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Horto (1910)/A morte de Helena

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A MORTE DE HELENA


«Eu não quero morrer;» dizia a pobre Helena,
E a fronte, a soluçar, cahiu no travesseiro...
(Ai! recordava assim a pallida açucena
Ou, do galho a pender, a flor do jasmineiro!)

«Não me deixem morrer assim na Primavera:
Esconde-me no seio, ó minha mãe querida!
A morte como é triste! e o noivo que me espera
Ha de chamar por mim... Quem restitue-me a vida?»

E se poz a chorar: mas, chegando o delirio,
Esqueceu-se da morte e começou a rir...
Pobre noiva do Amor! Pobre folha de lirio!
Ella os olhos cerrou, como quem vai dormir.

Miserrima creança! Estava ali bem perto
A morte, a se abeirar de seu leito sagrado,
Para arrastar-lhe o corpo ao tumulo deserto,
Onde não brilha o Sol e nem o Riso amado.

E, quando despertou daquelle doce encanto,
Conheceu que morria e, cheia de pavor,
Supplicou a Jesus, por seu martyrio santo,
Que a deixasse na terra ao pé de seu amor.

«Mas, sei que parto sempre» accrescentou chorando.
«Mostrou-se-me da crença o doloroso véo...
Minha mãe vem commigo, a noite vai chegando
E eu talvez possa errar o caminho do Céo!»

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E nesta mesma noite, escura, tenebrosa,
Deixou a doce Helena a terra, pobre goivo!
Mas tinha para ungir-lhe a campa lutuosa
Uma prece de mãe e as lagrimas do noivo.

Angicos — 1896.