Fantina/XXXV 2
Dois annos depois em uma ruella muito immunda, onde atiravam o lixo, via-se uma mulher de physionomia asquerosa, coberta de andrajos lamacentos, bebeda, insultar os transeuntes e gritar obcenidades porcas.
Por uma manhã chuvosa e fria, quando corriam pelo ar as cantilenas tristes da ventania melancholica, ouviu-se como um dies irœ a voz de uma creança débil e clorotica berrando :
— Mamãe Fantina ! mamãe Fantina !
Era Julia que chorava porque a mãe tinha amanhecido morta. Passados dias, um taverneiro sentindo o esvoaçar dos corvos avisou á policia, e encontraram um cadaver em dessoração e todo roido dos vermes, que caiam como bagos de chumbo.
A' tarde, sentado na saleta da Silveria, Frederico viu passar um esquife nos hombros de dois galés.
— Quem morreu ? disse elle.
— Foi a pobre que os urubus descobriram. Chamava-se Fantina.
Frederico chegando fogo ao cigarro, e deitando a cabeça no collo da Silveria, disse :
— Se ella não fosse tão tola podia ter vivido mais tempo.
Este material está em domínio público nos Estados Unidos e demais países que protejam os direitos autorais por cem anos (ou menos) após a morte do autor.