João Ferreira de Almeida 1819 (ortografia atualizada)/João/XI

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  1. E ESTAVA enfermo um certo homem, chamado Lázaro, de Betânia, da aldeia de Maria, e de Marta sua irmã.
  2. (E era Maria a que ungiu ao Senhor com o unguento, e com seus cabelos lhe alimpou os pés; cujo irmão Lázaro era o que estava enfermo).
  3. Enviaram pois suas irmãs a ele, dizendo: Senhor, vês aqui aquele que amas, está enfermo.
  4. E ouvindo-o Jesus, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus; para que o Filho de Deus seja por ela glorificado.
  5. E amava Jesus a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro.
  6. Ouvindo pois que estava enfermo, ficou-se então ainda dois dias no lugar onde estava.
  7. Depois disto tornou a dizer aos Discípulos: Vamos outra vez a Judeia.
  8. Dizem-lhe os Discípulos: Rabi, ainda agora pouco há te procuravam os Judeus apedrejar; e tornas-te para lá?
  9. Respondeu Jesus: Não há doze horas no dia? Se alguém anda de dia, não tropeça, porquanto vê a luz deste mundo.
  10. Mas se alguém anda de noite, tropeça; porquanto nele não há luz.
  11. Isto falou; e disse-lhes depois: Lázaro nosso amigo dorme; mas vou a o despertar do sonho.
  12. Disseram pois seus Discípulos: Senhor, se dorme, será salvo.
  13. Mas isto dizia Jesus de sua morte; porém eles cuidavam, que falava do repouso do dormir.
  14. Então pois lhes disse Jesus claramente: Lázaro é morto.
  15. E folgo, por amor de vós outros, que eu lá não estivesse, para que creiais; porém vamos ter com ele.
  16. Disse pois Tomé, chamado o Dídimo, aos condiscípulos: Vamos nós outros também, para que com ele morramos.
  17. Vindo pois Jesus, achou que já havia quatro dias que estava na sepultura.
  18. (E Betânia estava como quase quinze estádios perto de Jerusalém).
  19. E muitos dos Judeus tinham vindo a Marta, e a Maria, a consolá-las acerca de seu irmão.
  20. Ouvindo pois Marta que Jesus vinha, saiu-lhe ao encontro; mas Maria ficou assentada em casa.
  21. Disse pois Marta a Jesus: Senhor, se tu estiveras aqui, não morrera meu irmão.
  22. Porém também sei agora, que tudo quanto pedires a Deus, Deus to dará.
  23. Disse-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar.
  24. Marta lhe disse: Eu sei que há de ressuscitar, na ressurreição, no último dia.
  25. Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição, e a vida; quem crê em mim, há de viver, ainda que esteja morto.
  26. E todo aquele que vive, e crê em mim, para sempre não há de morrer. Crês isto?
  27. Disse-lhe ela: Sim, Senhor; já cri que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.
  28. E dito isto, foi-se, e chamou em segredo a Maria sua irmã, dizendo: Aqui está o Mestre, e te chama.
  29. Ouvindo ela isto, logo se levantou, e foi ter com ele.
  30. (Que ainda Jesus não era chegado à aldeia; mas estava no lugar aonde Marta lhe saíra ao encontro).
  31. Vendo pois os Judeus, que com ela estavam em casa e a consolavam, que Maria apressadamente se levantara, e saíra, seguiram-na, dizendo: À sepultura vai, a chorar lá.
  32. Vindo pois Maria aonde Jesus estava, e vendo-o, derribou-se a seus pés, dizendo-lhe: Senhor, se tu estiveras aqui, não morrera meu irmão.
  33. Vendo-a pois Jesus chorar, e aos Judeus, que com ela também vinham chorando; moveu-se muito em espírito, e turbou-se em si mesmo.
  34. E disse: Onde o pusestes? disseram-lhe: Senhor, vem, e vê-o.
  35. E chorou Jesus.
  36. Disseram pois os Judeus: Vede como o amava!
  37. E alguns deles disseram: não podia este, que abriu os olhos ao cego, fazer que também este não morresse?
  38. Movendo-se pois Jesus outra vez muito em si mesmo, veio à sepultura; e era esta uma caverna, e estava uma pedra posta sobre ela.
  39. Disse Jesus: Tirai a pedra. Marta, a irmã do defunto, lhe disse: Senhor, já fede, que já é de quatro dias.
  40. Jesus lhe disse: Não te tenho dito, que se creres, verás a glória de Deus.
  41. Tiraram pois a pedra de onde o defunto jazia. E levantou Jesus os olhos para riba, e disse: Pai, graças te dou, que já ouvido me tens.
  42. Porém bem sabia eu que sempre me ouves; mas por amor da companhia, que está ao redor, o disse; para que creiam que tu me enviaste.
  43. E havendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro, sai fora.
  44. E saiu o defunto liadas[1] as mãos e os pés com faixas, e seu rosto envolto em um sudário. Disse-lhes Jesus: Desliai[1]-o, e deixai-o ir.
  45. Pelo que, muitos dos Judeus, que a Maria tinham vindo, e haviam visto o que Jesus fizera, creram nele.
  46. Mas alguns deles foram aos Fariseus, e disseram-lhes o que Jesus tinha feito.
  47. Os pontífices pois, e os Fariseus, ajuntaram o Concílio, e diziam: Que faremos? que este homem faz muitos sinais.
  48. Se assim o deixamos, todos crerão nele, e virão os Romanos, e tornar-nos-ão assim o lugar como a nação.
  49. E Caifás, um deles, que era Sumo Pontífice daquele ano, lhes disse: Vós outros nada sabeis;
  50. Nem considerais que nos convém, que um homem morra pelo povo, e toda a nação não pereça.
  51. E isto não disse ele de si mesmo; senão, que como era o Sumo Pontífice daquele ano, profetizou, que Jesus pelo povo havia de morrer.
  52. E não somente por aquele povo, mas também para que ajuntasse em um aos filhos de Deus, que espargidos andavam.
  53. Assim que desde aquele dia consultavam juntos de o matarem.
  54. De maneira que já Jesus não andava mais manifestamente entre os Judeus, mas foi-se dali à terra, junto ao deserto, a uma cidade chamada Efraim; e ali andava com seus Discípulos.
  55. E estava perto a Páscoa dos Judeus, e muitos daquela terra subiram a Jerusalém antes da Páscoa, para se purificarem.
  56. Buscavam pois a Jesus, e diziam uns aos outros estando no Templo: Que vos parece? que não virá à Festa?
  57. E os Pontífices e os Fariseus tinham dado mandamento, que se alguém soubesse onde estava, o notificasse, para que o pudessem prender.

Notas[editar]

  1. 1,0 1,1 liar — Definição: ligar, atar