Memórias de um pobre diabo/Segunda Parte - Capítulo 4
Já se achava quasi finda a impressão do primeiro volume, quando em um bom dia recebi este bilhete traçado a lapis:
«Illm. Sr.—Vou suspender a impressão das suas poesias, até que V. S. satisfaça a importancia de 113$500 das ultimas folhas impressas.»
Subi ás nuvens. O recadinho vinha escripto no reverso da prova de uma das minhas mais mimosas poesias.
Tomei a penna e desanquei o recado com esta resposta:
«Illm. Sr.—Que eu deva não admira, todos os autores celebres têm contrahido dividas com a imprensa, e sabem todos que a machina inventada por Guttemberg não é simplesmente machina de imprimir, é tambem machina de abonar o credito dos homens. O que, porém, admira até os calcanhares é um sectario de Guttemberg menospresar a seiva, digamos assim, de que se nutre a imprensa, isto é, os fructos da intelligencia. V. S. é um renegado, queira perdoar. Commetteu crime de leza-literattura-nacional traçando o seu recado nas costas, digo, no reverso da prova da minha poesia intitulada a Piroga! Suspenda, portanto, a continuação da impressão do meu volume, até minha segunda ordem.»
Levou a lição!