Meu Capitão dos Infantes
1Meu Capitão dos Infantes,
que por vossas boas artes
sois homem de muitas partes
nascendo só em Abrantes:
por vossos ditos galantes,
discretos, e cortesãos,
e por largueza de mãos
a todos nos pareceis
não somente João dos Reis,
senão o Rei dos Joãos.
2O Príncipe, que de juro
senhoreia os corações
(como lá disse Camões)
que sois vós, o conjeturo:
tanto nisto me asseguro,
que em ver como procedeis,
presumo, que descendeis
dalgum Príncipe da França
donde tendes por herança
esse apelido dos Reis.
3A boa arte de reinar
em um coração rendido,
e não seres vós nascido,
não se pudera imitar:
vós nos podeis ensinar
com paridades, e apodos
os bons meios, e os bons modos,
com que todo o mundo embaça,
porque sempre estais de graça,
por fazeres graça a todos.
4O generoso da mão,
o coração varonil,
onde vos cabe o Brasil,
vos sobeja o coração:
com pobres a compaixão,
cos ricos o liberal,
na amizade tão leal,
na palavra tão muciço
para mim tudo é feitiço,
sendo cousa natural.