Eu vejo em tua bocca as pétalas vermelhas
Eu vejo em tua bocca as pétalas vermelhas
D'uma rosa de fogo aonde vão libar,
O mel das illusões, quaes timidas abelhas,
Uns velhos ideaes que em vão tento expulsar.
Dizer-me pódes tu de que ovulo espontaneo,
Tocado pelo sol, em mim poude nascer
Este bando cruel que dentro do meu craneo
Não faz ha muito já senão roer, roer?!
Ás vezes vôa ao largo; ás serras, ás campinas;
Remonta aos astros bons; torna a descer dos céos;
E volta a demolir as trémulas ruinas
Do templo onde crepita a luz dos dias meus!
Ó grande flôr suave! e n'isto se resume
A constante batalha, o sempiterno afan!
Aspira a minha essencia ao teu grato perfume;
Sossobra o dia d'hoje ao dia d'ámanhã!
Oh, volvamos á terra; aos placidos logares,
Aonde os hymeneus fecundos e reaes,
Produzem, dia a dia, os fetos singulares
E as sãs vegetações dos candidos rozaes!
E o que ha d'ethereo em nós, que siga as breves phases
D'um fluido transitorio, erguendo-se nos céos,
Nas grandes expansões dos fugitivos gazes
Onde em linguas de fogo ás vezes fala Deus.
Forçoso é separar os dois rivaes antigos,
Na batalha cruel que em nós se reproduz.
Sorria o que é da terra aos vegetaes amigos;
Rebrilhe o que é do céo nas refracções da luz!