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I-Juca-Pirama/Canto VII

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VII.

«Por amor de um triste velho,
Que ao termo fatal já chega,
Vós, guerreiros, concedestes.

A vida a um prisioneiro.
Acção tão nobre vos honra,
Nem tão alta cortesia
Vi eu jámais praticada
Entre os Tupis, — e mas forão
Senhores em gentileza.

«Eu porém nunca vencido,
Nem nos combates por armas,
Nem por nobreza nos actos;
Aqui venho, e o filho trago.
Vós o dizeis prisioneiro,
Seja assim como o dizeis;
Mandai vir a lenha, o fogo,
A maça do sacrificio
E a musurana ligeira:
Em tudo o rito se cumpra!
E quando eu for só na terra,
Certo acharei entre os vossos,
Que tão gentis se revelão,
Alguem que meus passos guie;
Alguem, que vendo o meu peito
Coberto de cicatrizes,
Tomando a vez de meu filho,
De haver-me por pae se ufane!»

Mas o chefe dos Tymbiras,
Os sobrolhos encrespando,
Ao velho Tupi guerreiro
Responde com torvo accento:

— Nada farei do que dizes:
É teu filho imbelle e fraco!
Aviltaria o triumpho
Da mais guerreira das tribus
Derramar seu ignobil sangue:
Elle chorou de cobarde;
Nós outros, fortes Tymbiras,
Só de heróes fazemos pasto. —

Do velho Tupi guerreiro
A surda voz na garganta
Faz ouvir uns sons confusos,
Como os rugidos de um tigre,
Que pouco a pouco se assanha!