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João Ferreira de Almeida 1819 (ortografia atualizada)/Mateus/XIII

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  1. E SAINDO Jesus da casa aquele dia, assentou-se junto ao mar;
  2. E chegaram-se a ele tantas companhias, que entrando em um barco, se assentou nele; e toda a companhia estava na praia,
  3. E falou-lhes muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o Semeador saiu a semear.
  4. E semeando ele, caiu uma parte da semente junto ao caminho, e vieram as aves e a comeram.
  5. E outra parte caiu em pedregais, onde não tinha muita terra, e logo nasceu, porque não tinha terra funda.
  6. Mas saindo o sol, queimou-se; e porque não tinha raiz, secou-se.
  7. E outra parte caiu em espinhos, e os espinhos cresceram e a afogaram.
  8. E outra parte caiu em boa terra, e deu fruto, um cento, outro sessenta, e outro trinta.
  9. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
  10. E chegando-se a ele os Discípulos, disseram-lhe: Por que lhes falas por parábolas?
  11. E respondendo ele, disse-lhes: Porque a vós é dado saber os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não lhes é dado.
  12. Porque a quem tem, lhe será dado, e terá em abundância; mas a quem não tem, até aquilo que tem lhe será tirado.
  13. Por isso lhes falo por parábolas; porque vendo, não veem; e ouvindo, não ouvem, nem entendem.
  14. E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: De ouvido ouvireis e não entendereis, e vendo, vereis e não enxergareis.
  15. Porque o coração deste povo está engrossado, e pesadamente dos ouvidos ouviram; e seus olhos fecharam; para que porventura não vejam dos olhos, e ouçam dos ouvidos, e entendam do coração, e se arrependam, e eu os cure.
  16. Mas bem-aventurados vossos olhos, porque veem; e vossos ouvidos, porque ouvem.
  17. Porque em verdade vos digo, que muitos Profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram.
  18. Ouvi pois vós outros a parábola do semeador.
  19. Ouvindo alguém a palavra do Reino e não a entendendo, vem o maligno e arrebata o que em seu coração foi semeado; este é o que foi semeado junto ao caminho.
  20. Porém o que foi semeado em pedregais, este é o que ouve a palavra e logo a recebe com gozo.
  21. Mas não tem raiz em si mesmo, antes é temporal; e vinda a aflição, ou a perseguição pela palavra, logo se ofende.
  22. E o que foi semeado em espinhos, este é o que ouve a palavra, e o cuidado deste mundo, e o engano das riquezas afogam a palavra, e fica sem fruto.
  23. Mas o que foi semeado em boa terra, este é o que ouve e entende a palavra, e o que dá e produz fruto, um cento, e outro sessenta, e outro trinta.
  24. Outra parábola lhes propôs, dizendo: O Reino dos céus é semelhante a um homem que semeia boa semente em seu campo,
  25. E dormindo os homens, veio seu inimigo e semeou cizânia[1], e foi-se.
  26. E como a erva cresceu, e produziu fruto, então apareceu também a cizânia[1].
  27. E chegando-se os servos do Pai de famílias, disseram-lhe: Senhor, não semeaste tu boa semente em teu campo? donde lhe vem logo a cizânia[1]?
  28. E ele lhes disse: O homem inimigo fez isto. E os servos lhe disseram: Queres logo que vamos e a colhamos?
  29. Porém ele lhes disse: Não, porque colhendo a cizânia[1], não arranqueis porventura também com ela o trigo.
  30. Deixai-os crescer ambos juntos até a sega; e ao tempo da sega direi aos segadores: colhei primeiro a cizânia [1], e atai-a em molhos, para a queimar; mas ao trigo ajuntai no meu celeiro.
  31. Outra parábola lhes propôs, dizendo: O Reino dos céus é semelhante ao grão da mostarda, que tomando-o o homem, o semeou em seu campo.
  32. O qual, em verdade, é a menor de todas as sementes: mas crescendo, é a maior de todas as hortaliças; e faz-se tamanha árvore, que vêm as aves do céu e se aninham em suas ramas.
  33. Outra parábola lhes disse: Semelhante é o Reino dos céus ao fermento, que tomando-o a mulher, o esconde em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado.
  34. Tudo isto falou Jesus por parábolas às companhias, e sem parábolas lhes não falava.
  35. Para que se cumprisse o que foi dito pelo Profeta, que disse: Em parábolas abrirei minha boca; coisas escondidas produzirei desde a fundação do mundo.
  36. Então Jesus, despedidas as companhias, foi-se para casa. E chegaram-se seus discípulos a ele, dizendo: Declara-nos a parábola da cizânia[1] do campo.
  37. E respondendo ele, disse-lhes: O que semeia a boa semente é o Filho do homem.
  38. E o campo é o mundo; e a boa semente, estes são os filhos do Reino; e a cizânia[1] são os filhos do maligno;
  39. E o inimigo, que a semeou, é o Diabo; e a sega é o fim do mundo; e os segadores são os Anjos.
  40. De maneira que, como a cizânia[1] é colhida e queimada a fogo; assim será na consumação deste mundo.
  41. Mandará o Filho do homem a seus anjos, e colherão todos os escândalos de seu Reino, e aos que iniquidade fazem;
  42. E lançá-los-ão no forno de fogo; ali será o pranto e o ranger de dentes.
  43. Então resplandecerão os justos como o sol, no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
  44. Item: Semelhante é o Reino dos céus ao tesouro escondido em um campo, que achando-o o homem, o escondeu; e do gozo dele, vai, e vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.
  45. Item: Semelhante é o Reino dos céus ao homem tratante[2], que busca boas pérolas.
  46. Que achando uma pérola de grande valia, foi, e vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a.
  47. Item: Semelhante é o Reino dos céus à rede lançada no mar, e que colhe toda sorte de peixes,
  48. Que estando cheia, os pescadores a puxam à praia; e assentando-se, colhem o bom em seus vasos, porém o ruim lançam fora.
  49. Assim será na consumação dos séculos; sairão os Anjos, e separarão aos maus dentre os justos;
  50. E lançá-los-ão no forno de fogo; ali será o choro e o ranger de dentes.
  51. E disse-lhes Jesus: Entendestes todas estas coisas? disseram-lhe eles: Sim Senhor.
  52. E ele lhes disse: Portanto todo Escriba douto no Reino dos céus é semelhante a um Pai de famílias, que de seu tesouro tira coisas novas e velhas.
  53. E aconteceu que, acabando Jesus estas parábolas, se retirou dali.
  54. E vindo à sua pátria, ensinava-os em sua Sinagoga deles; de tal maneira que pasmavam, e diziam: Donde lhe vem a esta sabedoria, e estas maravilhas?
  55. Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria? e seus irmãos Jacobo, e José, e Simão, e Judas?
  56. E não estão todas suas irmãs conosco? donde lhe vem logo a este tudo isto?
  57. E escandalizavam-se nele. Mas Jesus lhes disse: Não há profeta sem honra, senão em sua pátria, e em sua casa.
  58. E não fez ali muitas maravilhas por causa de sua incredulidade deles.

Notas

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  1. 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 cizânia — Definição: joio; erva daninha semelhante ao trigo.
  2. tratante — Definição: negociante