Meu anjo

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Meu anjo tem o encanto, a maravilha
Da espontânea canção dos passarinhos...
Tem os seios tão alvos, tão macios
Como o pêlo sedoso dos arminhos.
 
Triste de noite na janela a vejo
E de seus lábios o gemido escuto...
É leve a criatura vaporosa
Como a frouxa fumaça de um charuto.
 
Parece até que sobre a fronte angélica
Um anjo lhe depôs coroa e nimbo...
Formosa a vejo assim entre meus sonhos
Mais bela no vapor do meu cachimbo.

Como o vinho espanhol, um beijo dela
Entorna ao sangue a luz do paraíso...
Dá morte num desdém, num beijo vida
E celestes desmaios num sorriso!
 
Mas quis a minha sina que seu peito
Não batesse por mim nem um minuto,...
E que ela fosse leviana e bela
Como a leve fumaça de um charuto!