Livro da ensinança de bem cavalgar toda sella/Capitulo IIII-I
em que se declara per quantas partes todollos homeẽs sõ sẽ receo E como per nacẽça sõ alguũs sem receo.
Pois acabei descreuer os auysamẽtos q̃ boos, e razoados me parecerõ, pera caualgar forte, prosseguyodo manha ordenãça Screuo outros pera seermos ajudados acaualgar sem receo, assy como disse que compria deo seerẽ os boos caualgadores E pera esto he dessaber, q̃ per estas doze partes, todollos homeẽs, segundo mais e menos somos sẽ receo em todos UOSSOB feitos -s. per nacẽça, e presunçõ, per deseio, e mynguadessaber, per boas squeẽças, husãça e razõ, e per. outra mayor receo, e desposiçom, dauãtagẽ sanha, e graça special. Primeiramẽte som alguũs sem receo per nacẽça, por q̃ nacem sem medo, sẽ uergonha, e sẽ empacho razoadamẽte, e nos mais dos feitos, ou em alguũs specialmente Edizẽ por esto, oque natureza deu, nõ se pode bem tolher E ueemos huũs recearẽ os perigoos das pellejas, e sẽ receo sofrerẽ os do mar E outros nom se atreuer apelletar, nẽ hir sobre mar, e muyto sem medo estarẽ ẽ alguãs grandes pestellẽcias. E assy teẽ alguñs tam grande uergonha eu ẽpacho defazer alguãs cousas q̃ ante se porriam assofrer alguũ grande perigoo q̃ as fazerẽ em lugar de praça, por receo de prasme das gẽtes, ou ẽpacho que de ay filhã. Eostros nom aueriã alguũ ẽbargo deas fazer, e esto por dessairo q̃ cadahuũ recebeo naturalmẽte de sua naçõ. Essobresto he de conhecer que podemos oayr em erro per myngua denẽ seermos atreuydos tanto, e assy come deuemos ẽ as cousas q̃ fezermos , ou por tressayrmos, e auermos natural atreuymẽto, sem medo, sẽ uergonha, e sem ẽpacho, mais do q̃ he razõ. Epois podemos errar, sobeiando, ou mynguando, auirtude bẽ se mostra q̃ he no meo, como screuerẽ dauerdadeira fortelleza, q̃ tira os receos, e tẽpera os sobeios atreuymẽtos, dando mais ajuda anos muyto atrever, q̃ arrecear. E assy faltando em aquesta parte, de que todos recebemos naturalmẽte, eu entendo que som alguũs dessua naçõ em caualgar E assy em todallas cousas, tãbem e dereitamẽte sem receo q̃ fazem oçue se diz deboa natureza, q̃ tanto e taaes cousas deseia quanto e quaaes bẽ pode gouernar E elles pera todo q̃ deuẽ aauer atreuymẽto, otẽe assy como melhor teersse pode E as cousas q̃ sõ de recear, elles as temẽ, e seguardam dellas como he razõ. E daquesto me parece q̃ ueio exẽpro muyto claro, nos alãaos q̃ nẽ sõ razoanees Mais de sua felinaçõ natural, huũs seendo sobeiamẽte ardidos, se lãçã das casas abaixo e passã per fogo, e fazẽ outras sandices Eoutros myngoando sem tã sobeiamente judeus q̃ nehuã cousa duuydosa ousam filhar Essom alguũs assy tẽperadamẽte ardidos q̃ temẽ oque he detemer, e som tã sem medo onde cõpre, q̃ outros onõ podẽ seer mais Eassy como se faz em esta parte medo ueremos deuergonha e do ẽpacho E faço - deferẽça do ẽpacho, e da uergonha por q̃ arraaom perteẽce denos fazer sẽtir uergonha, das cousas que receamos seer mal feitas, ou do q̃ fazemos, ou fezermos, de q̃ nosso entendiẽto nos da juyze q̃ fazemos mal, ou duuydamos de seer por ello prasmados. E da questa guisa podemos sobeiar por muyto auermos esta uergonha, ou mynguar nõ assẽtyndo naquelles casos q̃ assentyr deuemos E auella podemos em boa e razoada maneira como suso scripto he do atreuymẽto, auendoa com boa tẽperança Eo ẽpacho perteese sellame[t]te ao sentido do coraçom q̃ nom reguarda razoadamẽte, se he bem ou mal aquella cousa de queoa. Mais dessy ofilha muytas uezes em cousa q̃ homẽ conhece q̃ he mal doo auer, e lhe prazeria muyto nom ossẽtir Equesto, segundo meu juyzo nũca faz, saluo em ajudar oboo receo dauergonha, ou assẽtir onde cõpre quẽ assẽta, pera nos guardar doutra tal, ou semelhãte q̃ procede doconhecymẽto da razom Mais el perssy nom ual nada E cada huũ quanto poder per siso, husãça, e cada huã das cousas q̃ tirom orreceo odeue dessy afastar, por q̃ nõ presta, saluo no caso ia sçripto. E muytos som enganados ouuyndo louuar orreceo dauergonha q̃ nem do boo conhecymẽto das cousas, e bondade per que receamos cayr ẽ tal erro, que dereitamente anossamos auer. E penssando esto seer ẽpacho, cuydã q̃ auello he uirtude, seendo tal myngua q̃ todos deuẽ quanto poderẽ tirar do coraçã e dauõotade Essobre aquesto nõ entendo dar mais auysamẽto nẽ enssyno, por q̃ som obras danatureza em q̃ nom podemos ẽmendar, senõ per conhecymẽto da razom. E pera as outras cousas que ia disse E quando dellas fallar screuerey oque entender. Mas esto screuy por declarar oque sobrello me parece perao q̃ screuer adiante seer necessario E cada huũ conhecer dessy medes a que de sua naçom he mais jnclinado E posto que se dica q̃ nõ podemos mudar as cousas danatureza, eu tenho q̃ per boo entender, e geeral boa uõotade os homeẽs ẽmendã muyto cõ agraça de deos em os seus naturases. fallecymẽtos, e acrecẽtam nas uirtudes Eporẽ cada huũ deue trabalhar porsse conhecer e no bem que na turalmẽte recebeo se manteer e acrecẽtar, e nos fallymẽtos ẽmendar, e correger.