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Horto (1910)/Passando

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PASSANDO


Ao Dr. Celestino Wanderley em agradecimento á sua «Morte de Cecy».



Quando me veem passar risonha e calma,
Sem um pezar que me annuvie a fronte,
Perdido o olhar na curva do horisonte,
Cuidam que eu tenho o paraiso n’alma.

Mesmo encontrei quem me dissesse um dia:
«Invejo-te a existencia descuidosa.»
Como si espinhos não tivesse a rosa,
Ou fosse a vida isenta de agonia!

Porem, emquanto desdenhosa, altiva,
Eu vou passando, alegre ou pensativa...
A rir, a rir, como um feliz demente,

Meu pobre coração dentro do peito,
— Triste doente a agonizar no leito —
Vai soluçando dolorosamente...

Araçá — 1895.