João Ferreira de Almeida 1819 (ortografia atualizada)/Marcos/VII
Aspeto
- E AJUNTARAM-se a ele os Fariseus, e alguns dos Escribas, que tinham vindo de Jerusalém.
- E vendo que alguns de seus discípulos comiam pão com mãos impuras, convém a saber, por lavar, repreendiam-nos.
- Porque os Fariseus, e todos os Judeus, retendo a tradição dos antigos, se muitas vezes não lavam as mãos, não comem.
- E tornando da praça, se não se lavarem, não comem; e outras muitas coisas há, que tomaram para guardar, como o lavar dos copos, e dos pichéis[1], e dos vasos de metal, e das camas.
- Depois lhe perguntaram os Fariseus e os Escribas: Por que teus discípulos não andam conforme à tradição dos antigos? mas comem pão com as mãos por lavar?
- Porém respondendo ele, disse-lhes: Bem profetizou Isaías de vós outros, hipócritas; como está escrito: Este povo me honra com os beiços, mas seu coração está longe de mim.
- Porém em vão me honram, ensinando por doutrinas, mandamentos de homens.
- Porque deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens, como o lavar dos pichéis[1], e dos copos; e fazeis outras muitas coisas semelhantes a estas.
- E dizia-lhes: Bem invalidais o mandamento de Deus, para guardardes vossa tradição.
- Porque Moisés disse: Honra a teu pai, e a tua mãe. E quem maldisser ao pai, ou à mãe, morrerá de morte.
- Porém vós outros dizeis: Se o homem disser ao pai ou à mãe: Corbã (isto é, oferta) tudo o que de mim aproveitar te puder, desobrigado fica.
- E não lhe deixais mais nada fazer por seu pai, ou por sua mãe.
- Invalidando assim a palavra de Deus por vossa tradição, que vós ordenastes; e muitas coisas fazeis semelhantes a estas.
- E chamando a si toda a companhia, disse-lhes: Ouvi-me todos, e entendei;
- Não há fora do homem nada que nele entre, que o possa contaminar; mas o que dele sai, isso é o que ao homem contamina.
- Se alguem tem ouvidos para ouvir, ouça.
- E entrando da companhia em casa, perguntaram-lhe seus discípulos acerca da parábola.
- E ele lhes disse: Assim também vós outros estais sem entendimento? não entendeis, que tudo o que de fora entra no homem, não o pode contaminar?
- Porque não entra em seu coração, senão no ventre, e sai à privada, purgando todas as comidas.
- E dizia: O que do homem sai, isso contamina ao homem.
- Porque de dentro do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as fornicações, os homicídios,
- Os furtos, as avarezas, as maldades, o engano, a dissolução, o mau olho, a blasfêmia, a soberba, a louquice.
- Todos estes males de dentro procedem, e contaminam ao homem.
- E levantando-se dali, foi-se aos termos de Tíro e de Sídon; e entrando em uma casa, não quis que ninguém o soubesse, e todavia não se pôde esconder.
- Porque uma mulher, cuja filhinha tinha um espírito imundo, ouvindo dele, veio, e lançou-se a seus pés.
- E era esta mulher Grega, siro-fenícia de nação; e rogava-lhe, que de sua filha lançasse fora ao Demônio.
- Mas Jesus lhe disse: Deixa primeiro fartar aos filhos; porque não é bom tomar o pão dos filhos, e lançá-lo aos cachorrinhos.
- Porém ela respondeu, e disse-lhe: Sim Senhor; mas também os cachorrinhos comem debaixo da mesa, das migalhas dos filhos.
- Então lhe disse ele: Por esta palavra, vai, já o Demônio saiu de tua filha.
- E vindo ela a sua casa, achou que já o Demônio era saído, e a filha deitada sobre a cama.
- E tornando ele a sair dos termos de Tiro e de Sídon, veio ao mar da Galileia, por meio dos termos de Decápolis.
- E trouxeram-lhe um surdo, que dificilmente falava, e rogaram-lhe que pusesse a mão sobre ele.
- E tomando-o da companhia à parte, meteu-lhe seus dedos nos ouvidos, e cuspindo, tocou-lhe a língua.
- E levantando os olhos ao céu, suspirou, e disse: Efatá, isto é, abre-te.
- E logo seus ouvidos se abriram, e a atadura da língua se lhe soltou, e falava bem.
- E mandou-lhes que a ninguém o dissessem; mas quanto mais lho mandava, tanto mais o divulgavam.
- E sobremaneira muito se espantavam, dizendo: Tudo fez bem; e aos surdos faz ouvir, e aos mudos falar.