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Fabulas (9ª edição)/50

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O Intrujão

Um celebre patarata propalou pela cidade que era possivel ensinar a lêr aos burros. O rei soube do fato e o fez vir á sua presença.

— E’ verdade o que dizem por aí?

— Que é possivel ensinar a lêr a um burro? Perfeitamente, majestade. Comprometo-me a, em dez anos, transformar o mais burro dos burros num perfeito gramatico.

— E que é preciso para isso?

— Em primeiro lugar, um burro. Em segundo lugar, outro burro... perdão! uma pessoa que me garanta casa e comida pelo espaço de dez anos.

— Pois dou-te o burro e o mais, disse o rei. Se, porém, ao fim desse prazo não me apresentares o burro lendo e escrevendo corretamente, ai de ti!...

O charlatão saiu do palacio esfregando as mãos de contente. E como seus amigos, assustados, viessem criticar-lhe o absurdo daquele negocio e o fim desastroso que ele, charlatão, fatalmente teria, o nosso homem piscou velhacamente o olho, dizendo:

— Que ingenuos são vocês! Em dez anos, o rei, eu ou o burro, um de nós tres não existe mais. E assim, de qualquer maneira sairei ganhando. E’ ou não é?

— Todos concordaram que era...


— Gostei! berrou Emilia. Esse é dos meus. Fez um bom negocio e provou que o verdadeiro burro era Sua Majestade.

— Mas se se passassem os dez anos e nenhum dos tres morresse? perguntou Pedrinho.

— Ah, ele não se apertava! Quando faltasse um dia para inteirar os dez anos, dava um veneno ao burro e pronto! Ficava um burro só na historia: Sua Majestade Burrissimo I...



Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


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