História da Mitologia/XXIII
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O rio-deus Aqueloo contou a história de Erisictão a Teseu e seus companheiros, a quem ele estava divertindo em suas margens acolhedoras, enquanto a viagem sofria algum atraso por causa do transbordamento de suas águas. Ao terminar a história, ele acrescentou, "Mas, porque estaria eu contando aqui sobre as transformações de outras pessoas, quando eu mesmo sou um exemplo do domínio deste encanto? Algumas vezes me torno uma serpente, e outras vezes um touro, com chifres em minha cabeça, ou deveria eu dizer que antigamente eu podia fazer essas coisas, porque agora eu tenho apenas um chifre, porque um eu perdi." E nesse instante, ele soltou um gemido e ficou em silêncio. Teseu perguntou a ele a causa de tanta tristeza, e a razão dele ter perdido o chifre. Diante da pergunta o rio-deus respondeu da seguinte forma: "Quem gosta de falar de suas derrotas? Contudo, não hesitarei em relatar as minhas, consolando-me com o pensamento da grandeza do meu conquistador, que foi Hércules." "Talvez já tenhas ouvido falar da fama de Dejanira, a mais bela das donzelas, a quem um grupo de pretendentes se esforçou para conquistar. Hércules e eu mesmo fazíamos parte desse grupo, e os demais desistiram diante de nós dois. Ele argüiu como defesa a sua descendência de Jove além de seus trabalhos com os quais ele superou as exigências de Juno, sua madrasta. Eu, por outro lado, disse ao pai da donzela, "Contempla a mim, o rei das águas que corre pelas tuas terras. Não sou nenhum estranho vindo de litorais estrangeiros, mas faço parte deste país, faço parte de teu reino. Não permitas que a realeza de Juno consagre a mim nenhuma inimizade, nem me puna com tarefas pesadas. Quanto a este homem, que se vangloria de ser o filho de Jove, seria isso uma falsa pretensão, ou uma grande desgraça caso seja verdade, pois isso não pode ser verdade, exceto para vergonha de sua mãe." "Quando eu disse isso, Hércules me olhou com cara feia, e com dificuldade conteve o seu ódio. "As minhas mãos saberão responder melhor que a minha língua," disse ele. "Concedo a você a vitória das palavras, mas entrego minha causa à discussão dos fatos." Dito isto, ele avançou na minha direção, e eu senti vergonha, do que havia dito, para me submeter. Me desfiz de minhas vestes verdes e me apresentei para a luta. Ele tentou me derrubar, ora atacando minha cabeça, ora meu corpo. Meu tamanho era minha proteção, e em vão ele me atacava. Paramos por um momento, depois retornamos ao conflito. Cada um de nós manteve sua posição, dispostos a não ceder, disputando cada centímetro, eu, curvado sobre ele, segurando com força as minhas mãos, minha testa quase tocando a dele. Por três vezes Hércules tentou me derrubar, e na quarta vez ele conseguiu, me jogando ao chão, e montando sobre minhas costas. Digo-vos a verdade, era como se uma montanha houvesse caído em cima de mim. Lutei para libertar os meus braços, respirando ofegante e exalando minha transpiração. Ele não me dava chances de recuperar minhas forças, e apertou a minha garganta. Meus joelhos tocavam a terra e minha boca engolia a poeira. "Percebendo que não seria páreo para ele nos embates da luta, apelei para outros meios e me deslizei na forma de uma serpente. Enrolei meu corpo como se fosse uma espiral e silvei para ele com minha língua bifurcada. Ele sorriu desdenhosamente, e disse, "Na minha infância eu adorava dominar serpentes." "E assim dizendo, ele agarrou o meu pescoço com as suas mãos. Quase fui sufocado, e lutei para livrar o meu pescoço de suas garras. Vencido dessa forma, tentei o que restava para mim e assumi a forma de um touro. Ele agarrou a minha garganta com os seus braços, e puxando minha cabeça até o chão, me derrubou na areia. Mas isso não foi o suficiente. Suas mãos impiedosas arrancaram-me o chifre da cabeça. As Náiades o pegaram, o consagraram, e o encheram com flores perfumadas. A deusa Fartura pegou o meu chifre e fez dele sua propriedade, dando-lhe o nome de Cornucópia." Os antigos gostavam de encontrar um significado oculto em seus contos mitológicos. Eles interpretavam esta luta de Aqueloo com Hércules dizendo que Aqueloo era um rio que nas estações das chuvas transbordava em suas margens. Quando a lenda diz que Aqueloo amava Dejanira, e buscava unir-se com ela, eles diziam que o rio com suas sinuosidades fluíam por terras no reino de Dejanira. Sobre a sua transformação em serpente, eles diziam que era por causa da sinuosidade do rio, e a representação do touro devia-se ao gemido ou murmúrio que o rio faz em sua corrente. Quando o rio transbordava, ele criava para si mesmo um outro canal. Por isso dizia-se que havia um chifre na cabeça do rio. Hércules impediu o retorno dessas inundações periódicas por meio de diques e canais; e por isso dizem ter ele vencido o deus-rio e lhe arrancado o chifre. Finalmente, as terras que antes estavam sujeitas a inundações, e que agora haviam sido recuperadas, se tornaram muito férteis, e isto é explicado pela cornucópia[1]. Existe ainda uma outra história sobre a origem da Cornucópia. Júpiter ao nascer foi entregue por sua mãe Reia aos cuidados das filhas de Melisso, rei de Creta. Elas amamentaram o deus menino com leite da cabra Amalteia. Júpiter quebrou um dos chifres da cabra e ofereceu-o às amas que cuidavam dele, dotando-o com o poder maravilhoso de poder enchê-lo com qualquer coisa que seu dono desejasse. O nome de Amalteia é dado por alguns autores para a mãe de Baco. Foi usado por Milton, em sua obra "Paraíso Perdido," Livro IV, desta maneira: "... Aquela ilha niseniana[2], Esculápio, filho de Apolo, foi ensinado por seu pai com tanta habilidade na arte da cura que ele até restituía a vida aos mortos. Diante disto, Plutão ficou assustado, e insistiu para que Júpiter lançasse um raio sobre Esculápio. Apolo ficou indignado com a destruição de seu filho, e descarregou sua vingança sobre os trabalhadores inocentes que haviam produzido o raio. Estes eram os Ciclopes, cuja oficina ficava sob o Monte Eta, de onde a fumaça e as chamas de suas fornalhas exalavam constantemente. Apolo atirou suas setas contra os Ciclopes, o que deixou Júpiter tão furioso a ponto de condená-lo com um castigo de servir a um mortal pelo período de um ano. E desse modo, Apolo entrou a serviço de Admeto, rei da Tessália, e ficou encarregado da pastagem do rebanho para ele às margens verdejantes do rio Anfriso. Admeto era um pretendente, junto com outros, às mãos de Alceste, filha de Pélias, que a havia prometido a aquele que viesse a procura dela montado numa carruagem puxada por leões e javalis. Admeto realizou esta tarefa com a ajuda de seu divino pastor, que ficou feliz recebendo Alceste como prêmio. Mas Admeto ficou doente, e estando próximo de morrer, Apolo recorreu às Parcas para poupá-lo com a condição de que alguém se permitisse morrer em seu lugar. Admeto, feliz com o adiamento de sua morte, deu pouca importância ao resgate, e talvez lembrando-se das declarações de amizade que recebia constantemente de seus cortesãos e dependentes imaginou que seria fácil encontrar um substituto. Mas não foi bem assim. Bravos guerreiros, que de bom grado teriam colocado em risco suas vidas pela do seu príncipe, recuaram diante da ideia de morrer por ele em seu leito de aflição; e velhos servidores que tinham usufruído de sua magnanimidade e de sua hospitalidade, desde que eram pequeninos, não desejavam depositar os escassos restos de seus dias, como demonstração de gratidão. Alguns até perguntavam, "Porque um de seus pais não podem fazer isso? Eles não poderão viver muito mais tempo no curso da vida, e quem mais além deles poderia sentir o chamado para o resgate da vida que foi gerada para um fim prematuro?" Os pais, porém, embora estivessem angustiados com o fato de perder o filho, declinaram de atender o pedido. Então, Alceste, tomada por generosa devoção, se ofereceu como substituta. Admeto, que gostava tanto da vida, não teria aceitado tal proposta a um custo tão alto; mas não havia outras soluções. A condição imposta pelas Parcas havia sido atendida, e a sentença não poderia ser revogada. Alceste então, adoeceu e Admeto reviveu, e rapidamente ela foi se aproximando da sepultura. Bem nessa época, Hércules havia chegado ao palácio de Admeto, e percebeu que os moradores estavam muito angustiados por causa da perda iminente da esposa devotada e amada senhora. Hércules, a quem nenhum trabalho era demasiadamente árduo, decidiu tentar salvá-la. Então, ele foi e se colocou à espera atrás da porta do quarto da rainha agonizante, e quando a Morte veio buscar a sua presa, ele a agarrou com força e a forçou a renunciar a sua vítima. Alceste se recuperou, e foi devolvida ao seu marido. Milton se refere à história de Alceste em seu "Soneto" sobre a esposa falecida:" "Pensei ter visto minha santa e falecida esposa J. R. Lowell (1819-1891) preferiu o "Pastor do rei Admeto" como tema de um curto poema. Ele faz desse evento a primeira introdução da poesia para os homens. "Os homens diziam que ele era um jovem indolente, Considerável proporção, tanto de pessoas interessantes como de fatos exacerbados a respeito da legendária Grécia, pertence ao sexo feminino. Antígona foi um brilhante exemplo de fidelidade fraternal e filial assim como Alceste é da dedicação conjugal. Antígona era filha de Édipo e de Jocasta, a qual, junto com todos seus descendentes, foram vítimas de um destino implacável, condenados à destruição. Édipo numa crise de loucura, arrancou os próprios olhos, e foi expulso de seu reino, Tebas, temido e abandonado por todos, qual objeto da divina vingança. Antígona, sua filha, sozinha palmilhou com ele suas andanças, permanecendo junto do pai até o dia de sua morte, voltando depois para Tebas. Seus irmãos, Etéocles e Polinices, concordaram em compartilhar o reino entre si, e reinarem alternativamente ano após ano. O primeiro ano, por sorteio, foi dado a Etéocles, o qual, expirado seu tempo, se recusou a entregar o reino para o irmão. Polinices fugiu para pedir ajuda a Adrasto, rei de Argos, que lhe ofereceu sua filha em casamento, e o ajudou, fornecendo-lhe um exército, para fazer valer seu direito ao reino. Isto acabou gerando a renomada expedição dos "Sete contra Tebas", fornecendo amplos materiais para os poetas épicos e trágicos da Grécia. Anfiarau, cunhado de Adrasto, se opôs ao plano, pois ele tinha o dom da profecia, e sabia por efeito de sua magia, que nenhum dos líderes, com exceção de Adrasto, sobreviveria para voltar. Mas Anfiarau, ao se casar com Erifila, filha do rei, havia combinado, que quando ele e Adrasto tivessem uma opinião diferente, a decisão seria tomada por Erifila. Polinices, sabendo do acordo, presenteou Erifila com o colar da Harmonia, conquistando com isso o voto dela para assuntos de seu interesse. Este colar ou gargantilha, tinha sido um presente que Vulcano havia dado a Harmonia por ocasião de seu casamento com Cadmo, e Polinices o havia levado com ele durante a sua fuga de Tebas. Erifila não conseguia resistir à tentaçao de suborno, e por decisão dela a guerra fora declarada, e Anfiarau foi de encontro ao seu destino previsto. Ele desempenhou seu papel com bravura nos combates, mas jamais poderia anular sua sorte. Perseguido pelo inimigo, fugia margeando o rio, quando um raio lançado por Júpiter abriu o chão, e Anfiarau, junto com sua carruagem e o cocheiro foram engolidos pela terra. Não haveria aqui espaço o bastante para detalhar todos os atos de heroísmo ou de atrocidade que assinalaram o combate; mas, não podemos deixar de registrar a fidelidade de Evadne[3] como compensação pela pusilanimidade de Erifila. Capaneu, marido de Evadne, no ardor do combate declarou que ele forçaria a entrada da cidade mesmo contra a vontade do próprio Jove. Colocando uma escada contra as muralhas da cidade, ele subiu nela, Júpiter, porém, ofendido com suas bravatas, golpeou-lhe com um raio. Quando o seu funeral estava sendo celebrado, Evadne se lançou sobre a pira funerária, morrendo imediatamente. Antes do início do combate, Etéocles consultou o mago Tirésias, com relação ao assunto. Tirésias, em sua juventude, tivera a oportunidade de ver Minerva se banhando. A deusa, em sua fúria, o privou da visão, mas depois, se compadeceu e deu-lhe em compensação o conhecimento dos acontecimentos futuros. Quando consultado por Etéocles, Tirésias declarou que a vitória seria de Tebas se Menoceu, filho de Creonte, se oferecesse como vítima voluntária. O jovem herói, ao saber disso, anulou a própria vida no primeiro combate. O cerco à cidade continuou por muito tempo ainda, e muitos sucessos foram conseguidos. Finalmente as duas tropas concordaram que os irmãos deveriam decidir a contenda com um único combate. Eles lutaram e ambos pereceram pelas mãos um do outro. Os exércitos, então, reiniciaram a luta, e finalmente os invasores foram forçados a ceder, e fugiram, deixando insepultos seus mortos. Creonte, tio dos príncipes mortos em combate, tornou-se então rei, fez com que Etéocles fosse sepultado com honras reais, mas deixou que o corpo de Polinices ficasse no mesmo lugar onde ele caiu, probindo a qualquer um, sob pena de morte, de oferecer-lhe sepultamento. Antígona, a irmã de Polinices, ouviu com indignação o revoltante édito que decretava o corpo do seu irmão para os cães e os abutres, privando-o dos rituais que eram considerados essenciais para descanso dos mortos. Impassível diante do conselho dissuasivo de uma irmã tímida, porém, afetuosa, e impossibilitada de procurar ajuda, ela decidiu desafiar o perigo, e sepultar o corpo com suas próprias mãos. Ela foi presa em flagrante, e Creonte deu ordens para que fosse sepultada viva, por ter deliberadamente desrespeitado o edito solene da cidade. Seu amante, Hêmon, filho de Creonte, impossibilitado de anular-lhe o destino, não sobreviveu a ela, morrendo pelas próprias mãos. Antígona faz parte do enredo de duas ótimas tragédias do poeta grego Sófocles. A Sra. Jameson (1794-1860), em sua obra "Características das Mulheres," comparou o caráter de Antígona com o de Cordélia, na peça de Shakespeare Rei Lear. A cuidadosa leitura de suas anotações não podem deixar de satisfazer os nossos leitores. Os versos a seguir falam dos lamentos de Antígona por causa de Édipo, quando a morte finalmente o liberta de seus sofrimentos: "Pobre de mim! Desejaria apenas ter morrido --Tragédias de Sófocles traduzidas por Francklin (1721–1784). Penélope, é outra dessas heroínas míticas cuja beleza de caráter e de conduta sobrepujavam a própria personalidade. Ela era filha de Icário, príncipe de Esparta. Ulisses, rei de Ítaca, a pediu em casamento, e conseguiu, apesar de outros pretendentes. Quando chegou o momento em que a noiva deveria deixar a casa paterna, Icário, incapaz de suportar a ideia de separação da filha, tentou convencê-la a permanecer com ele, não acompanhando o marido até Ítaca. Ulisses deixou que Penélope escolhesse, em ficar ou ir com ele. Penélope não deu resposta, e colocou um véu sobre o rosto. Icário não insistiu mais, porém, quando ela se foi, erigiu uma estátua à Modéstia no lugar onde eles partiram. Ulisses e Penélope não haviam desfrutado mais que um ano desde o casamento quando a felicidade do casal foi interrompida pelos eventos que convocavam Ulisses para a Guerra de Troia. Durante sua longa ausência, e quando ainda havia dúvidas se ele ainda estava vivo, e era alta a probabilidade que ele jamais retornasse, Penélope passou a ser importunada por inúmeros pretendentes, para quem parecia não haver outra saída, exceto, escolher um deles para marido. Penélope, todavia, se utilizou de todos os recursos para ganhar tempo, pois ainda acreditava na volta de Ulisses. Um de seus expedientes de protelação estava relacionado à preparação para o manto funerário de Laertes, pai de seu marido. Ela prometeu a si mesma tomar uma decisão entre os pretendentes quando tivesse terminado esse serviço. Durante o dia ela trabalhava na confecção do manto, mas à noite ela desfazia o que havia feito durante o dia. Essa é a famosa teia de Penélope, usada como expressão proverbial para qualquer coisa que é feita perpetuamente mas nunca terminada. Outros fatos sobre a história de Penélope será contado quando fizermos um relato sobre as aventuras do seu marido. Notas e Referências do Tradutor[editar]
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