Fui ver a um menino
Fui ver a um menino,
E vi a um gigante,
Que de amor os olhos,
Tudo fazem grande.
Em chegando a vê-Lo,
Sem equivocar-me,
Um Rei vi, mas era,
Um Rei mui infante.
Púrpura vestia,
Quando estava em carne,
Que enroupado treme,
E sem roupas arde.
Partia-se a noite,
E era uma ametade,
Mais clara, que o dia,
Que o mesmo sol parte.
Estava o Menino,
Com silêncio grave,
Como homem falando,
Por boca do Padre.
Viu-me, e conheceu-me,
Que em tão tenra idade,
Vê mais do que os linces,
Mais que os homens sabe.
Sorriu-se em me vendo,
Com tanto donaire,
Que amantes faria,
Dos mesmos diamantes.
A vê-lo, pastores,
Que o mais é debalde,
Quem o vê tem glórias,
E quem não, pesares.
Estribilho.
Que me matem senhores,
Ai, que me matem,
Se não é o Menino,
Uma divindade.
Coplas.
Quem não tem princípio,
Ver hoje que nasce!
Quem nos Céus não coube,
Ver adonde cabe!
Fazer-se pequeno,
Quem é todo grande!
Ter berço de palhas,
Quem pisa diamantes!
Estar aos rigores,
Do tempo inconstante,
Quem governa os tempos,
E as eternidades!
Quem é tão divino,
Querer humanar-se,
Deixando as alturas,
Pelas humanidades!
Estribilho.
Que me matem senhores,
Ai, que me matem,
Se não é o Menino,
Uma divindade.