Ecos da minh'alma/Ao amor

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Amor! teu nome querido
Quanto é dòce proferir!
Mas quanto não é mais dòce
No coração te sentir!

Nume, que as almas abrasas
Co'a chamma dos fogos teus
Immensa como o oceano,
Infinita como Deus!

Não seres illimitado,
Fôra loucura pensar;
Ao teu despotico império
Quem póde um termo assignar?

Nos corações onde reinas,
Tens poder mysterioso;
Ao bom, as vezes, máu tornas ;
Tornas ao máu, virtuoso!

Ou feliz, ou desgraçado
Possuir-te é bem superno,
Quer ao céo nos arrebates,
Quer nos despenhes no inferno!!

Inferno?!... ao seio onde existas
Póde tal nome caber?
Póde soffrer d'elle as penas
Quem n'alma altares te erguer?!

De tuas magas virtudes
A mais celeste, a mais pura,
É permittires que achemos
No soffrimento a doçura!

É fazeres que teus golpes
Queiramos antes soffrer,
Que sentir no peito um vácuo
Que mais nada póde encher!

Do mundo as realidades,
Que mais cobiçadas são,
Amor! amor! eu não tróco
Por uma tua illusão!

Amor! qual eu te imagino
Nos dourados sonhos meus,
És um resumo das glorias,
Das harmonias de Deus!

4 de Agosto de 1851.