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Galeria dos Brasileiros Ilustres/Bernardo de Sousa Franco

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Bernardo de Souza Franco, filho legítimo do negociante matriculado da província do Pará, Manuel João Franco, e de sua mulher D. Catarina de Souza Franco, nasceu na capital da mesma província em 28 de junho de 1805.

Freqüentando as aulas de preparatórios, quando sob a sábia direção do atual arcebispo da Bahia cursava a de Lógica, foi em 27 de maio de 1823 pronunciado e preso, por se ter envolvido na luta da independência da província, e remetido para Portugal a bordo da galera Andorinha do Tejo, com 257 outros independentes, parte dos quais faleceu na viagem à fome, sede e outras privações. Os que escaparam, tendo sido recolhidos à fortaleza de S. Julião, foram daí soltos poucos dias depois da sua chegada, e o jovem paraense voltou à sua pátria em fevereiro de 1824.

Deu-se então ao comércio; mas bem depressa a sua vocação pelas letras o fez deixar essa carreira, para continuar a cultivar o talento de que era dotado na Academia de Olinda, onde se matriculou no ano de 1831, e tomou em 1835 o grau de bacharel em Direito, tendo durante todo o curso distinguido-se já nas aulas, obtendo o primeiro prêmio exclusivo no primeiro ano e nos seguintes, já na imprensa, redigindo com suma habilidade alguns jornais, como a Voz do Beberibe e Diário de Pernambuco.

Voltando ao Pará em março de 1836, assistiu ainda em parte à luta contra os rebeldes que assolaram a província, e serviu de procurador fiscal da tesouraria desde junho de 1836 até 16 de agosto, em que foi nomeado juiz do cível da capital.

Neste intervalo foi nomeado presidente da província do Pará, em substituição do general Andréia; e, embora jovem e sem prestígio, tendo tomado posse no dia 8 de abril de 1839, pôde manter a ordem ameaçada e acabar de subjugar a rebelião que, durante sua curta, mas vigorosa administração deu os últimos arrancos nos campos de Ecuipi-ranga e Monte Alegre, e no rio Acará, sendo desde então que se pôde dizer pacificada a província; e deixou as rédeas da administração em fevereiro de 1840, reassumindo-as de novo como vice-presidente em fevereiro de 1841, pelo falecimento do vice-almirante Tristão Pio dos Santos, para as tornar a deixar em abril de 1842. As muitas obras que então aí se começaram, e a regularidade e economia na arrecadação e dispêndio das rendas públicas, são o testemunho da boa administração, que lhe granjeou na província a imensa popularidade de que ainda goza.

Querendo o governo dar-lhe um testemunho do alto apreço em que tinha os seus serviços, por ocasião da coroação de S. M. o Imperador nomeou-o comendador da Ordem de Cristo.

Depois desta época, entregue todo aos trabalhos da magistratura e parlamentares, apenas teve a interrupção da curta presidência da província das Alagoas, de junho a dezembro de 1844, em que atacado na capital por forças superiores, ao mando do chefe das matas Vicente Ferreira de Paula, puderam os revoltosos forçá-lo a retirar-se para bordo de um navio de guerra; não conseguindo porém arrancar-lhe nenhuma das concessões que exigiam à ponta dos bacamartes e dos punhais dos sicários das matas de Jacuípe.

Já desde 1842 o conselheiro Souza Franco, que andara aliado aos moderados de 1831 a 1837, e aos reorganizadores de 1838 em diante, tinha-se recolhido de novo às fileiras do partido progressista, no propósito de opor barreira aos excessos do partido conservador; e foi nestas fileiras que o país o viu distinguir-se nas sessões de 1844, de 1848, e principalmente na de 1850, quando em unidade na câmara sustentou a discussão contra todos os membros, tomando a palavra todos os dias, e mais de uma vez por dia, e em todas as questões.

Os estudos de parlamentar o haviam lançado de preferência nas questões financeiras e comerciais; das quais se alguma vez saiu para com distinção e brilho tratar de questões importantíssimas, como a da maioridade e da lei das terras, em que fez notáveis discursos, era para voltar de novo aos seus estudos favoritos — os financeiros.

Chamado aos conselhos da Coroa em 31 de maio de 1848, fazendo parte do Ministério Paula e Sousa, ocupou por quatro meses, até 29 de setembro, a pasta dos Negócios Estrangeiros, e interinamente por todo o mesmo mês de setembro a da Fazenda.

Durante a sessão das câmaras nesse ano, que foi tempestuosa e difícil, o conselheiro Souza Franco sustentou na primeira linha os atos do Ministério de que fazia parte, e firmou a reputação de estadista e de parlamentar distinto que depois em 1850 lhe mereceu a glória de ser um dos principais chefes do partido progressista, e hoje do conciliador.

Foi em 1853 que pela primeira vez, depois de 16 anos de vida parlamentar e de eleições sucessivas, contra os esforços até das autoridades, que por vezes, como em 1840, 1842 e 1849, lhe foram infensas na província, repelido da câmara temporária, para a qual fora o único eleito do partido progressista, liberal ou luzia, teve de retirar-se à vida privada. Aí mesmo porém o acompanhou a popularidade de que gozava, e que se aumentara com a injusta rejeição de sua eleição, e o novo advogado teve o patrocínio das principais demandas do foro do Rio de Janeiro, e por clientes a maioria do corpo do comércio desta importante praça da América meridional.

Não tinha porém de durar muito a sua retirada da vida política; e dois anos depois, em 1855, reapareceu na câmara temporária como deputado, por falecimento do que o era, e foi dos primeiros a apoiar com sua voz poderosa os princípios da moderação e concórdia proclamados pelo gabinete de que era chefe o marquês de Paraná, pugnando contudo para que eles se tornassem reais e efetivos, passando a administração do primeiro período, o da confusão dos partidos e amortecimento das paixões, para o do progresso e reformas exigidas pelo país.

Havia no ano antecedente falecido o senador pelo Pará, conselheiro de estado José Clemente Pereira; e os paraenses, dando mais uma prova do apreço em que tinham o seu ilustrado patrício, o apresentaram em primeiro lugar na lista tríplice, da qual o escolheu a Coroa no dia 5 de junho de 1855, que fora o mesmo da chegada do vapor do Norte em que veio essa lista. A Coroa manifestou por mais este ato de justiça e apreço que faz do estadista paraense, e quanto conta com os seus serviços em prol do Império, e firme dedicação à sagrada pessoa do Monarca.

No Senado continuou o conselheiro Souza Franco a abundar em provas de que os seus princípios de conciliação eram sinceros; e os seus discursos, ainda os de oposição, revelavam a moderação que é própria de um senador, e a convicção de que só o respeito recíproco às opiniões e pessoas pode dar em resultado o amortecimento das paixões políticas, e a regularidade da administração no sentido dos interesses gerais da nação, como é indispensável para a prosperidade e grandeza do império.

Foi nesta posição que, chamado de novo aos Conselhos da Coroa no dia 4 de maio de 1857, aliou-se com o Sr. Jerônimo Francisco Coelho ao respeitável ancião o sr. marquês de Olinda, e mais colegas, o sr. visconde de Maranguape, Pereira de Vasconcelos e Saraiva, para dirigirem os negócios públicos segundo os patrióticos desejos da Coroa, de ver reunidos em uma família os brasileiros todos, e somente preferidos a capacidade e os serviços, sem atenção às opiniões políticas anteriores.

O que o ministro da Fazenda, por sua parte, tem feito neste propósito está patente a todos; e todos os homens de boa-fé confessam que nunca deixou de consultar nos seus atos os verdadeiros interesses do país, e servido o monarca com uma lealdade e dedicação digna de ser apreciada.

Esses atos estão por tal sorte recentes na memória de todos, que não é preciso recordá-los. Progressista em finanças, o conselheiro Sousa Franco tem sabido adotar as vantagens do progresso sem os perigos das bruscas inovações; o crédito, desenvolvido por meio da criação dos estabelecimentos bancários, o foi contudo com tão grave madureza, que a crise financeira que sobreveio no mundo comercial não encontrou o Império envolvido nessas excessivas especulações, que têm sido uma das principais causas dos desastres de muitas outras praças comerciais.

Sobre os serviços que o ministério atual, pelo seu ministro da Fazenda, o Conselheiro Souza Franco, tem feito ao país e ao monarca durante a crise financeira por que vamos passando, já preparando em Londres, com grande antecedência, os fundos necessários para as despesas exteriores, ordinárias e extraordinárias, e já dando a mão ao Banco do Brasil, e o dirigindo nas medidas que deve tomar para salvar a praça do Rio de Janeiro, e com ela as mais do Império, das calamidades porque passaram as dos Estados Unidos, Hamburgo, e até certo ponto a da soberba e riquíssima Londres; sobre tão avultados serviços, dizemos nós, deixamos que falem os fatos, os comparativamente suportáveis embaraços da praça, e a confiança que renasce entre os comerciantes.