Lágrimas Abençoadas/II/XXIV
Na «grande roda», falava-se muito da conversão de Alvaro. Infelizmente, porém, esta conversão tomaram-na irrisoriamente a maior parte d'aquelles que se occupavam d'ella, por não terem um caso semelhante de que se occuparem. Os da sua plana, particularmente, pareciam vexados da religiosidade do seu antigo camarada, que tão bellas esperanças dava de correr parelhas no cynismo philosophico do conde.
Na incerteza de semelhante boato, muitos vieram procurar Alvaro, e acharam-no prompto sempre a recebe'-los; se, todavia, os seus hospedes tentavam chama'-lo ao assumpto, que ali os trouxera, Alvaro contava-lhes uma historia assim resumida:
«Eu era discipulo do conde ***, assim como vós o sois. Casualmente o meu mestre de philosophia falsa encontrou-se com outro que me dizia ser o mestre da verdadeira philosophia. Disputaram por algumas horas: o primeiro, quando se viu esmagado no seu orgulho, fugiu, cantando um hymno em seu triumpho, mas um hymno injurioso ao modesto vencedor. Sabeis o que depois me fez alistar na escola do frade, e fugir á escola do conde? Foi, talvez, muito pouco: vi que o frade pediu a Deus a conversão do conde que o insultára, e insultára a Deus.»
Os que o ouviram diziam depois: «Aquelle pobre Alvaro endoudeceu!... Coitado!... Seria uma paixão infeliz? Seria desorganisação do cerebro?... Seria alguma grande perda no jogo?»