Fabulas (9ª edição)/51
O Homem e a Cobra
Certo homem de bom coração encontrou na estrada uma cobra entanguida de frio.
— Coitadinha! Se fica por aqui ao relento, morre gelada.
Tomou-a nas mãos, conchegou-a ao peito e trouxe-a para casa. Lá a pôs perto do fogão.
— Fica-te por aqui em paz até que eu volte do serviço á noite. Dar-te-ei então um ratinho para a ceia. E saiu.
De noite, ao regressar, veio pelo caminho imaginando as festas que lhe faria a cobra.
— Coitadinha! Vai agradecer-me tanto...
Agradecer, nada! A cobra, já desentorpecida, recebeu-o de linguinha de fora e bote armado, em atitude tão ameaçadora que o homem, enfurecido, exclamou:
— Ah, é assim? E’ assim que pagas o beneficio que te fiz? Pois espera, minha ingrata, que já te curo...
E deu cabo dela com uma paulada.
— A senhora arranjou uma moralidade ao contrario da sabedoria popular que diz: “Fazei o bem e não olhai a quem”.
— Sim, minha filha. Esse fazer o bem sem olhar a quem é lindo — mas nunca dá muito certo. Aquele grande filosofo-educador da China...
— Confucio, já sei!... gritou Pedrinho.
— Ele mesmo, confirmou dona Benta. Pois Confucio, que foi o maior filosofo pratico da humanidade, disse uma coisa muito certa: “Tratai os bons com bondade e aos maus com justiça”.
Emilia bateu palmas.
— Pois então Confucio concorda comigo. Meu ditado é: “Para os maus, pau!” Justiça é pau.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.