Minha Mãe (Machado de Assis)

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(Imitação de Cowper)


 

Quanto eu, pobre de mim! quanto eu quisera
Viver feliz com minha mãe também!
 
C. A. DE SÁ




Quem foi que o berço me embalou da infância
Entre as doçuras que do empíreo vêm?
E nos beijos de célica fragrância
Velou meu puro sono? Minha mãe!
Se devo ter no peito uma lembrança
É dela que os meus sonhos de criança

        Dourou: — é minha mãe!
 
Quem foi que no entoar canções mimosas
Cheia de um terno amor — anjo do bem
Minha fronte infantil — encheu de rosas
De mimosos sorrisos? — Minha mãe!
Se dentro do meu peito macilento
O fogo da saudade me arde lento

        É dela: minha mãe.
 
Qual anjo que as mãos me uniu outrora
E as rezas me ensinou que da alma vêm?
E a imagem me mostrou que o mundo adora,
E ensinou a adorá-la? — Minha mãe!
Não devemos nós crer num puro riso
Desse anjo gentil do paraíso

        Que chama-se uma mãe?
 
Por ela rezarei eternamente
Que ela reza por mim no céu também;
Nas santas rezas do meu peito ardente
Repetirei um nome: — minha mãe!
Se devem louros ter meus cantos d’alma
Oh! do porvir eu trocaria a palma
        Para ter minha mãe!