Falenas/Notas

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LA MARCHESA DE MIRAMAR.

(Pag. 21.)


Conta um biographo do archiduque Maximiliano que este infeliz príncipe, quando estava em Miramar, costumava retratar photographicamente a archiduqueza, escrevendo por baixo do retrato: « La marchesa de Miramar. »


FLOR DA MOCIDADE.

(Pag. 43.)


Os poetas classicos francezes usavão muito esta forma a que chamavão triolet. Depois do longo desuso, alguns poetas d'este seculo resuscitárão o triolet, não desmerecendo dos antigos modelos. Não me consta que se haja tentado empregal-a em portuguez, nem talvez seja cousa que mereça trasladação. A fórma entretanto é graciosa e não encontra difficuldade na nossa lingua, creio eu.




MENINA E MOCA.

(Pag. 49.)


A estes versos respondeu o meu talentoso amigo Ernesto Cybrão com a seguinte poesia; vale a pena escrever de menimas e moças, quando ellas produzem estas flôres e fructos:


FLÔR E FRUCTO.


A antithese é mair do que pensaste, amigo.

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Está n'aquella idade em que se busca o abrigo

Do berço contra o sol, do mundo contra o lar;
Ante-manhã da vida, hora crepuscular,
Que traz dormente a moça e desperta a menina:
Esta brinca no céo, incarnação divina,
Aquella sonha e crê... quantos sonhos de amor!
São uma e outra a mesma: o fructo sahe da flôr.

Era a flôr perfumosa e bella e delicada,
A seducção da briza, o amor da madrugada;

Mas nasce o fructo amargo, e traz veneno em si...
Aqui morre a menina e nasce a moça; aqui
Cede a criança-luz o passo á mulher-fogo;
E vai-se o cherubim, surge o demonio; e logo
Da terra faz escrava e quer pisal-a aos pés.
Insurjo-me: serei vassallo máo talvez,
Serei; e ao triste exilio o coração condemno.
Peço a menina-flôr, dão-me a mulher-veneno;
Prefiro o meu deserto, a minha solidão:
Ella tem o futuro, e eu tenho o coração.

Bem sabes tu que adoro as louras criancinhas,
E levo a adoração no extasi. Adivinhas
Que encontro na criança um perfume dos céos
E n'ella admiro a um tempo a natureza e Deos.
Pois, quando cinjo ao collo uma menina, e penso
Que inda ha de ser mulher, sinto desgosto immenso;
Porque póde ser boa, e victima será,
E, para ser ditosa, ha de talvez ser má...

De mim dirás com pena: « Oh! coração vasio!
Cinza que foste luz! lama que foste rio! »

Olha, amigo, a mulher é um idolo. Tens fé?
Ajoelha e sê feliz; eu contemplo-a de pé.

Cede a Menina e Moça á lei commum: divina
E bella e encantadora emquanto a vês menina;
Moça, transmuda a face e toma um ar cruel:
Desapparece o archanjo e mostra-se Lusbel.
Amo-a quando é criança, adoro-a quando brinca;
Mas, quando pensativa o rubro labio trinca,
E os olhos enlanguece, e perde a rosea côr,
Temo que o fructo-fel surja d'aquella flôr.



OS DEOSES DA GRECIA.

(Pag. 65.)

Não sei allemão; traduzi estes versos pela traducção em prosa franceza de um dos mais conceituados interpretes da lingua de Schiller.




UN VIEUX PAYS.

(Pag. 101.)

Perdoem-me estes versos em francez; e para que de todo em todo não fique a pagina perdida aqui lhes dou a traducção que fez dos meus versos o talentoso poeta maranhense Joaquim Serra:


É um velho paiz, de luz e sombras,
Onde o dia traz pranto, e a noite a scisma;
Um paiz de orações e de blasphemia,
N'elle a crença na duvida se abysma.

Ahi mal narce a flôr o verme a corta,
O mar é um escarcéo, e o sol sombrio;
Se a ventura n'um sonho transparece
A suffoca em seus braços o fastio.

Quando o amor, qual sphynge indecifravel,
Ahi vai a bramir, perdido o sizo...
Ás vezes ri alegre, e outras vezes
É um triste soluço esse sorriso...

Vive-se n'esse e paiz com a mágoa e o riso;
Quem d'elle se ausentou treme e maldiz;
Mas ai, eu n'elle passo a mocidade,
Pois é meu coração esse paiz!




LYRA CHINEZA.

(Pag. 111.)

Os poetas imitados n'esta collecção são todos contemporaneos. Encontrei-os no livro publicado em 1868 pela Sra. Judith Walter, distincta viajante que dizem conhecer profundamente a lingua chineza, e que traduzio em simples e corrente prosa.




FEZ-SE NIOBE EM PEDRA, ETC.

(Pag. 155.)


É do Sr. Antonio Feliciano de Castilho a traducção d'esta odezinha, que deu lugar á composição do meu quadro. Foi immediatamente á leitura da Lyrica de Anacreonte, do immortal autor dos Ciumes do Bardo, que eu tive a idéa de pôr em acção a ode do poeta de Teos, tão portuguezmeute sahida das mãos do Sr. Castilho que mais parece original que traducção. A concha não vale a perola; mas o delicado da perola disfarçará o grosseiro da concha.



FIM DAS NOTAS.