Ernestina
Nul n′est heureux et nul n'est triomphant.
Ernestina! bem vês que me sujeito á sorte;
Vive, como teu pae, do bulicio affastada;
Feliz bem sei que não. E′ um viver na morte,
Mas tem paciencia, filha e soffre resignada.
Ninguém é feliz, crê. Todos soffrem no mundo,
Para todos a vida é uma obra incompleta;
Em cada hora que vae descarrega-nos fundo
Um incuravel golpe a fera mão secreta.
Do berço á tumba dista um passo de creança; A vida é uma flôr que a viração desfolha, Um sonho passageiro, um sonho vão d′esp′rança, Que nos sorri e foge — e que nunca mais se ólha.
A vida é turbilhão, onde paixões enormes Combatem com fervor batalhas monstruosas; A perfidia villã compõe traições disformes, A cobardia esconde as garras cavilosas.
A adulação bajula os grandes potentados, Despreza a viuvez, a velhice e a orphandade, Quando ellas vão pedir o pão dos desgraçados, Estendendo da sombra a mão á caridade.
Já vês que o mundo é mau. Se por acaso leres, Nos dias d′infortunio, este meu pobre canto, Lembra-te que teu pae, antes de tu nasceres, Teu berço humedeceu com abundante pranto.
13 de Abril de 1878.