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Horto (1910)/Cores

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CÔRES


A Cecilia Burle.



Emquanto a gente é creança
Tem no seio um doce ninho
Onde vive um passarinho
Formoso como a Esperança.

E elle canta noite e dia
Porque se chama: Alegria.

Depois... vae-se a Primavera...
E’ o tempo em que a gente cresce...
O riso se muda em prece,
A alma não canta: espera!

E ao ninho do Coração
Desce outra ave: a Illusão.

Mas esta, como a Alegria,
Nos foge... E fica deserto
O coração, na agonia
Do inverno que já vem perto.

Nas ruinas da Mocidade
E’ quando pousa a Saudade...

Nova Cruz — Setembro de 1897.