Memórias de um pobre diabo/Segunda Parte - Capítulo 1
Devo muito ao Rio de Janeiro, não é por estar na sua presença.
Ha um sentimento que eleva o cão acima de muitos homens: o reconhecimento do bem que se lhe faz.
Verdade, verdade; por esse lado, corro parelhas com a parentella de Pythagoras, cada vez mais numerosa, apezar das bolas.
Quando cheguei a esta capital, contava ella apenas seis peccados mortaes; dias depois, prefazia o numero dos indicados na cartilha.
Não vim prefazer o setimo, como já pensaram; foi o ministerio n. 7, que se criou depois da minha chegada.
De haver a minha estrella influido para essa criação, é que não é nenhum juizo temerario, caipora depois de mim, só eu mesmo.
Isto não é politica.
Lembro-me que o programma do Camarão rematava assim (vide esse periodico n. 1, I.ª colum. ultimas linhas).
«Não somos politicos; a politica é uma escada; os tolos são os degráos por onde os ladinos sobem....»
Bem bonita definição.
«Não somos tão tolos, continuava a rezar o programma, que de nós deixemos fazer degráos, nem tão ladinos que queiramos subir.»
Linda epigraphe para a testa de um jornal intitulado O modesto.
E, pois, nunca fui tão tolo nem tão ladino, isto é, politico.
O que eu aspirava ex-corde, dos seios da alma, como hoje dizem, dando a alma a propriedade de amas de leite, era ser literato.