Horto (1910)/Cantando
A meu irmão Henrique
Tão mimosa estrella
No Céo hontem vi,
Que minh’alma, ao vel-a,
Pensou logo em ti.
Pensou em ti, santo!
Vendo-a assim brilhar...
Parecia o encanto
De teu doce olhar.
De teu olhar puro,
Meu celeste amor!
Onde o meu futuro
Vai boiando em flor.
Vai boiando, a tôa,
Sem querer parar,
Qual penna que vôa,
Suspensa no Ar.
Suspensa voando
Como um Cherubim
Que passa cantando
Pelo Azul sem fim.
Pelo Azul se esconda
Quem deseja amar,
Qual nuvem, qual onda,
No Céo ou no Mar.
No Céo, si anoitece,
Ninguem vê o Sol...
Mas que importa? A Prece
E’ um rouxinol.
Rouxinol que chora,
Mas sempre a cantar.
Quando nasce a aurora
Tambem canta o Luar.
Tambem canta amores
Um’alma sem luz...
Nunca viste flores
Aos pés de uma Cruz?
Aos pés de Maria,
Gomo é bom rezar!
Que casta ambrosia
Se espalha no altar,
Se espalha no labio!
Sem gosto de fel,
O doce resabio
De um favo de mel.
De um favo tão doce
Como o teu olhar,
Pois nelle encarnou-se
Mimosa, a brilhar...
Mimosa e tão clara,
A estrella que eu vi!
A luz que me aclara,
Quando penso em ti.
Macahyba — 1896.