João Ferreira de Almeida 1819 (ortografia atualizada)/Mateus/XIV

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  1. NAQUELE tempo ouviu Herodes, Tetrarca, a fama de Jesus.
  2. E disse a seus criados: Este é João Batista; ressuscitado é dos mortos, e por isso obram estas maravilhas nele.
  3. Porque Herodes prendera a João, e o havia liado[1], e posto na prisão, por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe.
  4. Porque João lhe dizia: Não te é lícito tê-la.
  5. E querendo-o matar, temia-se do povo, porque o tinham por Profeta.
  6. Porém celebrando-se o dia do nascimento de Herodes, dançou a filha de Herodias no meio, e agradou a Herodes.
  7. Pelo que com juramento lhe prometeu de dar tudo o que pedisse;
  8. E ela, instruída primeiro de sua mãe, disse: Dá-me aqui em um prato a cabeça de João Batista.
  9. E o Rei se entristeceu; mas pelo juramento, e pelos que com ele estavam à mesa, mandou que se lhe desse.
  10. E mandou, e degolou a João na prisão.
  11. E foi sua cabeça trazida em um prato, e dada à menina; e ela a levou a sua mãe.
  12. E vieram seus Discípulos, e tomaram o corpo, e o enterraram; e foram, e o denunciaram a Jesus.
  13. E ouvindo-o Jesus, retirou-se dali em um barco, a um lugar deserto à parte; e ouvindo-o as companhias, o seguiram a pé das cidades.
  14. E saindo Jesus, viu uma grande companhia, e moveu-se a íntima compaixão deles; e curou aos que deles havia enfermos.
  15. E vinda já a tarde, chegaram-se a ele seus Discípulos, dizendo: O lugar é deserto, e o tempo é já passado; despede as companhias, para que se vão pelas aldeias, e comprem para si de comer.
  16. Mas Jesus lhes disse: Não tem necessidade de se irem; dai-lhes vós outros de comer.
  17. Porém eles lhe disseram: Não temos aqui senão cinco pães, e dois peixes.
  18. E ele disse: Trazei-mos aqui.
  19. E mandando às companhias que se assentassem sobre a erva, e tomando os cinco pães e os dois peixes, e levantando os olhos ao céu, benzeu-os; e partindo os pães, deu-os aos Discípulos, e os Discípulos às companhias;
  20. E comeram todos, e fartaram-se. E levantaram do que sobejou dos pedaços, doze alcofas[2] cheias.
  21. E os que comeram foram quase cinco mil varões, afora as mulheres e os meninos.
  22. E logo Jesus fez entrar no barco a seus Discípulos, e que fossem diante dele para a outra banda, entretanto que despedia as companhias.
  23. E despedidas as companhias, subiu ao monte à parte a orar. E vinda já a tarde, estava ali só.
  24. E já o barco estava no meio do mar atormentado das ondas; porque o vento era contrário.
  25. Mas à quarta vela da noite desceu[3] Jesus a eles, andando sobre o mar.
  26. E vendo-o os Discípulos andar sobre o mar, turbaram-se, dizendo: fantasma é, e deram gritos de medo.
  27. Mas Jesus lhes falou logo, dizendo: Tende bom ânimo, eu sou, não hajais medo.
  28. E respondeu-lhe Pedro, e disse: Senhor, se és tu, manda-me vir a ti sobre as águas.
  29. E ele disse: Vem. E descendo Pedro do barco, andou sobre as águas, para vir a Jesus.
  30. Mas vendo o vento forte, temeu; e começando a afundar, clamou, dizendo: Senhor, salva-me.
  31. E estendendo Jesus logo a mão, pegou dele, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?
  32. E como subiram no barco, o vento se aquietou.
  33. Então vieram os que estavam no barco, e o adoraram, dizendo: Verdadeiramente és Filho de Deus.
  34. E passando da outra banda, vieram à terra de Genesaré.
  35. E como os varões daquele lugar o conheceram, mandaram por toda aquela terra ao redor, e trouxeram-lhe todos os que mal se achavam.
  36. E rogavam-lhe, que somente tocassem a borda de seu vestido; e todos os que a tocavam, ficavam sãos.

Notas[editar]

  1. liar — Definição: atar, prender com cordas ou correntes.
  2. alcofa — Definição: cesta com alças
  3. desceu — Na tradução de Almeida, descendeu