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Horto (1910)/Gentil

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GENTIL


A essa creancinha de olhos castanhos e sorriso claro, que eu vejo sempre á tarde, descalcinha e loura, sacudindo beijos...



Como é gracioso e lindo o pequenino loiro
Que ás vezes, á tardinha, eu vejo docemente
Passar junto de mim como um sorriso de oiro,
Anjo que vem do Céo na luz do Sol poente.

Como é gracioso e lindo! Eu cuido ver um sonho,
— Um sonho côr da aurora e belo como o Mar —
Quando os olhos sem luz entristecidos ponho
Na pupila gentil d’aquelle meigo olhar.

O seu cabello guarda a côr serena e doce
Da pallida estrelinha ao despontar do dia.
Talvez que um anjo diga, ao vel-o: «desmanchou-se
O louro resplendor do filho de Maria!»

E se elle entreabre, a rir, a bocca ingenua e pura,
Casta como da rosa o seio immaculado:
«Abrem-se, par em par, — meu coração murmura —
As portas de coral de um palacio encantado!»

Ah! como fico alegre e como canto ao vel-o!
Foge-me até do seio a sombra do Desgosto.
Inclino-me de leve e beijo-lhe o cabello
Emquanto o Sol se ajoelha e vem beijar-lhe o rosto...

O’ lirio perfumado! O’ manso cordeirinho
Que guardas a Chimera em teu sorriso em flor...
Vive feliz, ó santo, e que jamais o espinho
Da magua te atormente, ó pequenino amor!

Que o meu Verso te leve, açucena bemdita,
Nas azas de cristal, as brancas esperanças...
E o affecto sagrado e a ternura infinita
Que minh’alma consagra a todas as creanças!

Macahyba — Março de 1899.