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Fabulas (9ª edição)/49

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O Cavalo e o Burro

Cavalo e burro seguiam juntos para a cidade. O cavalo, contente da vida, folgando com uma carga de quatro arrobas apenas, e o burro — coitado! gemendo sob o peso de oito. Em certo ponto o burro parou e disse:

— Não posso mais! Esta carga excede ás minhas forças e o remedio é repartirmos o peso irmãmente, seis arrobas para cada um.

O cavalo deu um pinote e relinchou uma gargalhada.

— Ingenuo! Quer então que eu arque com seis arrobas quando posso tão bem continuar com as quatro? Tenho cara de tolo?

O burro gemeu:

— Egoista! Lembre-se que se eu morrer você terá que seguir com a carga das quatro arrobas e mais a minha.

O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso. Logo adiante, porém, o burro tropica, vem ao chão e rebenta.

Chegam os tropeiros, maldizem da sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas do burro sobre as quatro do cavalo egoista. E como o cavalo refuga, dão-lhe de chicote em cima, sem dó nem piedade.

— Bem feito! exclamou um papagaio. Quem o mandou ser mais burro que o pobre burro e não compreender que o verdadeiro egoismo era alivia-lo da carga em excesso? Tome! Gema dobrado agora...


— Isto aqui, disse dona Benta, vale como lição do que é a falta de solidariedade.

— Oh, que comprimento de palavra! exclamou Narizinho. Que é solidariedade, vóvó?

— E’ o egoismo bem compreendido, minha filha. E’ o reconhecimento de que temos de nos ajudar uns aos outros para que Deus nos ajude. Quem só cuida de si, de repente se vê sozinho e não encontra quem o socorra. Aprendam.

— A coisa é bonita, comentou a menina, mas a palavra é feia e comprida demais. So-li-da-rie-da-de...



Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.