Marília de Dirceu/II/XXX
O Pai das Musas,
O Pastor louro,
Deu-me, Marília,
Para cantar-te
A lira de ouro.
As cordas firo;
O brando vento
Teus dotes leva
Nas brancas asas
Ao firmamento.
O teu cabelo
Vale um tesouro;
Um só me adorna
A sábia fronte
Melhor que o louro.
Nesses teus olhos
Amor assiste;
Deles faz guerra;
Ninguém lhe foge,
Ninguém resiste.
Algumas vezes
Eu o diviso
Também oculto
Nas lindas covas
Que faz teu riso.
Nesses teus peitos
Têm os seus ninhos
Destros Amores;
Neles se geram
Os cupidinhos.
Vences a Vênus,
Quando com arte
As armas toma,
Porque mais prenda
Ao fero Marte.
Eu produzia
Estas ideias
Quando, Marília,
O som escuto
De vis cadeias.
Dou um suspiro,
Corre o meu pranto;
E inda bebendo
Lágrimas tristes
De novo canto:
Sou da constância
Um vivo exemplo:
E vós, ó ferros,
Honrareis inda
De Amor o Templo.