Horas vivas (1864)
Noite: abrem-se as flôres...
Que explendores!
Cynthia sonha amores
Pelo céu.
Tenues os neblinas
Ás campinas
Descem das collinas,
Como um véu.
Mãos em mãos travadas,
Animadas,
Vão aquellas fadas
Pelo ar;
Soltos os cabellos,
Em novellos,
Puros, louros, bellos,
A voar.
— «Homem, nos teus dias
Que agonias,
Sonhos, utopias.
Ambições;
Vivas e fagueiras,
As primeiras,
Como as derradeiras
Illusões!
— «Quantas, quantas vidas
Vão perdidas,
Pombas mal feridas
Pelo mal!
Annos apoz annos,
Tão insanos,
Vem os desenganos
Afinal.
— «Dorme: se os pesares
Repousares,
Vês?—por estes ares
Vamos rir;
Mortas, não; festivas,
E lascivas,
Somos — horas vivas
De dormir! — »