João Ferreira de Almeida 1819 (ortografia atualizada)/Mateus/XXV

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  1. ENTÃO o reino dos céus será semelhante a dez virgens, que tomando suas lâmpadas, saíram ao encontro ao esposo.
  2. E cinco delas eram prudentes, e cinco parvas[1].
  3. As que eram parvas[1], tomando suas lâmpadas, não tomaram azeite consigo.
  4. Mas as prudentes tomaram azeite em seus vasos, com suas lâmpadas.
  5. E tardando o Esposo, tosquenejaram[2] todas, e adormeceram-se.
  6. E à meia-noite se fez um clamor, que dizia: Eis aqui vem o esposo, saí-lhe ao encontro.
  7. Então todas aquelas virgens se levantaram, e aparelharam suas lâmpadas.
  8. E as parvas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam.
  9. Mas as prudentes responderam, dizendo: em maneira nenhuma, para que porventura não nos falte a nós nem a vós; ide antes aos que o vendem, e comprai para vós outras.
  10. E idas elas a comprar, veio o Esposo; e as que estavam aparelhadas, entraram com ele às bodas, e fechou-se a porta.
  11. E depois vieram também as outras virgens, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos.
  12. E respondendo ele, disse: Em verdade vos digo, que não vos conheço.
  13. Vigiai pois, porque não sabeis o dia, nem a hora, em que o Filho do homem há de vir.
  14. Porque é como um homem, que partindo-se para fora da terra, chamou a seus servos, e entregou-lhes seus bens.
  15. E a um deu cinco talentos, e a outro dois, e ao terceiro um, a cada um conforme a sua faculdade, e partiu-se logo para longe.
  16. E partido ele, o que tinha recebido cinco talentos, negociou com eles, e granjeou[3] outros cinco talentos.
  17. Semelhantemente também, o que tinha recebido dois, granjeou[3] também outros dois.
  18. Mas o que tinha recebido um, foi, e enterrou-o no chão, e escondeu o dinheiro de seu Senhor.
  19. E depois de muito tempo veio o Senhor daqueles servos, e fez contas com eles.
  20. E chegando o que tinha recebido cinco talentos, trouxe-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, cinco talentos me entregaste, eis aqui outros cinco talentos tenho granjeado[3] com eles.
  21. E seu Senhor lhe disse: Bem está, bom servo e fiel; sobre pouco foste fiel, sobre muito te porei; entra no gozo de teu Senhor.
  22. E chegando-se também o que tinha recebido dois talentos, disse: Senhor, dois talentos me entregaste, eis aqui outros dois talentos tenho granjeado[3] com eles.
  23. Seu Senhor lhe disse: Bem está, bom servo e fiel; sobre pouco foste fiel, sobre muito te porei; entra no gozo de teu Senhor.
  24. Porém chegando também o que tinha recebido um talento, disse: Senhor, eu te conhecia, que és homem duro, que segas aonde não semeaste, e apanhas aonde não derramaste;
  25. E atemorizado, fui, e escondi teu talento na terra; vês aqui tens o teu.
  26. Porém respondendo seu Senhor, disse-lhe: Servo maligno e negligente, sabias que sego aonde não semeei, e apanho onde não derramei.
  27. Portanto te convinha dar meu dinheiro aos cambiadores, e vindo eu, receberia o meu com usura[4]
  28. Tirai-lhe pois o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos
  29. Porque a qualquer que tiver, ser-lhe-á dado, e terá em abundância; porém ao que não tiver, até o que tem lhe será tirado.
  30. E ao servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores; ali será o pranto, e o ranger de dentes.
  31. E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará sobre o trono de sua glória.
  32. E serão ajuntadas diante dele todas as gentes, e apartá-los-á a uns dos outros, como aparta o pastor as ovelhas dos cabrões[5].
  33. E porá as ovelhas à sua mão direita, porém os cabrões[5] à sua esquerda.
  34. Então dirá o rei aos que estiverem à sua mão direita: vinde benditos de meu Pai, possuí por herança o reino, que vos está aparelhado desde a fundação do mundo.
  35. Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; fui estrangeiro, e recolhestes-me;
  36. Nu, e vestistes-me; enfermo[6], e visitastes-me; estive na prisão, e viestes a mim.
  37. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos faminto, e te sustentamos; ou sedento, e te demos de beber?
  38. E quando te vimos estrangeiro, e te recolhemos; ou nu, e te vestimos?
  39. E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e viemos a ti?
  40. E respondendo o rei, dir-lhes-á: em verdade vos digo, que enquanto o fizestes a um destes de meus mínimos irmãos, a mim o fizestes.
  41. Então dirá também aos que estiverem à mão esquerda: apartai-vos de mim, malditos, ao fogo eterno, aparelhado para o Diabo e seus Anjos.
  42. Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber.
  43. Fui estrangeiro, e não me recolhestes; nu, e não me vestistes; enfermo, e na prisão, e não me visitastes.
  44. Então também eles lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos faminto, ou sedento, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?
  45. Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo, que enquanto a um destes mínimos o não fizestes, nem a mim o fizestes.
  46. E irão estes ao tormento eterno, porém os justos à vida eterna.

Notas[editar]

  1. 1,0 1,1 parvas — Definição: tolas, faltas de inteligência.
  2. tosquenejar — Definição: mover a cabeça por sentir sono.
  3. 3,0 3,1 3,2 3,3 granjear — Definição: obter, conseguir
  4. usura — Definição: juros
  5. 5,0 5,1 cabrão — Definição: bode
  6. enfermo — enfermei, na tradução de Almeida.