Lágrimas Abençoadas/I/XIII
O coronel soffria muito; porque, a par do grupo querido de esposa e filhos, nunca de seus olhos se afastava o aspecto da penuria.
Á escuridade da indigencia não chega a luz do amor: deixar falar os poetas.
Ha sentimentos de miseria que os sentimentos da gloria não podem eclipsar. A felicidade tem exaltações intermittentes de jubilo. Mas a desgraça pensa sempre, fala sempre; vela á cabeceira do infeliz; desperta-o com o aguilhão de um sonho mau; desmente-lhe as illusões; ri-lhe a cada esperança; embrutece-o; retráe-lhe as expansões do espirito.
Onde a desgraça emmudece com a consciencia do penitente, que se levanta dos pés do ministro dos perdões, é na presença da cruz.
O coronel orava um dia com sua familia. Maria balbuciava as mesmas palavras do pae, e parecia, com os olhos fixos n'elle, tomar-lh'as dos labios como um beijo e um segredo de muita felicidade na muita desventura.
A sua oração era a dadiva do Christo: era aquella, que pendera dos labios divinos do Mestre como orvalho para todos os ardores, como balsamo para todas as chagas, como herança de amor para todas as gerações de ingratos.
Era esta a sua oração:
«Padre nosso, que estaes no céo, sanctificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino; seja feita a vossa vontade...»