Memórias de um pobre diabo/Segunda Parte - Capítulo 6

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—E' como conto, tornei interrompendo o silencio, devo cento e treze mil e quinhentos réis e não possuo um real para chamariz dos outros.

—A quem deve?

—A' typographia onde estou imprimindo as minhas poesias.

—Vossê ha de ter algum amigo, que lhe empreste essa quantia, nem por isso é grande.

—Empresta-m'a o padre?

—Eu? pobre de mim! Meu caro, nós os padres não ganhamos, como vulgarmente se pensa, mundos e fundos. Quantas vezes tenho, em vez de encommendar á Deus, encommendado ao diabo algumas almas... uma encommendação por dous mil réis só feita ao diabo! Já não se póde viver nesta côrte, acredite-me, encommendando; e por fallar nisto, vou vêr se fallo ao vigario capitular, quero conseguir ao menos, a nomeação de vigario encommendado. Até breve, meu poeta. Tomára já vêl-o em outra posição.

E sahio.

E que me dizem?...