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Horto (1910)/Crepusculo

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CREPUSCULO


Ha pelo Espaço um ciciar dolente
De prece, em torno da Igrejinha em ruina...

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CREPUSCULO


A Julia Lyra.



O Angelus sôa. Vagarosamente
A noite desce, placida e divina.
Ouço gemer meu coração doente
Chorando a tarde, a noiva peregrina.

Ha pelo Espaço um ciciar dolente
De prece em torno da Igrejinha em ruina...
Passaros voam compassadamente
Treme no galho a rosa purpurina...

E eu sinto que a tristeza vem suspensa
Sobre as azas da noite erma e sombria...
E que, n’ess’hora de saudade immensa,

Rindo e chorando desce ao coração:
Toda a doçura da melancolia,
Todo o conforto da recordação.

Utinga — Novembro de 1898.