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Horto (1910)/Pelo passado

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PELO PASSADO


Era um dia de Maio... Encheu-se o Templo
      De grande multidão;
Só rezavam aquellas que queriam
      A paz do coração.

Eu era desse numero: ajoelhei-me,
      Fiz o signal da Cruz...
Estava muito triste e desejava
      Conversar com Jesus.

Ao pé de seu santo Tabernaculo
      Começei a chorar...
Lembrava-me da infancia que fugira
      Para nunca voltar.

E repassei na mente atribulada,
      Assim nessa attitude,
Os sonhos liriaes e perfumosos
      De minha juventude.

Porem se o triste labio murmurava
      Sentidas orações,
Eu ouvia o soluço angustiado
      De minhas illusões.

De minhas illusões que se partiam,
      Dolentes e chorosas,
Como os anjos voando d’este mundo
      A’s plagas luminosas.

E emquanto assim aos pés do Redemptor
      Choviam meus lamentos...
Já no Templo de todo se extinguia
      A luz dos cirios bentos.

1893