I-Juca-Pirama/Canto III
III.
Em larga roda de noveis guerreiros
Ledo caminha o festival Tymbira,
A quem do sacrificio cabe as honras.
Na fronte o kanitar sacode em ondas,
O enduape na cinta se embalança,
Na dextra mão sobpesa a iverapeme,
Orgulhoso e pujante. — Ao menor passo
Collar d’alvo marfim, insignia d’honra,
Que lhe orna o collo e o peito, ruge e freme,
Como que por feitiço não sabido
Encantadas alli as almas grandes
Dos vencidos Tapuyas, inda chorem
Serem gloria e brasão d’imigos feros.
«Eis-me aqui, diz ao indio prisioneiro;
«Pois que fraco, e sem tribu, e sem familia,
«As nossas matas devassaste ousado,
«Morrerás morte vil da mão de um forte.»
Vem a terreiro o misero contrario;
Do collo á cinta a musurana desce:
«Dize-nos quem és, teus feitos canta,
«Ou se mais to apraz, defende-te». Começa
O indio, que ao redor derrama os olhos,
Com triste voz que os animos commove.