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Horto (1910)/Ao luar

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AO LUAR


A Maria Fausta e a Mercês Coelho



Astros celestes, docemente louros,
Giram no Espaço, em luminoso bando;
Ouve-se ao longe um violão plangente
E, mais além, n’um soluçar dolente,
Canções serenas, ao luar voando.

Quanta tristeza pela noite clara!
Quanta saudade pelo Azul boiando!
Cuida-se ouvir n’um dolorido chôro
As preces tristes de um magoado côro
De almas penadas ao luar rezando.

O Céo parece uma egrejinha antiga
Que a Lua branca vai allumiando...
E essas estrellas, muito alem dispersas,
São rosas brancas no Infinito immersas,
Monjas bemditas, ao luar chorando.

Os pyrilampos, pelas moitas tristes,
Voam, calados e subtis, brilhando...
Lembram descrenças, a bailar sombrias,
Illusões mortas de esquecidos dias,
Almas de loucos, ao luar passando.

Flocos de nuvens pela Esphera adejam,
Barcos de neve pelo Azul formando...
Semelham preces que se vão da terra,
Almas mimosas, que este mundo encerra
De creancinhas, ao luar sonhando.

Elles parecem tambem velas brancas
Soltas, a tôa, pelo Mar vogando...
Leves e tenues, a correr immensas,
Folhas de lirios pelo Ar suspensas,
Aves saudosas, ao luar chorando.

Ai! quem me dera ser tambem creança!
Ai! quem me dera andar tambem voando!
Fazer dos astros um barquinho amado,
N’ elle vagar por todo o Céo dourado,
As minhas dores ao luar cantando!

Angicos — Junho de 1896.