Fabulas (9ª edição)/47
O Rato e a Rã
Estava um ratinho sem experiencia da vida tomando fresco á beira da lagoa, quando surgiu á tona uma rã velhaca.
— Bom dia, Rói-Rói! Que faz aí, tão pensativo?
— Estou admirando a beleza destas aguas e invejando a felicidade dos que podem viver nela.
— Tem razão de invejar-nos, ratinho. E’ lindo isto aqui dentro, mas não é para bico de rato. Ah, se você conhecesse a margem oposta!... Que beleza! Algas que boiam, libelinhas que esvoaçam. Quer ir até lá?
— Querer, quero. Mas como, se nado tão mal?
— Isso é o de menos. Posso atar você á minha pata, e leva-lo de reboque.
O ratinho aceitou. A rã trouxe uma embira, amarrou pata com pata e pôs-se a nado rebocando o ingenuo. Ao chegar em lugar fundo a rã, que o que queria era afogar o ratinho, mergulhou, procurando arrasta-lo consigo. Mas o ratinho em apuros pôs a boca no mundo, pererecou, gritou por socorro e resistiu aos empuxões da rã com quantas forças tinha. Nisto um gavião que ia passando ouviu o barulho, desceu qual uma flecha e agarrou o misero. Ao tirá-lo d’agua, porém, viu a rã encambada nele e exclamou radiante:
— Ora viva, que estou de sorte! Atirei no que vi e matei o que não vi. Meu jantar vai ser de carne e peixe.
E foi para o alto duma arvore engulir os petiscos — castigando, sem o saber, a traição da rã e a imprudencia do ratinho.
— Essa fabula, vóvó, não me parece fabula — parece historinha das que não tem moralidade. “Passo”.
— Eu tambem “passo”, disse Pedrinho.
— Eu, idem! berrou Emilia.
E dona Benta teve de contar a seguinte, que era a do Lobo e o Cordeiro — um suco!
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.