Saltar para o conteúdo

I-Juca-Pirama/Canto II

Wikisource, a biblioteca livre

II.

Em fundos vasos d’alvacenta argilla
Ferve o cauim;
Enchem-se as copas, o prazer começa,
Reina o festim.

O prisioneiro cuja morte anceião,
Sentado está,
O prisioneiro, que outro sol no occaso
Jámais verá!

A dura corda, que lhe enlaça o collo,
Mostra-lhe o fim
Da vida escura, que será mais breve
Do que o festim!

Com tudo os olhos d’ignobil pranto
Seccos estão;
Mudos os labios não descerrão queixas
Do coração.

Mas um martyrio, que encobrir não pode,
Em rugas faz
A mentirosa placidez do rosto
Na fronte audaz!

Que tens, guerreiro? Que temor te assalta
No passo horrendo?
Honra das tabas que nascer te virão,
Folga morrendo.

Folga morrendo; porque além dos Andes
Revive o forte,
Que soube ufano contrastar os medos
Da fria morte.

Rasteira grama, exposta ao sol e chuva,
La murcha e pende:
Sómente ao tronco, que devassa os ares,
O raio offende!

Que foi? Tupan mandou que elle cahisse,
Como viveu;
E o caçador que o avistou prostrado
Esmoreceu!

Que temes, ó guerreiro? Além dos Andes
Revive o forte,
Que soube ufano contrastar os medos
Da fria morte.