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Ecos da minh'alma/À fontinha

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Á FONTINHA.


Porque estás assim queixosa,
Qual triste lamentação,
Que sobre a campa do morto
Solta afflicto coração?
Porque suspiras, fontinha,
Porque gemes, pobresinha?

Temes que d’esta montanha,
Em cuja base murmuras,
Algum pedaço, rolando,
Turve-te as aguas tão puras?
Receias, que um sol ardente
Te esgote a clara nascente?

Não; choras o amor-perfeito,
Que junto a ti floresceu,
E balouçando se via
No argenteo espelho teu;
Estás saudosa carpindo
Esse amor, qu’era tão lindo!...

Em vão sua imagem buscas
No teu liquido crystal;
O furacão, que arrancou-te
O mimoso original,
Nem uma folha te deixa,
Que minore a tua queixa.

É por isso que, saudosa,
Qual triste lamentação,
Que sobre a campa do morto
Sólta afflicto coração,
Assim tu gemes, fontinha,
E suspiras, pobresinha.

Acaso possues um’alma,
Que lhe conheça o valor,
Tu que choras tão sentida

Pela perda d'essa flôr?
Si a possues, deves queixar-te;
Não pretendo consolar te.

Eu quero só minhas lagrimas
Com teus prantos confundir;
Quero meus tristes queixumes
A teus queixumes unir;
Quero comtigo viver,
Porque te vejo soffrer.

Quero sentir no meu peito
Os echos de tua dôr;
Quero suspirar comtigo ;
Partilhar teu dissabor,
De tua melancolia,
Quero beber a poesia.

Com a dôr eu sympathiso,
Porque a dôr tambem conheço;
Eu sei o que são angustias,
E de ti me compadeço;
Tambem saudades eu tenho,
Que alliar ás tuas venho.

Minha saudade é tão negra,
Qual noite tempestuosa;
E negra a tua saudade
Como véste luctuosa;
Ambas teem a côr da sina
Que nos coube, tão mofina!...

Eu quero, pois, minhas lagrimas
Com teus prantos confundir;
Quero meus tristes queixumes
A teus queixumes unir;
Quero comtigo viver,
Porque te vejo soffrer.

O formoso amor-perfeito,
Que a teu lado floresceu,
Que, tão lindo, reflectia
O argenteo espelho teu,
Vazio um lugar deixou,
Onde a saudade brotou.

Mas não temas que te deixe
Esta florinha querida;
O proprio tempo que passa,

De tudo extinguindo a vida,
Por ella debalde corre;
Porque a saudade não morre !




E a saudade que é minha,
Como os ais — do soffrimento, —
Como o riso é — da ventura, —
E — da desgraça—o lamento,

Quando a lousa do sepulchro
Meu corpo exangue esconder,
Ha de, fiel, a meu lado,
Qual na vida florescer.


20 de Setembro de 1851.