Horto (1910)/Consolo supremo
A quem sofre
« Bem-aventurados os que choram
porque eles serão consolados »
Jesus
Os tristes dizem que a vida
É feita de dissabores
E a alma verga abatida
Ao peso das grandes dores.
Não acredito que seja
Assim como dizem, não...
Ai daquele que deseja
Viver sem uma ilusão!
Se há noites frias, escuras,
Também há noites formosas;
Há risos nas amarguras;
Entre espinhos nascem rosas.
E rosas também cobriram
O lenho santo da Cruz,
Quando os espinhos cingiram
A cabeça de Jesus.
Rosas do sangue adorado
- Fonte de graça e de fé -
Brotando do rosto amado
Do Filho de Nazaré.
Ó alma triste, chorosa
Como uma dália no inverno,
Despe da mágoa trevosa
O negro cilício eterno!
Enquanto vires estrelas
Do Céu no imenso sacrário,
Na terra flores singelas
E uma Cruz sobre o Calvário;
Enquanto, mansa, pousar
A prece nos lábios teus,
E souberes murmurar
Com as mãos unidas: meu Deus!
Não digas que à luz vieste
Para chorar e sofrer,
E como a plantinha agreste
Sonhar um dia e... morrer...
Não digas, pobre querida!
Mesmo se a dor te magoa;
É sempre feliz na vida
A alma que é purae boa.