Proem. ao Catal. dos Biſp. do Porto §. 39.
  19. X. Inveroſimilidades deſtas Opin.
  20. XI. Primeira Inveroſimilidade.
  21. XII. Segunda inveroſimilidade.
  22. XIII. Terceira Inveroſimilidade.
  23. XIV. Quarta Inveroſimilidade.
  24. Para abonar eſta Opiniaõ baſta por todos erudito Portuguez e Biſpo Idacio, na ſua Chronica, em que diz: Ad Caſirum quod Portucale appellatur &c. e muito mais quando chama a Braga: extremam Civitatem Gallatias &c.
  25. XV. Fundaõ os Suévos a Cidade do Porto.
  26. XV. São expulſos pelos Godos, e eſſes pelos Mouros.
  27. XVII. Entraõ os Gaſcoens cõ huma Armada no Rio Douro e reedificaõ a Cidade.
  28. XVIII. Armas, e Padroeiro com q̃ a cõdecoraõ.