Lágrimas Abençoadas/I/IX

Lágrimas Abençoadas por Camilo Castelo Branco
Livro I, Capítulo IX

ver • editar Informações sobre esta edição
Título	Lágrimas Abençoadas
Autor	Camilo Castelo Branco
Gênero	Romance
Edição de referência	CASTELO BRANCO, Camilo. Lágrimas Abençoadas. 4. ed. Lisboa: Livraria editora e Oficinas Typographica e de Encadernação Movidas a electricidade, 1906.
Referência da disponibilização	Projeto Gutenberg A fonte apresentada é a fonte pela qual foi obtida a obra disponibilizada.
Nível de progresso
Permissão	Todas as obras escritas por autores portugueses falecidos até 31 de dezembro de 1945 se encontram em domínio público nos Estados Unidos, independentemente de quando foram publicadas, inclusive obras póstumas já publicadas e ainda não publicadas. Além disso, essas obras estão também em domínio público no Brasil, em Portugal e nos demais países onde os direitos autorais expiram após 70 anos da morte do autor. (detalhes) Public domainPublic domainfalsefalse

E, depois, a mão de Deus despenhou o cynico.

No tremedal, onde caíra, roeram-n'o os vermes dos cadaveres que elle fizera.

E riu-se.

Cobriram-n'o os improperios, e os sarcasmos de tantos, que elle enxovalhára, sacudindo-lhes ás faces a lama das ruas com as rodas do seu carro insultuoso.

E riu-se.

Teve que aceitar uma esmola, que, por escarneo lhe lançou ao chapéo um d'aquelles que lh'a pedira, em vão, anceado de fome.

E riu-se.

Bateu á porta de seus creados, que medravam nas prodigalidades do amo: pediu um bocado de pão, e responderam-lhe de dentro com uma gargalhada.

E riu-se.

Este é o cynico.

E quando lhe aconselharam o suicidio, riu-se, e riu até morrer porque a morte de cynico é uma risada na blasphemia.