Longe do Céu, perto do verde Mar

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Oh! essas manhãs altas e quietas!
No ar, florescem as grandes borboletas,
Floresce a luz, como em veludo
E teu olhar espiritualiza tudo
Como à flor matinal do firmamento
O alvo sorriso areento – ,
Perto de mim teu verde e fundo olhar
Longe do céu, perto de um verde Mar.

Ah! dobrar joelhos de ouro ao mundo!
Dar-lhe as almas das virgens religiosas
Coroadas de rosas!
E fazê-lo adorar-te!
Magnificamente amar-te
O verde olhar líquido e fundo,

Onde as minhas ruivas esperanças,
Soltas, enérgicas as tranças,
Embarcações soltas as velas
De um sol de fogo às rosas amarelas
- Antes Rainhas passeando em Alamedas,
Roupas em asas fúlgidas, de sedas –
Se vão nas águas do Infinito Mar!
E é tão modesto o teu risonho olhar!

Flor tão clara, em meu sonho, onde és incompreendid
a
Em tua carne branca, como a lua
Que em noites de verão num céu negro flutua
Oh! minha amada! Oh! minha vida!
Que loira nau vens a meu lado
Nesse ritmo sagrado!
E és a riqueza
Que empresto a toda a rica Natureza!
E és a pedreira viva, de onde arranco
Mármore antigo
Para as loucuras de meu sonho branco,
De que anda por aí tanto mendigo,
Para as que como as pérolas de um Mar
Pesquei, mas não são mais, no teu olhar!

Sou tua criatura! És minha criatura
Virginalmente esguia!
Magneticamente fria –
Em minha dor escura –
Onde ressoa uma Harpa da Vontade,
Iluminada e forte,
Como as doiradas convulsões da Morte!
E doce, como a tua suavidade,
Quando a minha alma vai beber-te o olhar
Em duas taças verdes, cor do verde Mar!

Em sua face, não terá que linhas
Úmida, a Primavera
- Que se a roçasse um Deus com as asas minhas! –
Quando romper, chover o dia
De nosso Amor em todo o Amor cantando
Na germinal alegria
Para além de nós mesmos nesta Esfera,
Quando a Nova Manhã lavar os lodos
Aos homens todos
E as almas todas se banharem rindo
No rio que vamos nós abrindo
E irá rolar no Mar –
Rio de meu olhar! Rio de teu olhar!

Abrem, florescem as grandes borboletas
Filhas, talvez, dessas manhãs quietas,
Em que nós vamos juntos
E, mortalha dos beijos no ar defuntos,
Floresce a luz, como em veludo
Ah! teu olhar espiritualiza tudo,
Perto à dança do Mar
A dança verde e longe em teu olhar.