Dicionário de Cultura Básica/Ecologia

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ECOLOGIA e Economia (a conservação do ambiente: natureza, casa e cidade)

A cidade é uma casa grande,
a casa é uma cidade pequena
(ditado grego)

O étimo oikos, que significa "casa" ou lar, deu origem aos termos Ecologia e Economia. Com efeito, gerenciar uma casa tem muito a ver com governar uma cidade, que é um espaço maior com mais habitantes. A atividade econômica (sustento da casa) e ecológica (preservação do ambiente) têm muito em comum, desde as origens do primeiro agrupamento humano de que temos notícias. A cidade de Ur, na Mesopotâmia, nas margens dos rios Tigre e Eufrates, o atual Iraque, no IV Milênio a.C., era circundada por um muro e um fosso, separando o ambiente fechado (cidade) do aberto (campo). A campina era o espaço coletivo, de onde cada comunidade tirava o sustento, cultivando a terra. Para estabelecer o equilíbrio entre as propriedades privadas e públicas, surgiram códigos de condutas, visando o uso das águas e outras relações de vizinhanças. Portanto, a ecologia, considerada como proteção ambiental, tem raízes longínquas. Na Europa Ocidental, durante a Idade Média, acontece algo de semelhante. O regime feudal (→ Medievalismo) apresenta o "Castelo" com seus muros e fosso circular, que separavam a moradia do Senhor dos casebres onde viviam os habitantes do burgo, que cultivavam as terras. Foi com a Revolução Industrial, a partir do séc. XVIII, aumentando os aglomerados urbanos, que se acelerou o processo de devastação da natureza, ao mesmo tempo em que se proporcionava uma melhor qualidade de vida. A preocupação ecológica deve ser o encontro de um equilíbrio entre o progresso da sociedade e a preservação do meio ambiente. Daí a necessidade do planejamento familiar (não permitir a fábrica de seres humanos se não há meios de sustentá-los), urbano (não inchar a cidade de habitações sem infraestruturas), educacional (escolas suficientes e de bom nível para todos os habitantes de uma cidade), florestal (não permitir o desmatamento sem o plantio de novas árvores), do transporte (privilegiar os meios coletivos e antipoluentes). Infelizmente, preconceitos religiosos e ganância de grupos econômicos, que visam apenas lucros imediatos, impedem olhar para o futuro e preocupar-se com o bem estar da coletividade. Os países subdesenvolvidos, além de uma escolaridade deficiente, têm o mais alto índice demográfico e o pior tipo de transporte, o rodoviário, que é o mais caro, o mais perigoso, o mais lerdo e o mais poluente. É uma vergonha constatar que no Brasil, país de uma extensão enorme, só se fala em indústria automotiva e em estradas de rodagem. Todas as grandes nações se desenvolveram usando a ferrovia como meio de transporte a longa distância, que é mais rápido, mais seguro, mais barato e menos poluente. Mas no nosso país a ferrovia virou sucate, pois seu funcionamento contraria os interesses econômicos de grupos brasileiros e internacionais que querem vender carros, caminhões, pneus, combustíveis, autopeças. Sem falar dos políticos, a quem caberia a obrigação de zelar para o bem público, os próprios ecologistas não atinam para a importância desses problemas cruciais, estando mais preocupados com a morte de um passarinho do que em promover uma campanha a favor do transporte ferroviário, aéreo e hidroviário. Em Fernando de Noronha, a maravilhosa ilha do Nordeste brasileiro, considerada um paraíso ecológico, mas carente de água e eletricidade, vimos um monumental moinho de vento, construído para captar a energia solar, desativado porque tinha causado a morte de uma ave. Há sempre ecologistas de plantão mais sensíveis ao corte de uma árvore, do que ao sofrimento de crianças abandonadas nas calçadas. Atenta-se ao paradoxo: um homem que maltrata os animais ou suja as águas de um rio, diminuindo o oxigênio necessário para a vida dos peixes, é condenado por um crime hediondo; já o homem que gasta o dinheiro com drogas ou outros vícios, deixando seus filhos sem alimentos, além de não sofrer penalidades, é merecedor da ajuda solidária de entidades assistenciais. No fundo, qualquer problema ecológico deságua na falta de cultura de um povo. O estudioso David Landes, na sua obra A Riqueza e a Pobreza das Nações (1998), deixa bem claro que a história do desenvolvimento econômico ensina que é "a cultura que faz toda a diferença". Ele sugere que os países subdesenvolvidos têm que aprender, uma vez por toda, que somente a adoção dos valores europeus da liberdade, da democracia, da educação de todos, do estímulo à criatividade e o apreço pelo trabalho podem levar uma nação ao progresso e à independência econômica. É muito cômodo culpar o Capital estrangeiro pelo atraso cultural e pela pobreza. Nenhuma ajuda será suficiente se não houver o espírito patriótico de promover o progresso da coletividade. O dinheiro irá se perder nos meandros da burocracia inepta e dos políticos corruptos. A Alemanha, a Itália e o Japão (que no após-guerra adotou o modelo "ocidental" de sociedade), países massacrados na II Guerra Mundial, tornaram-se grandes potências porque os governos democráticos investiram na educação e no trabalho do seu povo, não deixando que ideologias utópicas ou crenças religiosas atrapalhassem seu desenvolvimento econômico. Está na hora de todas as pessoas de bem se unirem num coro de vozes para sacudir a consciência cívica e exigir dos governantes a solução dos problemas estruturais que impedem o progresso da nossa nação. O poder público, em lugar de por panos quentes, distribuindo esmolas via cesta básica e outros paliativos, tem que olhar para o futuro para melhorar o macro-ambiente, a natureza e a sociedade humana como um todo. Como diz um provérbio chinês:

"todas as flores do futuro estão nas sementes de hoje".