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João Ferreira de Almeida 1819 (ortografia atualizada)/Marcos/VI

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  1. E PARTIU-SE dali, e veio à sua Pátria, e o seguiram seus Discípulos.
  2. E chegado o Sábado, começou a ensinar na Sinagoga; e muitos, ouvindo-o, se espantavam, dizendo: Donde lhe vem a este estas coisas? e que sabedoria é esta que lhe é dada? e tais maravilhas que por suas mãos se fazem?
  3. Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Jacobo, e de José, e de Judas, e de Simão? e não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele.
  4. E Jesus lhes dizia: Não há Profeta sem honra, senão em sua pátria, e entre seus parentes, e em sua casa.
  5. E não podia ali fazer nenhuma maravilha: somente, pondo as mãos sobre uns poucos de enfermos, os curou.
  6. E estava maravilhado de sua incredulidade. E rodeava as aldeias do redor, ensinando.
  7. E chamou a si aos doze, e começou a enviar de dois em dois: e deu-lhes poder sobre os espíritos imundos.
  8. E mandou-lhes, que não tomassem nada para o caminho, senão somente um bordão[1]; nem alforje[2], nem pão, nem dinheiro na cinta.
  9. Mas que calçassem alparcas; e não se vestissem de duas túnicas.
  10. E dizia-lhes: Aonde quer que entrardes em casa alguma, ficai ali até que dali saiais.
  11. E todos aqueles que vos não receberem, nem vos ouvirem, saindo dali, sacudi o pó que estiver debaixo de vossos pés, em testemunho contra eles. Em verdade vos digo, que mais tolerável será aos de Sodoma ou Gomorra no dia do juízo, do que àquela cidade.
  12. E saindo eles, pregavam que se arrependessem.
  13. E lançavam fora a muitos Demônios, e ungiam com azeite a muitos enfermos, e os curavam.
  14. E ouviu-o o Rei Herodes (porque já seu nome era notório) e disse: João, o que batizava, ressuscitado é dos mortos; e portanto estas maravilhas obram nele.
  15. Outros diziam: Elias é; e outros diziam: Profeta é, ou como algum dos Profetas.
  16. Porém ouvindo Herodes isto, disse: Este é João, ao qual eu degolei; ressuscitado é dos mortos.
  17. Porque o mesmo Herodes enviara, e prendera a João, e o tinha ligado na prisão, por causa de Herodias, mulher de Filipe seu irmão, porquanto se casara com ela.
  18. Porque João dizia a Herodes: Não te é lícito ter a mulher de teu irmão.
  19. E Herodias o espiava, e o queria matar, e não podia.
  20. Porque Herodes temia a João, sabendo que era varão justo e santo, e estimava-o; e ouvindo-o, fazia muitas coisas, e ouvia-o de boa mente.
  21. E vindo um dia oportuno, em que Herodes, no dia de seu nascimento, dava uma ceia a seus Grandes, e Tribunos, e aos Principais de Galileia;
  22. E entrando a filha da mesma Herodias, e dançando, e agradando a Herodes, e aos que juntamente à mesa estavam; disse o Rei à menina: Pede-me quanto quiseres, e eu to darei.
  23. E jurou-lhe: Tudo o que me pedirdes te darei, até a metade de meu Reino.
  24. E saindo ela, disse a sua mãe: Que pedirei? E ela disse: A cabeça de João Batista.
  25. E entrando ela logo apressadamente ao Rei, pediu, dizendo: Quero que agora logo me dês em um prato a cabeça de João Batista.
  26. E entristeceu-se o Rei muito; todavia por causa dos juramentos, e dos que juntamente à mesa estavam, não lha quis negar.
  27. E logo o Rei, enviando o executor, mandou trazer ali sua cabeça. E indo ele degolou-o na prisão;
  28. E trouxe sua cabeça em um prato, e deu-o à menina; e a menina a deu a sua mãe.
  29. E ouvindo-o seus Discípulos, vieram e tomaram seu corpo morto, e o puseram em um sepulcro.
  30. E os Apóstolos se tornaram a ajuntar a Jesus, e denunciaram-lhe tudo, assim o que tinham feito, como o que tinham ensinado.
  31. E ele lhes disse: Vinde vós outros aqui à parte a um lugar deserto, e repousai um pouco; porque havia muitos que iam e vinham, e não tinham lugar de comer.
  32. E foram-se em um barco, a um lugar deserto à parte.
  33. E as companhias os viram ir, e muitos o conheceram; e concorreram lá a pé de todas as cidades, e vieram antes que eles, e chegavam-se a ele.
  34. E saindo Jesus, viu uma grande companhia, e moveu-se a íntima misericórdia deles; porque eram como ovelhas que não têm pastor, e começou-lhes a ensinar muitas coisas.
  35. E como já o dia fosse mui entrado, vieram seus discípulos a ele, e disseram: O lugar é deserto, e o dia é já mui entrado;
  36. Despede-os, para que vão aos lugares e aldeias ao redor, e comprem para si pão; porque não têm que comer.
  37. Porém respondendo ele, disse-lhes: Dai-lhes vós outros de comer. E eles lhe disseram: Iremos pois, e compraremos duzentos dinheiros de pão, e lhes daremos de comer?
  38. E ele lhes disse: Quantos pães tendes? ide, e vede-o. E eles sabendo-o, disseram: Cinco, e dois peixes.
  39. E mandou-lhes, que fizessem assentar a todos por ranchos[3] sobre a erva verde.
  40. E assentaram-se repartidos de cento em cento, e de cinquenta em cinquenta.
  41. E tomando ele os cinco pães e os dois peixes, levantou os olhos ao céu, benzeu, e partiu os pães, e deu-os a seus discípulos, para que lhos pusessem diante: E os dois peixes repartiu a todos.
  42. E comeram todos, e fartaram-se.
  43. E levantaram dos pedaços doze cestos cheios, e dos peixes também.
  44. E eram os que comeram os pães, quase cinco mil homens.
  45. E logo constrangeu a seus discípulos a subir no barco, e ir diante à outra banda, em fronte de Betsaida, entretanto que ele despedia a companhia.
  46. E havendo-os despedido, foi-se ao monte a orar.
  47. E vinda a tarde, estava o barco no meio do mar, e ele só em terra.
  48. E viu que se fadigavam muito remando, (porque o vento lhes era contrário); e perto da quarta vela da noite, veio a eles andando sobre o mar, e queria passar por eles de largo.
  49. E vendo-o eles andar sobre o mar, cuidaram que era fantasma, e deram grandes gritos.
  50. Porque todos o viam, e turbaram-se; e logo falou com eles, e disse-lhes: Tende bom ânimo, eu sou, não temais.
  51. E subiu a eles no barco, e o vento quietou; e grandemente se espantavam entre si, e se maravilhavam.
  52. Porque ainda não tinham entendido o milagre dos pães; porque seu coração estava endurecido.
  53. E quando já foram da outra banda, vieram à terra de Genesaré, e tomaram ali porto.
  54. E saindo eles do barco, logo o conheceram.
  55. E correndo de toda a terra do redor, começaram a trazer os que mal se achavam, em camas, aonde quer que ouviam que estava.
  56. E aonde quer que entrava, em lugares, ou cidades, ou aldeias, punham nas praças aos enfermos, e rogavam-lhe que somente tocassem a borda de seu vestido; e todos os que o tocavam, saravam.

Notas

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  1. bordão - Definição: cajado, bastão para se locomover mais facilmente em lugares acidentados.
  2. alforje — Definição: uma espécie de bolsa
  3. ranchos — Definição: grupos de pessoas